domingo, 19 de junho de 2011

AMIZADE



A orquídea aí de cima foi presente de minha amiga Adriane Fin.

LIVRES PARA AMAR
Elisa Lucinda

Os frios ventos de junho me trouxeram à Bahia com o “Parem de falar mal da rotina” e eu acabei por parar logo na trezena de Santo Antônio da Mabel Veloso, poeta maravilhosa que vem a ser irmã de Caetano e Bethânia e mãe de Belô. De repente me dei foi conta do quanto amo Mabel. Somos amigas-irmãs sem esforço. Quando me vê, seu rosto ilumina e meu coração dispara. Sabe-se que está garantida a frigideira de maturi que ela vai fazer pra mim. Nos presenteamos, compartilhamos histórias, gargalhadas, trotes e poemas.
Amigo também é amor. Quando conhecemos um amigo novo (sic), o sentimento parece muito com a paixão. Fazemos planos juntos: festas, viagens, cinemas. A amizade goza de privilégios que fazem falta à saúde do amor, dito assim, romântico-carnal. Por exemplo, entre amigos é permitido (sic) períodos de afastamento, respirações, distâncias saudáveis que vão regando a saudade e o caminho de volta para a casa onde mora o afeto. Já no amor, abusamos do excesso de presença e brigamos na exigência de querer toda a vida do outro exposta a nós. Como um “reality show” autorizado pelo outro, observado, como prova de seu amor. E, em verdade, ser o que se é não é uma oposição ao outro.
Com o amigo, embora tenhamos compromisso afetivo, a largura da liberdade desse laço nos permite não dar tanta satisfação assim. E os respeitamos, seus sonhos e desejos. Queremos ajudá-lo a realizá-los, e isso é também fundamento de grande utilidade para o amor-amor.
Por isso, sem querer, há amores que não são compostos de amantes, mas de escravos. E por causa dessas prisões o amor perde muitas vezes a luta. Coitado, também pudera! Pode ele viver bem em cárcere privado se amar é querer bem? Sem contar as coisas que o amor não compreende e das quais tem que dar conta mesmo não sendo de sua alçada. Brigamos porque o outro perdeu a tampa da pasta de dente ou por causa da bendita toalha molhada sobre a cama. Já o dinheiro, vi acabar com tantos casamentos e amizades!
Se a gente reparar, há segredos que só a um único amigo confidenciamos e não gostaríamos que o nosso amor soubesse. Talvez por isso o ideal pareça ser termos o amigo e o amor fundidos num mesmo companheiro. Ou não? Ora, se a amizade é um estágio da árvore do amor, em que lugar a colocaríamos? Do amor, a amizade é princípio ou o seu estágio mais evoluído?
Nela somos mais flexíveis. Tem muita gente no mundo e não há restrição por parte do outro; você pode fazer amigo novo (sic) todo dia se quiser. E quando apresentamos um amigo ao outro que se tornam grandes amigos também, não nos dá orgulho? Não nos sublinha a coerência afetiva e nos confirma como tribo e rede? A mesma dinâmica no caminho do amor não tem normalmente o mesmo alegre desfecho-ciranda. Ao contrário, no amor isso dá guerra.
No mês dos namorados, que se inclua em seus cuidados as riquezas e as seguranças de uma amizade. Talvez seja o que falte à dinâmica amorosa. Uma pitada de cada ingrediente da amizade ao amor romântico pode nos levar a crer que a amizade é uma das evoluções do amor. Sem seu fundamento, casais e amigos se vigiam e se sacaneiam loucamente. A amizade como componente na poção amorosa faz milagres. Observe bem a triste fatalidade: onde houver miséria humana está ali ou ali esteve a falta de amor amigo, respeitoso, e de suas cúmplices possibilidades.

Fonte: A GAZETA, 19 de junho de 2011.


PRA EU PARAR DE ME DOER
Milton Nascimento / Fernando Brant

Mais que a dor do amor
Viver a dor
Me doeu
Eu quero mesmo é ser feliz
Amar amor

Quem não semear
Não vai colher
Ai de quem
É um e nunca será dois
Por não saber

Quem irá me valer?
São pessoas, é a caminhada
Quem irá me valer?
São meus sonhos no pó da estrada

Quem irá me valer?
É o sorriso que guardo comigo
Quem irá me valer?
É o segredo de fazer amigo

Fonte (CD): "Pra eu parar de me doer", Milton Nascimento, Encontros e despedidas, PolyGram 827638-2, 1997.

2 comentários:

  1. A Orquídea é uma planta muito especial, em todas as suas variadíssimas espécies distingue-se pela presença da coluna, estrutura originada pela fusão de seus órgãos sexuais masculinos e femininos.
    UM ABRAÇO

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  2. Orquídea Linda, e o que falar sobre a Amizade né
    Sei que tenho em ti, uma das mais pelas peças de afeto e ternura, obrigado por partilhar-me como amigo. 1000 Bjus!!!

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