quarta-feira, 8 de junho de 2011

ÍNDIOS



"Quem me dera, ao menos
  uma vez,
  Que o mais simples fosse visto
  Como o mais importante,
  Mas nos deram espelhos
           E vimos um mundo doente"        
Renato Russo



O QUE SE ODEIA NO ÍNDIO
Reynaldo Jardim 


O que se odeia no índio

não é apenas o

espaço ocupado.

O que se odeia no índio

é o puro animal que nele habita.

O que se odeia no índio

é a sua cor em bronze arquitetada.

A precisão com que a flecha voa e abate a caça;

o gesto largo com que abraça o rio;

o gosto de afagar as penas e tecer o cocar;

O que se odeia no índio é o andar sem ruído;

a presteza segura de cada movimento;

a eugenia nítida do corpo erguido contra a luz do sol.

O que se odeia no índio é o sol.

A árvore se odeia no índio.

O rio se odeia no índio.

O corpo-a-corpo com a vida se odeia no índio.

O que se odeia no índio é a permanência da infância.

É a liberdade aberta que se odeia no índio.




OS BRASÍADAS
Paulinho Soares
Música incidental: ‘O canto do pajé’ (Heitor Villa-Lobos / C. Paula Barros: “Oh! Tupã Deus do Brasil”

Quando vocês chegaram
Eu já estava aqui
Já era velho amigo da juriti
Assava o que caçava
Comia o que plantava
Me lambuzava com calda de abacaxi
Quando vocês chegaram
Eu que estava aqui
De modo tão sincero os recebi
Mostrei-lhes minhas malocas
As tabas com as suas ocas
Ofereci-lhes meu vinho do açaí
Mas vocês me iludiram
E eu só percebi
Quando tomaram as terras
Onde eu nasci
E dividiram meu solo
em capitanias
E
escravizaram meu povo nas sesmarias
E aí...
Aí pintei meus bravos pra guerra
Planícies , rios e serras
Eu defendi “té” o fim
E assim na força de um curumim
Renasço sempre igual
Sou índio, sou imortal
Hoje vocês me vestem de calça “Lee”
Marcam e demarcam a terra onde eu fui feliz
Ai! minha terra adorada
Oh! terra por mim sagrada
Por que te dividem hoje em tantos brasis?
Quando vocês chegaram eu já estava aqui

LP: “Os Brasíadas”, Beth Carvalho, Saudades da Guanabara, PolyGram 842084-1, Rio de Janeiro, 1989.


CARA DE ÍNDIO
Djavan

Índio cara pálida
Cara de índio
Índio cara pálida
Cara de índio
Sua ação é válida
Valida o índio
Nessa terra tudo dá
Terra de índio
Nessa terra tudo dá
Não para o índio
Quando alguém puder plantar
Quem sabe índio
Quando alguém puder plantar
Não é índio

Índio quer se nomear
Nome de índio
Índio quer  se nomear
Duvido, índio
Isso pode demorar
Te cuida, índio
Isso pode demorar
Coisa de índio

Índio, sua pipoca
Tá pouca, índio
Índio quer pipoca
Te toca, índio
Se o índio se tocar
Touca de índio
Se o índio toca
Não chove, índio

Se quer abrir a boca
Pra sorrir índio
Se quer abrir a boca
Não toca, índio
A minha também tá pouca
Cota de índio
Apesar da minha roupa
Também sou índio

CD: "Cara de índio", Djavan, Djavan, EMI 3368578932, Rio de Janeiro, 1997.






4 comentários:

  1. Renato Russo implantou idéias sobre política e justiça num momento onde o Brasil pensava no rock pelo rock. Legião, Engenheiros, Cazuza, e alguns outros foram a nata que deu voz aos problemas brasileiros de sua própria época.
    Ficou ótimo esse, parabéns!
    Rondinelli

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  2. Pois é, e pensar que Renato Russo, Cazuza e mais alguns eram meninos quando criaram obras importantíssimas.
    Obrigado pela visita, amigo.
    Bjs,

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  3. Saudades do nosso querido Renato Russo,
    saudades de letras inteligentes.

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  4. Concordo, Marta. Que falta ele nos faz.
    Obrigado pela visita.
    Bjs,

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