Sempre considerei "Pois é" uma das grandes canções da parceria Jobim/Buarque. "Perdoando Deus", da Clarice, também é, para mim, um dos maiores contos da literatura mundial. Pois é, escolhi justamente essa canção e um fragmento desse conto para figurararem neste espaço junto com um poema (pretensão!) que escrevi lá pelos idos de 1996. Recentemente, mexendo em velhos "guardados", tirei a poeira da memória e das gavetas, resolvi criar coragem e o "Enregelado" está aí, bem ao lado de Buarque, Jobim, Clarice e Elis. Quanta ousadia minha! Espero que gostem.
POIS É
Tom Jobim / Chico Buarque de Hollanda
Pois é
Fica o dito e o redito por não dito
E é difícil dizer que foi bonito
É inútil cantar o que perdi
Taí
Nosso mais-que-perfeito está desfeito
E o que me parecia tão direito
Caiu desse jeito sem perdão
Então
Disfarçar minha dor eu não consigo
Dizer: somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim
Enfim
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação
Pois é, e então...
Hollanda, Chico Buarque. Tantas palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
"(...) Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. (...)"
Fragmento do conto "Perdoando Deus", de Clarice Lispector
ENREGELADO
Fábio Brito
Somos, agora, a situação evitada,
o recuo da porta,
a insônia constante,
o andar combalido,
o olhar meio longe,
o coração muralhado,
o cansaço incessante,
o desamparo dormente,
os atalhos urgentes,
o embaraço na voz,
o retiro apressado,
o silêncio forçado,
o apego arrastado,
o sossego procurado.
Somos a roldana
no poço seco.
Somos o grande blefe.
Hmmmmmm que poema lindo, Fábio! Não acho ousadia nenhuma figurá-lo entre os grandes! Quando eu crescer quero ser igual você! Adorei =D
ResponderExcluirMuito lindo e adorei ver o poema e essa musica aqui! abraços,chica
ResponderExcluirFábio, que maravilha de postagem; não ficou a dever nada aos seus vizinhos de obra. -rs
ResponderExcluirSeu poema é excelente, para mim. Trás todo o tédio, repetição, a fadiga do indivíduo exausto.
Adorei; abração.