segunda-feira, 10 de outubro de 2011

BIZARRICES E CELULAR



          BIZARRICES E CELULAR
          Por Fábio Brito

         
        Tive o ímpeto de começar este texto assim: “Desconfio de que...”, mas mudei de ideia! O início tem de ser este: "Tenho certeza de" que há mais pessoas viciadas em celular do que em cocaína, maconha, crack e afins. Diariamente, assisto a situações bizarras até o osso envolvendo o uso desse aparelhinho que classifico de “a invenção mais irritante de todas”, embora útil. E se a telefonia celular “desse uma folga” durante, pelo menos, um dia? Talvez assim as pessoas tivessem a chance de reaprender princípios básicos de educação...  
          Dia desses, na sala de espera de um consultório médico, senti-me um ET. Eu estava tentando ler um livro (sempre tenho um na bolsa), mas o local, por causa da balbúrdia e da histeria, era parecido com tudo, menos com uma sala de espera de um consultório. Impossível ler qualquer texto em ambiente assim, que chamo de "malucódromo". A meu lado, uma senhora não parava de telefonar um minuto sequer: mal saía de uma ligação, engatava em outra. Ela deve ter ligado para a cidade inteira e só para falar bobagens (infelizmente, não pude deixar de ouvir trechos das "conversas", das lenga-lengas). Na cadeira em frente à minha, um rapaz com um uniforme fosforescente (não precisava de mais nada para chamar a atenção!) tinha um microfone acoplado a seu aparelho. Ele olhava em minha direção, falava sem parar e fazia inúmeras caretas (as mais feias que já vi). Porque não segurava qualquer aparelho, ele parecia mais maluco ainda que os demais. Cruzes! Ao lado desse rapaz, outro moço, irritadíssimo com seu interlocutor, "que não entregou todas as cadeiras" que ele havia pedido para uma festa, não parava de gesticular. Em segundos, ele não se conteve: levantou-se e foi até a janela, de onde passou a gesticular ainda mais. Faltou pouco sentar-se no chão e, com as pernas para o alto, "pedalar", como um grande bebê chorão. Parecia um helicóptero o pobre moço. Em segundos, consegui imaginá-lo voando janela afora.
          Como se não bastasse essa maluquice toda, a secretária do médico também atende a seu celular. Pronto!, eu disse, é um "sanatório geral" mesmo. Para completar a festa, o televisor também estava ligado e transmitindo um desenho em que ninguém estava interessado. Isolado, tentei recomeçar,  em vão, minha leitura. Acho mesmo que, nessa história toda, o maluco sou eu, viu? Como posso querer sobreviver em ambiente assim? Como posso querer encontrar refúgio em alguma leitura se o ambiente é alucinante? Gente, na sala de espera do tal consultório, eu só queria ler meu livro... mais nada.
          Para locais em que temos de treinar (e muito!) nossa capacidade de esperar (consultórios médicos, em especial), tenho sempre um “kit sala de espera”: água, livro, lápis com borracha e apontador. Entretanto, já faz um bom tempo que, enquanto espero uma consulta, não consigo um minuto que seja de paz, em qualquer sala de espera, tamanha é a algazarra dos deseducados e seus aparelhinhos infernais. Essas pessoas parecem um bando de gralhas neuróticas. Jesus! Quando querem - e sempre querem! - usar o celular, as pessoas não respeitam nada nem ninguém. Avisos para que não sejam usados esses "benditos" aparelhos não são lidos. São totalmente ignorados. Besteira afixá-los. É... acho que preciso acrescentar calmante (remédio mesmo!) a meu "kit sala de espera".    
          Saindo dos consultórios, vamos às ruas. Ih! Sobre esses locais, o que não falta é história para contar. Vamos a uma bem comum: não são poucas as pessoas que atravessam 'nas' faixas para pedestres falando ao celular. O pior é que não olham para os lados. Bem pior que essas criaturas é o povo que atravessa fora das faixas, mas falando ao celular também. Meu Deus! Elas devem 'se' achar imortais. Se já é perigoso atravessar uma rua olhando para todos os lados, imagine atravessá-la olhando para o chão ou para o alto. Muita gente está pedindo um atrapelamento, não está? Para tanto, basta juntarmos, como se dizia tempos atrás, "a fome com a vontade de comer": motoristas apressadinhos, irresponsáveis, falando ao celular também e pedestres no mundo da lua, ou melhor, no "mundo do celular". Combinação perfeita para um "caminho sem volta" para o céu ou...
          E por falar em trânsito, tenho visto, não sei se por falta de rigor na fiscalização, muitos "motoristas" que dirigem falando ao celular. Vejo-os aos montes! Será que é tão complicado estacionar o carro no momento em que o "bendito" aparelhinho toca? É bem simples: o telefone tocou? Ok. Estacione, fale o que tiver de falar e volte a dirigir. Melhor é deixar o "treco" desligado enquanto dirige, não é mesmo? Não faz muito tempo, um carro à minha frente estava, como dizem por aí, "comendo faixa". Em uma pista 'dupla', o motorista (?) estava exatamente no meio das 'duas'. Ele conseguiu uma divisão perfeita! Resultado: eu não conseguia ultrapassá-lo. Fiquei mais irritado ainda quando vi que a criatura estava... falando ao celular. O que fazer? Dei uma bela buzinada (daquelas bem longas) e, por meio de sinal, "disse-lhe" que falar ao celular, naquela situação, não era permitido. Ficou irritado o moço, tanto que fez outro sinal de volta (imaginemos qual terá sido o gesto do educadinho). Resumo da ópera: totalmente sem razão, ainda ficou irritado por causa da "bronca". Ah! Vá plantar batatas! Se tivesse tomado uma bela "duma" multa, garanto que alguma lição o engraçadinho teria aprendido. 
          Situações e mais situações envolvendo o uso - quase sempre indevido - do celular não faltam. Dias atrás, tive de esconder o celular de uma colega de trabalho que, durante seu horário de almoço, deixou o “amigo inseparável" sobre a mesa. Celular não é "telefone móvel"? Por que, então, certas pessoas insistem em não carregar essa "coisa"... na bolsa, no bolso, na sunga, no sutiã, na meia? Sei lá! Guardem esse troço onde quiserem, mas não o deixem sobre as mesas, principalmente quando a campainha tem um som insuportável. Não esqueçam essa "invenção dos infernos" perturbando a vida de outras pessoas. Se o negócio é móvel, carregue-o, por favor. Se gostam tanto assim desse aparelhinho, que tal uma cirurgia para implantá-lo sob a pele? Não é uma má ideia. Se, daqui a uns anos, isso for possível, garanto que muita gente vai aderir.
          Pois é, por causa desse inferno em que se tornou o uso do celular, um dia, alguém ainda terá de explicar ao rabugento aqui por que, de uns anos para cá, as pessoas passaram a ter tanta necessidade de falar, principalmente ao telefone. Que necessidade é essa? Qualquer um pode fazer um teste bem simples: ande pelas calçadas de qualquer cidade durante um tempo, que pode ser curto, e constate: ao passar, por exemplo, por dez pessoas, oito, certamente, estarão falando ao celular. Inacreditável! Por que isso? Não pode ser só vontade de aparecer. Tudo bem que, quando o aparelho é moderninho e cheio de recursos, a vontade de aparecer é incontrolável para a maioria. Por isso, muitos até dormem com o "amado coleguinha", que mais parece um brinco de pressão, grudado na orelha. Aqui, vale uma pausa: em uma loja, ouvi uma moça, irritada, dizer que, de madrugada, recebeu um "torpedo" de uma loja. Meu Deus, e por que o celular estava ligado de madrugada?
          Voltando à vontade de aparecer: se as pessoas valem pelo que têm, é hora de muita gente mostrar que vale muito, não é mesmo? Funciona mais ou menos assim: "Consegui ser poderoso. Olhe o celular que tenho". No entanto, a vontade de aparecer pode se manifestar de várias formas. Uma delas é quando alguém "dana" gritar suas intimidades no meio da rua. Desde quando estou interessado nas intimidades alheias? Acho que nem nas minhas! Poupem-me disso, por favor. Como sobremesa, para arte-finalizar, vale mais este exemplo, que é uma pérola: em frente à gôndola (não se trata de uma dos canais de Veneza!) de um supermercado, uma rapaz pergunta que marca de ervilha ele tem de comprar. Não acreditei quando presenciei essa cena. Incrível! É ou não é maluquice?
          Se, porventura, alguém tiver a brilhante ideia de perguntar se tenho celular, responderei, com muita calma e tranquilidade, que sim. Tenho esse bendito aparelhinho. No entanto, sei usá-lo. Ou seja, uso-o educadamente. No bolso ou na bolsa, ele sempre está no "vibra". Se tocar, confiro, antes, se se trata de ligação muitíssimo importante e se o local é adequado para eu atender. Se sim, afasto-me um pouco para falar; se não, mais tarde, "retorno a ligação". E nunca morri por isso. Exatamente por causa dessa minha maneira muito peculiar de lidar com o celular, dizem que nunca atendo a esse "trem" e que sou a pior pessoa do mundo para usá-lo. Talvez eu seja uma pessoa educada. Só isso.

8 comentários:

  1. "muitos até dormem com o amado coleguinha, que mais parece um brinco de pressão, grudado na orelha." - kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, tô chorando de rir aqui, o "capuz" meio que serviu pra mim, tenho mania de dormir com ele debaixo do travesseiro (porque só assim pra eu acordar no outro dia com a função dispertador!)...
    Ótimo texto profff, escreve mais!
    Abraço

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  2. Fábio, esteve em Cascavel nos últimos dias?
    O texto esta ótimo! Esqueceu, apenas, de citar oque chamo de "celulares ambulantes". Aqueles cujos donos carregam com uma músicas, sempre insuportável, no máximo som. Sim. São celulares ambulantes, pois, ao encontrar um desses você não mais focaliza o indivíduo que só tem a função de locomoção.

    Abração, meu amigo,

    Rodrigo Davel

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  3. Oi Fábio, entendo seu desabafo.
    Irrita mesmo!
    Outro dia estava ouvindo como fazer bolinho de chuva na subida da escada rolante do shopping. Hahahá!

    Simão podia também escrever um texto assim, solidário contigo.

    Abração!

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  4. Rabugento nada Fábio!
    Vivo situação semelhante a esta de vez em quando.
    É um horror! Ótimo texto. Como sempre, amo tudo que vc escreve.

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  5. Como não afirmar ser um ótimo texto, não é mesmo? Os celulares parecem valer mais do que os seu donos, uma vez, que em momentos curtos, esses "coleguinhas" estão cada vez mais sofisticados. E como bem lembrado, o que mais me incomoda são os "coleguinhas" berrantes de funks e outros gêneros. Andar de ônibus fica ainda mais insuportável.

    Abraços professor.
    Marciele

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  6. Eu lembrei de quando você contou essa história na sala de aula. HAHHAHAHAHAHAH... morri de rir aqui.
    beiijos

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  7. Obrigado,Gabriela, Marciele, Marta, Rodrigo, Rondi,Teris, pelas visitas.
    O texto é mais um da série "desabafos".
    Abração,
    Fábio

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