quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

LANÇANDO MUNDOS NO MUNDO




LIVROS
Caetano Veloso
Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los de amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lança-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou – o que é muito pior – por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras

Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas
 (VELOSO, Caetano. Letra só. Organização: Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.) 

LANÇANDO MUNDOS NO MUNDO

Por Fábio Brito

Para Ériton Cozendey Regino de Amarins

Não faz muito tempo, resolvi presentear alguns alunos que muito admiro com livros. Não vejo presente melhor. Um deles, pouco tempo depois, enviou-me este ‘torpedo’: “Tenho 32 anos, professor, e adoro (amo) ler. E sempre pensei comigo mesmo: ‘Poxa, se eu gosto tanto de ler, e sabem disso, por que nunca me presentearam com um livro? Vá saber! Você foi o primeiro, logo será o inesquecível! Muito obrigado! Mas veja bem: pense no meu ‘muito obrigado’ e na minha gratidão elevados à milésima potência.” Fiquei comovido com a mensagem. Fiquei mais comovido ainda com o "caso de amor" que esse aluno tem com os livros. Não há outra explicação: com os livros, o que temos é um caso de amor. E amor transcendente.
Pois bem, esse caso de amor me fez lembrar outro episódio: há uns dias, no setor infantojuvenil de uma grande livraria (grande porque o espaço físico é imenso!) de nossa capital, eu procurava alguns livros para presentear algumas crianças (que tarefa árdua encontrar bons livros infantojuvenis! Na  tal livraria, havia de tudo: livro-ursinho, livro-cachorrinho, livro-boneca... só não havia livro-livro).  A meu lado, uma garotinha com uns cinco, seis anos também procurava livros. Ou, pelo menos, estava curiosa diante das estantes. Com avidez, ela e eu mexíamos em tudo o que havia nas prateleiras. Para meu espanto, em dado momento, sua mãe, impaciente, disse-lhe o seguinte: “ – Vamos, filha, procurar um presente para você. Aqui só ‘tem’ livros”. Respirei fundo... não havia  nada que eu pudesse fazer naquele momento. Pensei em resmungar algo, mas, prudentemente, fiquei "na minha". Incrível! Levamos uma vida inteira sensibilizando (até catequizando, em alguns casos) alunos para a leitura e, em certo dia, temos de ouvir alguém dizer que “livro não é presente”. Santo Deus, o que direi a todas as pessoas que, até hoje, deram-me livros como presente de aniversário ou de Natal, por exemplo? 
Bom, depois dos episódios envolvendo a garotinha da livraria (e sua "boa" mãe) e o aluno fascinado por livros, pensei no seguinte: de um lado, temos uma pessoa que, extremamente sensível, mostra seu fascínio pelos livros, daí seu agradecimento entusiasmado, o que demonstra sua paixão incondicional; de outro, uma “mãe-perua”, fútil e vazia, que desvia a criança do melhor caminho: o da literatura, que é, citando a escritora Adélia Prado, salvífico, embora essa “boa” mãe não saiba. Deus meu, que mundo paradoxal! Por que é sempre tão difícil fazer as pessoas entenderem que leitura (principalmente a de livros literários) é essencial para tudo na vida, principalmente para que nos tornemos pessoas melhores? A leitura literária é fundamental para que não deixemos morrer nosso lado mais humano, mais delicado, mais gentil, mais nobre, mais requintado  e mais elegante. É fundamental para que continuemos (ou comecemos) a pensar. É... pensar mesmo! Se o homem não quer pensar, ele está negando exatamente o que o distingue dos outros animais! Essa mãe (pobre mãe!) deve achar que a salvação virá por meio das futilidades que o mundo nos oferece a todo o instante. Talvez ela ache que virá da roupa e da bolsa “de marca” que ela certamente ostentava no instante em que a vi. Enfim, essa “boa” mãe deve achar que educa bem os filhos, afinal ela foi a escolhida por um pai para ser “a mãe da prole com que ele tanto sonhou”. Analisando esses dois casos, o da garotinha e sua mãe e o do aluno apaixonado por livros, acredito cada vez mais no fato de que as pessoas que gostam de leitura e de literatura são, no mundo de hoje, ETs. Será que este mundo é meu? Não deve ser. Tenho certeza de que não é... e faz um bom tempo.
Lembrei-me, então, do poder encantatório que, para mim, os livros sempre tiveram. Ainda bem pequeno, com seis anos, antes mesmo de ser alfabetizado (noutras épocas, alfabetizava-se mais tarde), fui “ouvinte”, como se dizia, de uma escola que, durante um tempo, funcionou num espaço que ficava nos fundos de minha casa (porque o prédio da única escola que havia no bairro estava ameaçado de desabamento, meus pais cederam esse espaço de nossa casa para o funcionamento temporário da escola, que eu adorava).  Assistindo às aulas (oficialmente, eu não era aluno) nessa escolinha, como a chamávamos, ganhei da professora Nívea, talvez por causa de meu evidente interesse pelas aulas, meu primeiro livro: “Bebé, o carneirinho chorão”. Mesmo sem saber “decodificar os signos” (eu já sabia “ler”!), fui entendendo a história do tal carneirinho que não parava de chorar. Ou melhor, fui entendendo “as histórias”: sempre que eu folheava meu presente e, avidamente, olhava as figuras, novas histórias nasciam da cabeça do menino apaixonado por literatura.
Mais tarde, num didático de “Comunicação e Expressão”, já na terceira série, eis que deparo com “Leilão de jardim”, da Cecília Meireles. Foi paixão à primeira “lida”. Perdi a conta do número de vezes em que li o poema. Daí em diante, sempre foi assim: não só romances me prendiam (“Caçadas de Pedrinho”, do eterno Monteiro Lobato, foi uma das primeiras paixões), mas também o que havia de literatura nos didáticos, sempre folheados para eu catar o que havia de literário ali, antes mesmo de eu (ou minha mãe) encapá-los. E fui crescendo junto com a paixão pelos livros. Entre a 5ª e a 8ª série, por exemplo, lemos muito na escola. Era uma época em que a “Coleção Vagalume” reinou absoluta. E o melhor de tudo era que fazíamos, sim, provas sobre as obras que líamos, mas havia um trabalho de sensibilização para a leitura e para a literatura. Não cumpríamos apenas uma tarefa escolar. O fato de haver uma prova sobre as obras era, para mim, o que menos importava. A “viagem” era o mais importante. Ser “transportado” para o mundo das histórias que eu lia era o melhor de tudo. Lembro-me, por exemplo, de vibrar com a leitura de “A ilha perdida”: eu não queria parar de ler aquela história. Lembrando a narradora de “Felicidade Clandestina”, um dos mais famosos contos da Clarice Lispector, eu retardava, sim, a leitura, só para não chegar ao fim. Eu tinha pena de que aquele prazer acabasse. E o vazio que viria depois? Um detalhe curioso é que, ao fim da leitura de todos os livros, eu anotava num pedacinho de papel (de pão, geralmente) o dia e a hora exata em que eu havia concluído a leitura. Há pouco tempo, folheando alguns desses livros (ainda tenho vários), encontrei meus “bilhetinhos”, que são, hoje, uma preciosidade: a redondinha letra de menino atento e estudioso está ali.
No ensino médio, a paixão pela literatura continuou, embora os professores tenham tido um papel meio apagado no incentivo. Sem problemas! A semente, lançada lá atrás, não havia caído na pedra. Praticamente sozinho, foi à cata de minhas paixões literárias: descobri os poetas, em especial Drummond e Bandeira, e os contistas/romancistas, como Fernando Sabino, por exemplo. Muitos romances vieram a reboque: “Por quem os sinos dobram” e “O morro dos ventos uivantes” ficaram para sempre em mim. Com um lápis na mão (mania que conservo até hoje), eu ia grifando os fragmentos que julgava mais importantes. Depois, datilografava-os e, em uma pasta, deixava-os arquivados. Antes, porém, lia-os para os amigos, o que era uma forma de não deixar que a beleza das obras lidas ficasse somente comigo. Era preciso partilhá-la (a beleza) e partilhá-las (as obras). Se “belezas são coisas acesas por dentro¹”, como dizem Jorge Mautner e Nelson Jacobina na canção "Lágrimas negras", é preciso que as dividamos. Assim, elas continuarão acesas. Hoje, com o “facebook”, por exemplo, podemos dividir belezas e mais belezas, principalmente as literárias. Pena que muitos ainda não tenham descoberto essa possibilidade. O que sabem fazer – e muito! - é fotografar jantares, churrascos e afins e publicar as fotos.  
Bom, voltemos à literatura. Quando cursei minha primeira faculdade, Ciências Contábeis, fui frequentador assíduo da biblioteca, que, diga-se de passagem, era bem “literária”. Havia várias obras da Nélida Piñon, além de Machado e muitos outros clássicos. Também descobri Adélia Prado e Clarice Lispector nessa época (até hoje, essas senhoras me acompanham insistentemente). “Taí” o porquê de eu não sair da biblioteca da faculdade, tanto que, certa vez, a bibliotecária perguntou-me por que eu retirava tantos livros de literatura se eu cursava Contábeis. Respondi-lhe que, daí a um tempo, quando eu estivesse mais preparado e pudesse aproveitar melhor, eu faria Letras. Foi o que fiz. Quando, enfim, pude cursar o “melhor de todos os cursos”, não perdi tempo: tomei uma superdose literária. Com professores também apaixonados pelo que faziam, não foi nada difícil escolher um caminho que, certamente, seria sem volta: o da paixão literária. Hoje, professor de Letras, venho contaminando meus alunos com um vírus poderosíssimo: o vírus literário. Tenho conseguido, graças aos deuses, ótimos resultados. Muitos de meus alunos e ex-alunos ardem em febre intermitente. A febre literária, que não tem cura. 
Pois bem, com uma febre literária de quarenta e tantos graus, o aluno a quem me referi no início deste texto telefonou para mim, pouco antes de apresentar seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Ele queria saber se poderia incluir em seu trabalho o poema “Livro: a troca”, da Lygia Bojunga Nunes. Disse-me mais: com bastante entusiasmo, ele afirmou que o poema ‘o’ traduz perfeitamente, que o que ali está dito é exatamente o que ocorre com ele. Foi aí que lembrei o seguinte: a paixão pela literatura nasce, principalmente, da identificação. Ou seja, gostamos porque estamos ali, porque somos retratados nas obras que lemos, pelas quais nos apaixonamos e às quais nos entregamos sem volta. Elas, portanto, são nossas também. É como dizem o Milton Nascimento e o Tunai numa das mais belas letras de nosso cancioneiro: “Certas canções que ouço / cabem tão dentro de mim / que perguntar carece: / como não fui eu que fiz?”² Com a literatura, ocorre o mesmo. O bom é que a pergunta não fica sem resposta: não fui eu que fiz exatamente... porque alguém conseguiu ‘me’ traduzir com perfeição. Eu não faria melhor.
          P.S.: Ériton, meu querido, este texto é para você, que me inspirou a escrevê-lo. Se, algum dia, muitas “coisas” à sua volta perderem a importância e a cor, ou perderem o sentido, não deixe de salvar a literatura. Não deixe que ela morra em você. Guarde-a no melhor lugar de seu peito. Guarde-a, com muito capricho, em sua alma. Até hoje, não apaguei seu torpedo de meu celular. Nem vou apagá-lo. Em minha vida, poucas vezes vi alguém tão apaixonado por literatura como você. Choro no momento em que digo isso, mas choro de felicidade, porque sei que estou deixando 'descendentes'/discípulos. Tenho certeza de que minha paixão pelos livros terá vida longa. Terá muitas outras vidas. Terá infinitas vidas. Obrigado, meu amigo, muito obrigado. D. Ísis, Beatriz e Ana Rita também agradecem. Um beijo imenso.
¹ CD: Gal Costa. “Cantar”, Universal, 73145102222, 2010 (LP 1974).
² CD: Milton Nascimento. “Ãnima”, PolyGram, 813.296-2, 1997 (LP 1982).



O LIVRO E A AMÉRICA
Ao grêmio literário
(...)
Filhos do séc’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão
O livro – esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dosventos
Donde a Igualdade voou!...

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O séc’ulo que viu Colombo
Viu Gutenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto –
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.
(...)

(ALVES, Castro. Literatura comentada – Castro Alves. 2ª edição. São Paulo, Nova Cultural, 1988.)
“(...) Porque, como se pode viver sem a leitura? Deixar de escrever pode ser a loucura, o caos, o sofrimento; mas deixar de ler é a morte instantânea. Um mundo sem livros é um mundo sem atmosfera, como Marte. Um lugar impossível, inabitável. De maneira que muito antes da escrita vem a leitura, e nós romancistas somos leitores derrubados e transbordados por nossa fome ansiosa de palavras. Há pouco tempo ouvi em Gijón a escritora argentina Graciela Cabal falar em público, numa intervenção engraçadíssima e memorável. Veio dizer (mas ela se expressa melhor do que eu) que um leitor tem uma vida muito mais longa que as outras pessoas, porque não morre antes de acabar o livro que está lendo. Seu próprio pai, explicava Graciela, tinha demorado muitíssimo a falecer, porque o médico vinha visitá-lo e, balançando tristemente a cabeça, afirmava: ‘Dessa noite não passa’; mas o pai lhe respondia: ‘Não, nada disso, não se preocupe. Não posso morrer porque tenho que terminar ‘O outono do patriarca’. E assim que o galeno saía, o pai falava: ‘Tragam um livro mais grosso’.
- Enquanto isso, não paravam de morrer colegas de papai que estavam saudabilíssimos, por exemplo um pobre homem que foi ao médico fazer um check-up e não saiu mais – continuou Graciela.
- É que a morte também é leitora, por isso recomendo ter sempre algum livro na mão, porque assim quando a morte chega e vê o livro, se espicha toda para ver o que você está lendo, como eu faço no ônibus, e então se distrai. (...)”

(MONTERO, Rosa. A louca da casa. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.)

LIVRO: a troca

Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena
os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo;
em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada;
inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá
dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto
olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois,
decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto
mais íntima a gente ficava, menos eu ia me lembrando
de consertar o telhado ou de construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava
a minha imaginação.
Todo o dia a minha imaginação comia, comia e comia;
e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no
mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu,
era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca
tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas -
é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no
livro, mais ele me dava.
Mas como a gente tem mania de sempre querer mais,
eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar
tijolo pra - em algum lugar - uma criança juntar com
outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

NUNES, Lygia Bojunga. Livro: um encontro com Lygia Bojunga Nunes. 2ª edição. Rio de Janeiro: Agir, 1990.

 

4 comentários:

  1. Seu excepcional ou "kooraxiano" texto comoveu-me às lágrimas, queridíssimo. Por outro viés, fez-me lembrar de "A última crônica" do Fernando Sabino, que não consigo lê-la sem "maravilhemocionar-me " como diriam os lusitanos:imenso.
    Posso garantir que, muito mais do que as sessões de psicanálise, a leitura de obras seminais, tanto literárias quanto filosóficas, salvaram-me de muitas prisões existenciais. Através delas descobri que sou demasiado humano e apenas mais uma solução da natureza e não um problema. Minhas dúvidas mais perturbadoras foram sanadas através de leituras salvíficas, mas continuo, como pretenso bom observador, duvidando de quase tudo e todos rsrs.

    Se "os livros servem para curar o espírito, e as bibliotecas são “farmácias da alma”, ato contínuo, vejo, sinto e afirmo que existe uma enorme diferença (não no que tange ao caráter) entre as pessoas que lêem (de preferência os clássicos da literatura pelas suas permanências utilitárias e universalizações) e as que não gostam de ler ou não praticam o ato de ler, que considero, com convicção íntima, o melhor esporte para a vida íntima.Uma biblioteca é uma academia de malhação para o espírito.

    Como nos comunicamos quase sempre através da linguagem falada e escrita, nada como um bom livro para ampliar ou expandir ou enriquecer esta comunicação, afinal, como vaticinou o Ludwig Wittgenstein:" os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo".

    Os raros privilegiadíssimos que gostamos de ler, não somos ET's (diria que somos ovelhas nigérrimas rsrs). Na verdade, somos honrosas exceções, afinal, de acordo com o Drummond "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede". Por conta desta lamentável verdade, o Quintana disse: "Os verdeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem", ou, então: "Livros não mudam o mundo. quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas" e um bocadinho mais de "quintanice": "Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente...e não a gente a ele". Para o filósofo Cícero, "Uma casa sem livros é um corpo sem alma". Do grande Borges:"Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria". Considero assertivo o conselho do Kafka:"Apenas deveríamos ler os livros que nos picam e que nos mordem.Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo?".E a Marguerite Duras evidencia a salvação pela leitura:"Caminhais em direção da solidão...Eu , não, eu tenho os livros".

    Desculpe...você mexeu tanto comigo e no melhor sentido possível, que terei de exauri-lo com dois enfadonhos rsrs comentários.

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    1. Marcos, meu lindo amigo, que prazer imenso ler seus comentários! Li-os várias vezes seguidas. Obrigadíssimo, meu querido, por tudo: por sua luminosa presença, por sua sensibilidade, por sua elegância, por sua delicadeza, por seu amor aos livros. Obrigadíssimo pelas citações. Um beijo imenso... na alma.

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  2. Dando prosseguimento , então, à saga "marcosluciana" rsrs.

    Ainda acredito, ontologicamente e cada vez mais, nesta máxima:"Ad maiora natus sum". Os maiores (não os únicos) facilitadores/fertilizadores para este processo evolutivo, são os livros.Principalmente os livros espelhos que refletem nossas alminhas sedentas de absoluto.Não fosse por isto, ou se não nascemos para as coisas mais elevadas, não veria sentido ou estímulo para estar vivo.

    Como não deixei dúvida alguma sobre a importância radical da boa leitura para as idéias, reflexões e enriquecimento interior, não poderei deixar de reproduzir, da magnífica encantadora de palavras - a vertiginosa Clarice, que julgo a mais singular, orgânica , caleidoscópica (por autodefinição) e epifânica escritora de que tenho notícia (ou seria aquela que mais altera meu estado de (in)consciência?) - um excerto de "Felicidade clandestina", que atesto como a mais justa e bela homenagem que li, até agora, aos imprescindíveis e melhores amigos: os livros:
    "Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante".

    Se você abriu os trabalhos blogueiros , neste ano que se inicia, em tão alto estilo e com tamanha esplendidez, intuo que este poderá ser o melhor ano da sua vida, e, assim, sucessivamente, até o ano 3.018 rsrs, oxalá, "santé" e axé!!
    Forte e carinhoso abraço, beijaços e obrigado pelas vastas emoções proporcionadas/despertadas.

    P.S. Há um erro de digitação maculando a beleza inquestionável do seu post:"pelas quais nos APAIXONADOS (seria apaixonamos) e às quais nos entregamos sem volta."

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    1. Pois é, meu querido, fiz questão de abrir 2015 com um texto sobre a paixão pelos livros... para dar SORTE mesmo. Mais uma vez, muito obrigado, meu "amigo-amante-das-palavras-e-da-boa-música". Para mim, é uma honra tê-lo por perto. Beijão.

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