terça-feira, 10 de maio de 2011

A ETERNA 'ENAMORADA DO SAMBA'



Beth Carvalho teve a ousadia de privilegiar o samba da melhor qualidade. Gravou o melhor do gênero e nunca se deixou levar por apelos de um mercado perverso e segregador. Jamais descaracterizou sua carreira, como muitas o fizeram. Fez sua opção e seguiu em frente, impávida. Resistiu bravamente e levantou a bandeira do bom e adorado samba. Faz sucesso até hoje, com mais de quarenta anos de carreira. Beth é a prova de que, mantendo a coerência, não é difícil permanecer no mercado, mesmo com tantas pressões contrárias. Gravou todas as pérolas de Nelson Cavaquinho, seu preferido, como ela mesma já declarou, e de Cartola, outro mestre entre os mestres. Em Nome sagrado, homenagem ao Nelson, impossível deixar de falar em A flor e o espinho, cujos versos, em especial os dois primeiros, estão entre os mais bonitos da MPB de todos os tempos: “Tire o seu sorriso do caminho / Que eu quero passar com a minha dor / Hoje pra você eu sou espinho / Espinho não machuca a flor / Eu só errei quando juntei / Minha alma a sua / O sol não pode viver perto da lua (...)”. A gravação, encantadora, contou ainda com o auxílio luxuoso da flauta de Altamiro Carrilho. “Passando em revista” a carreira de Beth, a impressão que se tem é de que ela escolheu minuciosamente tudo o que gravou. Pescou sambas com letras e melodias muito bem elaboradas. Beth é dona de um repertório coerente e irretocável. Adoro, por exemplo, a letra de Antes ele do que eu, de Paulinho Soares [“(...) Nosso amor não resistiu / Aos assédios da traição / Lá um dia ele ruiu / Mas deixou uma lição / Que as pessoas têm seus preços / Tabelados por seus atos (...)]. Dá vontade de dizer para muita gente que “as pessoas têm seus preços tabelados por seus atos”, não dá? Voltando ao início da carreira, quem é capaz de esquecer Andança, de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Maurício Tapajós? Olhe que beleza: “Já me fiz a guerra / Por não saber / Que esta terra encerra meu bem querer / E jamais termina meu caminhar (...)”. Não há quem não conheça essa canção. E é bom dizer sempre que Beth Carvalho foi quem a imortalizou. “A César o que é de César”. Não esqueçamos. A voz de Beth é impecável. Não faltam ritmo e afinação a essa dama do samba. Palmas para Beth Carvalho!  

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