quarta-feira, 30 de setembro de 2015

POLÊMICA POBRE, BRIGUINHA, DESACATO




                 
PARECE QUE BEBE
Itamar Assumpção


Você parece que não sei
Diz tanta coisa que eu vou te contar
Olha pensando bem cala-te boca
E tum e tal e cousa e lousa
Sempre a mesma lenga-lenga
A mesma transa o mesmo tchans
E "zás e trás" tá louco fica só naquela
E fica nessa sei lá maior comédia
O que é isso logo pra cima de moi
Tô por aqui ó sai fora disso
Parece que bebe parece que sei lá
  


   POLÊMICA POBRE, BRIGUINHA E DESACATO


   Por Fábio Brito



             O que é argumentar?, perguntei, dias atrás, a alunos. Afirma-se, grosso modo, que é fazer afirmações e sustentá-las com informações. Simples assim? Não! Argumentar vai além: é preciso saber como se defende uma ideia, como se desenvolve um raciocínio, como se demonstra, como se fundamenta, como se exemplifica. Tudo visando ao convencimento do interlocutor.
            Nesse “conceito” de argumentação, eis uma palavrinha importante: informação. Hoje, em pleno século XXI, como anda o acesso a essa tal informação? Que informações as pessoas estão selecionando? O que estão fazendo com essas informações? Raciocinemos: se o fato de ter a informação (ou a facilidade de acesso a ela) é um dos itens para a construção de argumentos, espera-se que, nestes tempos, quando não se precisa correr atrás das tais informações, as pessoas consigam argumentar mais, não é mesmo? Nada disso! Ledo engano. Não é bem assim que caminha a humanidade. Já caminhou assim, mas faz “muito tempo que caminha de "outro jeito". E ponha “muito” tempo nisso!
            Dias atrás, num seminário sobre práticas de leitura e escrita, um colega questionou-me acerca da “demonização” do celular (encabeço a lista dos “demonizadores”). Ele me disse que podemos inverter essa história toda e fazer do celular (e da Internet) um aliado para a garimpagem de informações. Eu lhe disse o seguinte: podemos, sim, mas o problema é como fazer isso, uma vez que a maioria, quando usa o celular (e usa durante 24 horas), só quer saber de bobagem. Ou seja, não vejo solução a não ser “demonizar” mesmo. Se, de fato, muita gente está lendo no celular, por que o nível de escrita não melhora? Só piora! Afirmo, constato e comprovo isso. E não preciso esforçar-me muito para chegar a essa constatação.
Um dado estarrecedor desmonta o raciocínio de que as pessoas estão argumentando mais por causa das novas tecnologias: andam selecionando apenas bobagens e sandices, como afirmei. A maioria (não nos assustemos!) das pessoas é fútil e vazia. Pronto! Não existe prova melhor para a incapacidade de argumentação. É evidente que, hoje e como nunca, as informações vêm a nosso encontro: entram pela greta da porta, pela fresta da janela, pelo telhado. Com todas as suas inutilidades e com algo que, vasculhando bem, pode ser aproveitado, a Internet está aí. Todavia, o problema está na seleção do que é veiculado. Se só ‘se’ leem bobagens, como fica – volto a perguntar - o nível argumentativo de quem “só lê bobagem”? A nota máxima não passa de zero. Se o indivíduo tem de argumentar, mas não sabe como, o que ele vai fazer? Buscará apoio, obviamente, no consenso geral, na ‘voz geral corrente’, no ‘discurso anônimo do senso comum’, na voz de todos que, em verdade, é a de ninguém.
Ter apenas a voz do outro como suporte é, como se sabe, precário à beça, exatamente porque isso significa abdicar da própria opinião. A criatura transforma-se, então, em papagaio de realejo e apenas repete. Repete, principalmente, o que diz o apresentador do grande telejornal, repete o que dizem as estrelas da TV (as que não têm nada a dizer, é evidente!). Resumo da ópera: as pessoas repetem o que, de modo geral, é ditado (ou “normatizado”) pela mídia, que manipula descaradamente (só não enxerga quem não quer). O resultado é o que se poderia esperar de pior: as pessoas “vão na onda”. Saem por aí dizendo somente algo sem consistência e sobre quaisquer assuntos”. Quando se trata de política, então, saem espancando, linchando e matando. Pura tirania, que nasce exatamente do “ir na onda”, da ignorância, da falta de argumentos. Nem querem saber. Não apuram, não investigam. Apenas vão atrás do que “ouviram dizer”.
 Vá ao facebook, por exemplo, e constate. Polêmica pobre, desacato e briguinha dão o tom da maioria das conversas/discussões que se desenvolvem nesse espaço. E os que apelam para o emocional? Dispensam comentários. Dizem que todos são bons, que querem justiça social e mais não sei o quê. Raras são as pessoas que conseguem discutir com seriedade algum assunto relevante. Não faz muito tempo, no “Twitter”, um conhecido ator ousou dizer que os idiotas nunca se expressaram tanto como nos tempos atuais. “Vixe”! O que não faltou foi pedrada. Ele, o ator, desistiu do “Twitter”. É isso aí! Ele disse mentira? Claro que não! E alguém, por acaso, aceita que digam o que ele disse? São todos uns filósofos. Deus meu, aonde vamos!




        Narcisismo no "Face"


            Luiz Felipe Pondé 



         Cuidado! Quem tem muitos amigos no "Face" pode ter uma personalidade narcísica. Personalidade narcísica não é alguém que se ama muito, é alguém muito carente.
          Faço parte do que o jornal britânico The Guardian chama de social media sceptics (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado "sombrio" do Facebook (2203-2012).
          Ser um social media sceptic significa não crer nas maravilhas das mídias sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na "história", sou daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte, sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos diante da opacidade do mundo e do tempo.
          As mídias sociais potencializam o que no humano é repetitivo, banal e angustiante: nossa solidão e falta de afeto. Boas qualidades são raras e normalmente são tão tímidas quanto a exposição pública.
          E, como dizia o poeta russo Joseph Brodsky (1940-96), falsos sentimentos são comuns nos seres humanos, e quando se tem um número grande deles juntos, a possibilidade de falsos sentimentos aflorarem cresce exponencialmente.
          Em 1979, o historiador americano Christopher Lasch (1932-94) publicava seu best-seller acadêmico "A Cultura do Narcisismo", um livro essencial para pensarmos o comportamento no final (sic) de século 20. Ali, o autor identificava o traço narcísico de nossa era: carência, adolescência tardia, incapacidade de assumir a paternidade ou maternidade, pavor do envelhecimento, enfim, uma alma ridiculamente infantil num corpo de adulto.
          Não estou aqui a menosprezar os medos humanos. Pelo contrário, o medo é meu irmão gêmeo. Estou a dizer que a cultura do narcisismo se fez hegemônica gerando personalidades que buscam o tempo todo ser amadas, reconhecidas, e que, portanto, são incapazes de ver o "outro", apenas exigindo do mundo um amor incondicional.
          Segundo a pesquisa da Universidade de Western Illinois (EUA), discutida pelo periódico britânico, "um senso de merecimento de respeito, desejo de manipulação e de tirar vantagens dos outros" marca esses bebês grandes do mundo contemporâneo, que assumem que seus vômitos são significativos o bastante para serem postados no "Face".
          A pesquisa envolveu 294 estudantes da universidade em questão, entre 18 e 65 anos, e seus hábitos no "Face". Além do senso de merecimento e desejo de manipulação mencionados acima, são traços "tóxicos" (como diz o artigo) da personalidade narcísica com muitos amigos no "Face" a obsessão com a autoimagem, amizades superficiais, respostas especialmente agressivas a supostas críticas feitas a ela, vidas guiadas por concepções altamente subjetivas de mundo, vaidade doentia, senso de superioridade moral e tendências exibicionistas grandiosas.
          Pessoas com tais traços são mais dadas a buscar reconhecimento social do que a reconhecer os outros.
          Segundo o periódico britânico, a assistente social Carol Craig, chefe do Centro para Confiança e Bem-estar (meu Deus, que nome horroroso...), disse que os jovens britânicos estão cada vez mais narcisistas e reconhece que há uma tendência da educação infantil hoje em dia, importada dos EUA para o Reino Unido (no Brasil, estamos na mesma...), a educar as crianças cada vez mais para a autoestima.
          Cada vez mais plugados e cada vez mais solitários. Na sociedade contemporânea, a solidão é como uma epidemia fora de controle.
          O Facebook é a plataforma ideal para autopromoção delirante e inflação do ego via aceitação de um número gigantesco de "amigos" irreais. O Dr. Viv Vignoles, catedrático da Universidade de Sussex, no Reino Unido, afirma que, nos EUA, o narcisismo já era marca da juventude desde os anos 80, muito antes do "Face".
          Portanto, a "culpa" não é dele. Ele é apenas uma ferramenta do narcisismo generalizado. Suspeito muito mais dos educadores que resolveram que a autoestima é a principal "matéria" da escola.
          A educação não deve ser feita para aumentar nossa autoestima, mas para nos ajudar a enfrentar nossa atormentada humanidade. 


Fonte: http://www.paulopes.com.br/2012/04/facebook-potencializa-banalidade-da.html


 


O MUNDO DOS HOMENS ENVOLVE-ME
Cecília Meireles

O mundo dos homens envolve-me,
porém não me abraça.

Eu não tenho nada com a onda,
mesmo que naufrague dentro dela.

Se tu não sentes esta coisa simples que eu sinto,
esta unidade que não se rompe,
mesmo quando compreende e participa...

(Então, ó deuses, de que somos, de  quem somos, quem somos (...)?
 


          TEMPO INCERTO
          Cecília Meireles


 Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não se acredita mais nem na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade, para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Chegamos a um ponto em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de grandiosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiros dos testamentos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos - ou temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiaremos do nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos todos andar de pulga atrás da orelha!
A minha esperança estava no fim do mundo, com anjos descendo do céu; anjos suaves e anjos terríveis; os suaves para conduzirem os que se sentarão à direita de Deus, e os terríveis para os que se dirigem ao lado oposto. Mas até o fim do mundo falhou; até os projetos se enganam, a menos que as rezas dos justos tenham podido adiar a catástrofe que, afinal, seria também uma apoteose. E assim continuaremos a quebrar a cabeça com estes enigmas cotidianos.
No tempo de Molière, quando um criado dava para pensar, atrapalhava tudo. Mas agora, além dos criados, pensam os patrões, as patroas, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. Os pedestres pensam que devem andar pelo meio da rua. Os motoristas pensam que devem pôr os veículos nas calçadas. Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos. Os analfabetos, que deviam aprender, ensinam! Os ladrões vestem-se de policiais, e saem por aí a prender os inocentes! Os revólveres, que eram considerados armas perigosas, e para os quais se olhava a distância, como quem contempla a Revolução Francesa ou a Guerra do Paraguai - pois os revólveres andam agora em todos os bolsos, como troco miúdo. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não é para o diálogo com ou sem palavras, mas a balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é a alma. E o demônio passeia pelo mundo, glorioso e impune.



"Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens, e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos. Meu caro Sinclair, nosso Deus se chama Abraxas e é deus e demônio a um só tempo; sintetiza em si o mundo luminoso e o obscuro. Abraxas nada tem a opor a qualquer de teus pensamentos e a qualquer de teus sonhos. Não te esqueça disso.

"Demian", Herman Hesse




MÃOS DADAS
Carlos Drummond de Andrade


Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente

10 comentários:

  1. A coisa "tá" cada vez mais feia!!! A maioria não quer saber de estudo e nem de se informar!!! Querem mesmo é a exposição... seus 15 minutos de fama!!!

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    1. Fernando, o trem está "pra" lá de feio: está assustador. A imagem é o que interessa... e nada mais. Socorro! Beijos.

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  2. Olá amigo, digo isso e reproduzo em sua página , se conseguir , lógico para que todos saibam, dia desses compartilhei uma desas frases filosóficas que a maioria coloca quando quer mandar um recado, dar uma alfinetada, enfim, se fazer de filósofo no face, eu sou uma delas, tem gente que coloca frase de João com assina tura de Clarice e acha que tá abafando, enfim..., então uma amiga do fece me questionou sobre minha anargaura, claro que entendeu exatamente o que eu quis dizer, e mandou uma par mim na página: releve, ah, não aguentei, aproveitei na hora meus parcos conhecimentos sobre pensadores e disse a ela que , em dicotomia com Decartes ou Descartes, para alguns, sei lá, não sou boa com nomes,Jonh Lock dizia que, sinto, logo existo, enquanto o primeiro, dizia, penso, logo existo, portanto deixaria os pensamentos e re-prensamentos para os filósofos, no face tem muitas frases bonitas , de efeito e até pertinentes para reflexão, mas que surgiram filósofos , acham que mil vezes mais que nos séculos passados isso , por isso este conhecido autor e vc em seu texto disseram exatamente o que está atormentando, é muita filosofia para pouca informação. ignorância não é alienação, conheço intelectuais muito ignorantes porém alienados, aí não vale né? Dá par ir desistindo, o meio de comunicação mais resistente que conheço até hoje é o livro, e a palavra dita face a face, aí sim dá para argumentar ou aproveitar e aprender com quem sabe mais, isso é gesto de humildade sabedoria. Não o que fala , silencie. Parabéns pelo texto. Beijos!

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  3. Teclado horrível, desculpe-me as falhas ortográficas,

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  4. e palavras que faltaram no afã de escrever. Bjs!

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  5. Querida Isabel, que bom "vê-la" por aqui. Precisamos conversar pessoalmente. Pois é, minha amiga, o que mais encontro nas tais "redes sociais" é filosofia de banca de jornal. "Vixe"! Haja paciência com tanta banalidade! Aguento isso não! E as autorias? Clarice, então, virou, como disse o Baleiro, a "sacerdotisa do óbvio". Um beijo, amiga. Obrigado pela visita a este "blog".

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  6. Meu mestre querido....mais uma vez você foi, brilhantemente, de uma honestidade, contundência, e realismo mais do que oportunos, jogando luzes onde poderia haver sombras para alguns desatentos, digamos assim.Só restaria aplaudi-lo e, se juízo eu tivesse, encerrando meu singelo comentário. Adversamente, ou porque prometido, ou porque estou viciado em emitir singelezas em forma de "pitaquices" rsrs, peço desculpas e , em seguida, entorno o grosso e volumoso caldo, então, em dois(!?) posts.Beijão.

    Muito do que você brilhantemente narrou, pode encaixar-se perfeitamente na temática descrita no livro "Sociedade Excitada", do pensador alemão Cristoph Türcke. Ele afirma que o homem moderno vive em uma sociedade da sensação, contaminada por uma espécie de vício por estímulos visuais. Türcke alerta que a televisão, o cinema, a internet e o celular funcionam quase como narcóticos. Segundo ele, os constantes estímulos imagéticos que recebemos trazem consequências semelhantes às do vício de um dependente químico, afastando as pessoas do exercício da sensibilidade. Talvez por isso seja tão comum -e meio patético, ou, melhor: patológico - vermos grupos de pessoas à mesa, em um restaurante, quase todos mexendo em seus celulares e interagindo muito pouco entre si. Com as redes sociais, somos capazes de fazer 2 mil amigos em poucos meses. Amigos? De verdade? Segundo Leandro Karnal, alguém que se sente compelido a postar no Facebook, no Instagram ou em uma dúzia de grupos de WhatsApp a foto daquilo que comeu, da paisagem que mal percebeu, da igreja ou do museu nos quais nem sequer entrou, talvez esteja muito ocupado para absorver o que seus milhares de amigos postaram do lado de lá. Nessa toada, muita gente só tem tempo de ler manchetes nos sites de notícias, sem margem para mergulhar fundo em nenhuma delas. Mesmo assim, forma-se opinião muito rapidamente sobre quase tudo. E, armados da sensação de que todos estão interessados em nosso posicionamento, saímos espalhando pelas redes nossa percepção apressada, muitas vezes superficial e não raro manipulada por outras pessoas. Abreviamos a gramática, enviamos mensagens telegráficas, nos expressamos de maneira tão econômica que nos dá a falsa impressão de que todos já nos entenderam. Na realidade, nossos interlocutores podem estar ocupados apenas em postar suas verdades. Por isso, não é raro postarmos alguma coisa que julgamos bastante interessante e nossos amigos virtuais responderem apenas com um “kkkkkkk”, quando não com um emotion sorridente ou um lacônico sinal de positivo!

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    1. Marcos, meu querido, que comentário excelente! Ótima a dica acerca do livro "Sociedade excitada". Já anotei. Lembrei-me de outro livro que li há uns meses: "A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo", do Gilles Lipovetsky, um filósofo francês. Excelente essa obra, amigo. Lembrando um fato: outro dia, em entrevista a um programa de TV, um cantor disse que certas (para mim, são muitas) pessoas vão aos "shows", mas não "aproveitam o momento". Elas passam o tempo todo fotografando ou filmando. E o pior: quando chegam a casa, não veem o que filmaram ou fotografaram. Ou seja, foram ao "show" com que finalidade? Em qualquer evento é assim. Em formaturas, por exemplo, muitas pessoas não ouvem os discursos, uma vez que só estão preocupadas com as fotos e as filmagens. Socorro! No "face", como você citou, "postam" bobagens e mais bobagens. Ah, Leandro Karnal é extraordinário. Obrigado mais uma vez, meu amigo, pelas palavras generosas quanto ao texto que produzi. Um beijo grande.

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  7. E...continua a saga...desculpe a verborragia rsrs.
    Muita gente expressa-se em alta velocidade com mensagens de baixa importância. É como se gritássemos para sermos observados. Uma pergunta interessante seria: alguém está, de fato, nos ouvindo? O cenário parece ser o de uma sociedade que vive sob o domínio do espetacular. Quem está fora da santa trindade “celular, televisão e computador”, conectado via redes sociais, para muita gente equivale a um morto. Concluo que sou quase morto, pois celular não possuo e telê não vejo rsrs. Segundo Türcke, vivemos uma espécie de “penúria por abundância”. Inundamos a sociedade com coisas que ela não tem condições de absorver. Nesse mundico virtual, terceirizar a culpa é uma arte. Produzir frases agressivas pode destacar alguém na multidão. Coerência nem sempre é considerada indispensável. Apontar inimigos é fundamental. Culpa da tecnologia? Claro que não. Ela é apenas um instrumento que trouxe melhor acesso a uma porção de coisas, que poderia quase sempre promover mais conhecimento, mais diálogo, mais interação. Mas, cá entre nós, não é o que predomina nas redes. Em vez de diálogos, parece que temos mesmo é uma sucessão de monólogos intercalados e muita bobagem.O mais comum é correr para o Facebook para postar uma colagem do pensamento de algum autor – muitas vezes desmascarado, com veemência, como o legítimo pai daquela idéia, pelos raros que possuem cultura relevante –, contando com a superficialidade de seus seguidores. Com muita sorte, pode ser que alguém da sociedade excitada responda com um “kkkkkkk”. Ou com um “rsrsrs”. Ou com um eloquente sinal de positivo. "E la nave va".

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    1. Marcos, ótimo isto: "Quem está fora da santa trindade 'celular, televisão e computador', conectado via redes sociais, para muita gente equivale a um morto". Pego carona no que disse nosso Manoel de Barros: sou (somos) um primitivo, meu amigo. Disse inúmeras vezes e repito: adoro o fato de você não ter celular! Como dizem os mineiros, "ponha reparo nisto": é comum, de uns tempos "pra" cá, as pessoas perguntarem "qual meu WhatsApp" (é assim que se escreve esse "trem"?). Estão certas de tenho esse troço. É mole? Tenho não, meus amores. Não tenho, nunca tive, não terei... Ah, outro ponto ótimo em que você tocou: a questão da autoria do que publicam por aí. Deus meu! Sem comentários. Mais uma vez, muito obrigado, querido amigo, pela visita a este "blog". Obrigado por tudo. Um beijo grande. Mil beijos.

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