quinta-feira, 20 de agosto de 2020

DIVINA É DIVINA



BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5

Heitor Villa-Lobos e David Nasser 

Vai, por esse céu vazio de esperança 
Vai minh'alma regressar
Este chão de todos nós
Para os meus, ao meu lugar
A minha voz, as preces
Quando alguém me escutar
Vai lembrar, vai lembrar

Ai, a eternidade
Que deixei quando parti
Dando tudo pra não ir
Ai, este meu grito
O infinito
Ai, tudo perdido
Ai, a esperança



DIVINA É DIVINA E PONTO
Por Fábio Brito 

E quem me vê no palco tão serena / Tão segura e poderosa / Radiante de emoções / Não pode adivinhar o meu trabalho / Faxineira das canções (...) 
[Joyce]

Recentemente, dia 16 de julho, comemorou-se o centenário de nascimento da "Divina" Elizeth Cardoso, cantora/intérprete que merece todas as honrarias, principalmente num país desmemoriado como o nosso.
Conta-se que, desde pequena, Elizeth e a família costumavam ir a reuniões na casa da lendária Tia Ciata, o que comprova que a verve musical já estava aí, na menina. Tempos depois, numa festa em que estavam presentes, entre outros, Pixinguinha, Dilermando Reis e Jacob do Bandolim, este, depois de ouvi-la cantar, convidou-a para um teste na Rádio Guanabara, onde a jovem Elizeth - muito emocionada - deparou com um de seus ídolos: Vicente Celestino. Nem é necessário dizer que esse teste foi o trampolim para a bela, digna e extremamente coerente carreira da "Divina". 
Entre as cantoras de sua geração, não há dúvidas de que Elizeth brilhou mais alto: além de seu repertório ser a síntese do que havia de melhor em seu tempo e antes dele, a voz - de contrato, quase mezzo soprano - era melodiosa ao extremo e carregava uma sensualidade ímpar. Tais qualidades, aliadas a uma técnica apuradíssima, faziam da "Divina" uma cantora/intérprete excepcional. Foi a maior de sua geração.
Elizeth tinha uma qualidade que, embora não pareça, não é facilmente encontrada em muitos cantores, independentemente da geração: ela sabia viver as emoções que estavam nas letras e compreendia seu conteúdo. Ou seja, ela sabia interpretar, sabia o que estava cantando. Cantar (só cantar) é algo que muitos sabem fazer: com boa voz e afinação, entre outras qualidades, muitos são cantores, mas não são intérpretes. Têm voz, mas são lineares. Encontraram uma forminha e, com ela, cantam todas as canções do mesmo jeito. Ultimamente, então, isso é bem comum. 
A "Divina", sim, era uma intérprete em seu sentido mais amplo, íntegro, completo e verdadeiro. Além de muita sensibilidade para viver as canções, era dotada de inteligência musical. Parafraseando o jornalista Julio Maria, intérprete não é o que dá importância somente à palavra e à sua compreensão. Um ouvido deve estar, sim, nos versos que ele está cantando, compreendendo-os, mas o outro precisa estar atento, como um músico, à tonalidade, às modulações e ao andamento, por exemplo. Assim como Elis, Elizeth era muito musical. Era uma intérprete nata.
Além de ser uma intérprete excelente, Elizeth, assim como Dalva, Elis e Bethânia, por exemplo, tinha o que chamam de "assinatura". Há pouco tempo, em entrevista, o letrista-poeta Fausto Nilo disse que tem obsessão por ouvir uma voz de um jeito que ele nunca ouviu. Como exemplos, citou Bethânia e Maysa. Hoje, ele diz que há blocos de vozes que se classificam de uma maneira "genérica". Exatamente! Muita gente canta, mas poucos têm o que chamo de chancela na voz. Não é raro eu ouvir uma voz surgida nos últimos anos, tentar adivinhar quem é e citar dois, três ou até mais nomes. Todas muito parecidas. Desde a primeira vez que a ouvi, não me lembro de ter confundido Elizeth com ninguém. Outra marca da "Divina" era a elegância. Até nos vibratos, comedidos, ela mostrava sua elegância, sua classe. É comum ouvirmos dizer que Elizeth era uma dama. Não há quem conteste isso. 
Outra de suas marcas mais importantes está exatamente na altíssima qualidade de sua obra. Moderna e transgressora a toda prova, em 1958, ela gravou - e legou para a posteridade - "Canção do amor demais", só com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Quem poderia imaginar que uma cantora da chamada “era do rádio” pudesse participar de um projeto como esse? Sobre esse trabalho seminal, escreveu o "Poetinha" na contracapa do LP: "Não foi somente por amizade que Elisete Cardoso foi escolhida para cantar este LP. É claro que, por ela interpretado, ele nos acrescenta ainda mais, pois fica sendo a obra conjunta de três grandes amigos; gente que se quer bem para valer, gente que pode, em qualquer circunstância, contar um com outro; gente, sobretudo, se danando para estrelismos e vaidades e glórias. Mas a diversidade dos sambas e canções exigia também uma voz particularmente afinada; de timbre popular brasileiro, mas podendo respirar acima do puramente popular, com um registro amplo e natural nos graves e agudos e, principalmente, uma voz experiente, com a pungência dos que amaram e sofreram, crestada pela pátina da vida. E assim foi que a Divina impôs-se para uma noite de serenata.” 
Em 1967, com participações especiais de Clementina de Jesus, Cartola, Codó e Pixinguinha, a "Divina" grava outro disco irretocável: "A enluarada Elizeth", com arranjos e regência do Maestro Gaya. Da primeira, "Meu consolo é você" (Antonio Nássara e Roberto Martins) à última faixa, uma seleção de sambas de Mangueira, o álbum está esplêndido. Entre os destaques, e todas as faixas são destaque, há que se ressaltar a gravação de "Carinhoso" (Pixinguinha e João de Barro), de que participa "São Pixinguinha", como Hermínio Bello de Carvalho se refere ao patriarca. É o próprio Hermínio quem diz, no texto que acompanha LP e CD, que "(...) a gravação do 'Carinhoso' foi feita de surpresa e quase de improviso: ensaio e gravação não duraram mais que quinze minutos ('Agora sim, ouvi meu 'Carinhoso' - e os olhos do mestre se aguaram nessa hora)". Pois é, deu para imaginar (e até sentir) a emoção que tomou conta do gênio Pixinguinha ao ouvir seu "Carinhoso" na voz de sua cantora favorita. Outro momento de pura epifania foi a gravação, "a capella", de "Demais" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira). Não é qualquer cantor que se atreve a cantar sem acompanhamento instrumental. Só mestres o fazem. "Melodia sentimental" (Villa-Lobos e Dora Vasconcellos) também é outra faixa emblemática desse disco. Mesmo não sendo tão conhecida quanto as "Bachianas", "Melodia..." está entre as mais belas canções de todos os tempos. 
No ano seguinte, 1968, Elizeth lança "Momento de amor", que está entre os álbuns preferidos de muita gente, como do jovem talento Ayrton Montarroyos. Eis aí, segundo Mauro Ferreira, "um dos exemplos mais bem-acabados do rigor estilístico de Elizeth". Sobre esse mesmo disco, Ferreira aponta ainda a "ausência de vaidade" da "Divina" na escolha do repertório. Ou seja, Elizeth, ao gravar, não se preocupava se a canção era inédita ou não, o que é ratificado por Sérgio Porto, que assina o texto da contracapa: "(...) Elizeth escolheu um repertório por igual, sem se preocupar sequer com lançamentos novos e sim com a beleza das canções". O que importava era a qualidade do repertório selecionado. Tal disco, ainda segundo Ferreira, prima por um tom melodramático, o que não é demérito. E a "Divina", sabendo como poucos combinar emoção e técnica, nunca ultrapassa a linha que demarca o ponto preciso do melodrama. Mais uma vez, todas as canções do álbum são obras-primas. "Derradeira primavera" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Pra você" (Silvio César), "Razão de viver" (Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle), "Lua cheia" (Chico Buarque e Toquinho), "Pra dizer adeus" (Edu Lobo e Torquato Neto), "Carolina" (Chico Buarque) e "Insensatez" (Tom Jobim e Vinicius de Moares) figuram entre as preciosidades do álbum. 
Gravado em 1968, O álbum duplo “Elizeth Cardoso ao vivo no Teatro João Caetano, com Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e Época de Ouro” é um registro ao vivo de um dos melhores espetáculos da Música Popular Brasileira de todos os tempos, conforme atesta o pesquisador Jairo Severiano: “Dirigido e roteirizado por Hermínio Bello de Carvalho, o espetáculo cobriu trinta anos de música brasileira, com Jacob e o Época de Ouro representando a tradição, o Zimbo Trio, a modernidade, e Elizeth atuando como traço de união entre as épocas focalizadas. Com sua versatilidade, a Divina cantou na ocasião um repertório que ia de Pixinguinha, Ary Barroso, Noel Rosa, Orestes Barbosa e o próprio Jacob a Tom e Vinicius, Baden Powell, Chico Buarque e Milton Nascimento, entre outros”.
Aqui, damos um salto para tecer alguns comentários sobre "Luz e esplendor", de 1986. Já na faixa que dá nome ao disco, de Walter Queiroz, a “Divina” vem inteira: “Artista o seu nome já nasce na lista / Dos que vão sangrar de paixão e dor (...)”. Foi nesse disco aí, quando Elizeth estava com 66 anos, que percebi o veludo que cobriu sua voz, tornando-a mais bonita (se é que isso ainda era possível). Os graves ficaram mais profundos e mais sedutores. Vale dizer que as vozes envelhecem, sim, mas, ao contrário do que se apregoa pelo mundo musical, há aquelas que, com o passar dos anos, ficam mais bonitas e encantadoras, com é o caso da voz da "Divina". Na faixa de abertura, à qual deu-se o nome de "Elizetheana", Alcione, Cauby Peixoto, Maria Bethânia e Nana Caymmi reverenciam a "Divina" cantando, junto com ela, sucessos da "Enluarada": "Nossos momentos (Luís Reis e Haroldo Barbosa), "Meiga presença" (Paulo Valdez e Otávio de Moraes), "Apelo" (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e "Se todos fossem iguais a você" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). "Faxineira das canções", que Joyce (Moreno) compôs especialmente para Elizeth, é uma das mais comoventes faixas desse disco e conta com as participações da própria Joyce nos vocais e de Gilson Peranzetta (piano). De fato, Elizeth é a própria "faxineira das canções", que, "assim como quem cuida de uma casa, com capricho e com carinho", ela sempre cuidou de sua voz, que saía limpa e clara da garganta, voava veloz e, como água cristalina, lavava o coração de quem a ouvia, aliviando qualquer dor. Posso atestar o que Joyce nos diz em sua bela canção: diversas vezes, fui curado pela voz divina da Elizeth, principalmente quando a "enfermidade" dizia respeito ao coração. 
Com o violão de Raphael Rabello e o cello de Márcio Mallard, ambos também arranjadores da faixa, "Cabelos brancos" (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) é uma das canções mais pungentes e tocantes desse "Luz e esplendor". Como não o ser? Junte a poesia de Pinheiro, a melodia do Baden, a interpretação de Elizeth... e o resultado só pode ser um: obra de arte, que é o caso de outra faixa da mesma dupla, "Voltei". Assim que a ouvi, saí logo cantarolando. Foi "amor à primeira ouvida". De Jorge Aragão e Jorge Fonseca, "Vento de saudade" é outro caso de encanto imediato: aprendemos a letra e a melodia num átimo. E olhe que não se trata de uma dessas canções banais e de fácil aprendizado, que rolam por aí e não causam nada além de tédio em quem tem ouvidos bem educados. "Valsa derradeira" (Capiba e Gereba), "Complexo" (Wilson Baptista e M. de Oliveira), "Calmaria e vendaval" (Sereno e Nei Lopes), "Operário padrão" (César Brunetti) e "Felicidade segundo eu" (Ivone Lara e Nei Lopes) são as outras obras-primas desse "Luz e esplendor", título mais que adequado a um álbum tão bem produzido. 
Em 1989, junto com o extraordinário violonista Raphael Rabello, em apenas um dia, a "Divina" gravou “Todo o sentimento”. Sobre esse disco, em suas anotações, Hermínio Bello de Carvalho registrou que se tratava de um "trabalho conceitual, quase camerístico, de voz e violão" e que, por meio dele, "roteirizou um pouco a própria vida de Elizeth". Ainda segundo o próprio Hermínio, esse disco não passou por qualquer retoque. Ou seja, Elizeth e Raphael gravaram ao vivo mesmo, "um com o coração pousado no coração do outro". Quem, hoje, consegue essa proeza? Quase ninguém. Só os verdadeiros cantores-intérpretes. O que não falta para muitos é o "auto-tune", que corrige muitas imperfeições, entre as quais as desafinadas. 
Nesse disco/obra-prima, só há canções imorredouras, atemporais: "Faxineira das canções" (Joyce), "Camarim" (Cartola e Hermínio Bello de Carvalho) e "Refém da solidão" (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) formam um "medley" dos mais pungentes já registrados em disco. As demais preciosidades são "Todo o sentimento" (Cristóvão Bastos e Chico Buarque), "a capella", "Janelas abertas" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Canção da manhã feliz" (Haroldo Barbosa e Luís Reis) e "Bom dia" (Herivelto Martins e Aldo Cabral), que se alinham noutro "medley"; "Doce de coco" (Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho), "Modinha" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "No rancho fundo" (Ary Barroso e Lamartine Babo) e "Violão (Vitório Junior e Wilson Ferreira) configuram o terceiro "medley" do disco e, fechando, o quinto ["medley"], com "Chão de estrelas" (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa) e "Consolação" (Baden Powell e Vinicius de Moraes). Eis aí uma senhora aula - com os professores Elizeth e Raphael - para quem quer aprender a cantar e tocar. Para quem quer aprender a interpretar. 
Em de 1990, ano da saída de cena da "Divina", é lançado o álbum "Ary amoroso - Elizeth canta Ary Barroso". Nesse trabalho - imprescindível, como todos os outros da "Cantadeira do amor" - a voz de Elizeth parece estar ainda mais bonita. Nele, abordou-se, magistralmente, o lado amoroso do autor de "Aquarela do Brasil".  Para esse trabalho vigoroso, arregimentou-se um time estelar de músicos, entre os quais Raphael Rabello, Wilson das Neves, Maurício Carrilho, Marcos Suzano, Alceu Maia, Gilson Peranzetta, Zeca Assumpção, Mauro Senise, Maurício Einhorn. No coro, vale ressaltar, há duas vozes que figuravam entre as preferidas de Elizeth: Áurea Martins e Ithamara Koorax. As produções artística e executiva, impecáveis, couberam, respectivamente, a Hermínio Bello de Carvalho e João Carlos Carino. Os arranjos - extraordinários - ficaram a cargo de Gilson Peranzetta e Maurício Carrilho. 
Pois é, sempre há muito o que se dizer sobre Elizeth, a "Divina", título atribuído a ela por Haroldo Costa. Ela era tão querida e respeitada, que recebeu, ao longo de sua enluarada carreira, inúmeros adjetivos. Difícil é encontrar outra cantora que tenha recebido tantos adjetivos como ela. Além de "Divina", "Enluarada", "Magnífica", "Cantadeira do amor", "Machado de Assis da seresta", "Noiva do samba-canção", "'Lady' do samba" estão entre os mais conhecidos. E é muito bom saber que Elizeth fez jus a todos eles. 
Elizeth era admirada por muitos, em especial por colegas de ofício, como músicos e cantores. Segundo Hermínio Bello de Carvalho, para a camerista Magdalena Lébeis e Maria Lúcia Godoy, uma das mais importantes cantoras líricas brasileiras, Elizeth era a maior cantora popular do Brasil. Em casa de Hermínio, depois de ouvir a "Divina", em cuja garganta "se alternaram as imensas arcadas de um poderoso cello e as misteriosas vozes de uma viola d'amore", disse Lébeis, "emocionada, extasiando-se com aquele instrumento [a voz de Elizeth]: 'perfeito, perfeito'! Nada a acrescentar. Apenas que continuamos amando a "Divina" Elizeth Cardoso, um clássico da canção popular do Brasil. 




“'Divina', na Música Brasileira, é Elizeth Cardoso. 'Divina'! Esse título, por favor, não coloquem esse título pra nenhuma outra pessoa, porque não vai ficar bem, por favor.” [Leny Andrade]

“(Elizeth Cardoso), a melhor de nós todas.”

[Nara Leão]

 

 “C’est merveilleuse! C’est merveilleuse!”

[Edith Piaf, após assistir a um espetáculo de Elizeth no Clube 36]

 

“Você é a dama da canção no Brasil, é uma das melhores cantoras que ouvi em toda a minha vida.”

[Maestro Quincy Jones]

 

 “(...) Elizeth Cardoso (...) primava por ter um repertório de extremo bom gosto.”

[Bibi Ferreira]

 

  “Elizeth Cardoso é unanimidade. Não conheço ninguém que goste de música que não goste de Elizeth Cardoso.”

[Ayrton Montarroyos]

 

Também quero colar meu bilhete no espelho da Elizeth: canta, canta, canta mais! Porque Elizeth é a nossa cantora mais amada. Voz de mãe, e mãe de todas as cantoras do Brasil.

[Chico Buarque, em referência à letra de "Camarim", de Cartola e Hermínio Bello de Carvalho, que Elizeth interpreta no "show" (e disco) "Todo o sentimento", com Raphael Rabello]

 


No camarim

As rosas vão murchando

E o contrarregra dá

O último sinal

As luzes da plateia

Vão se amortecendo

E a orquestra ataca

O acorde inicial

 

No camarim

Nem sempre há euforia

Artista de mim mesmo

Nem posso fracassar

Releio os bilhetes

Pregados no espelho

Me pedem que jamais eu deixe de cantar

Caminho lentamente

E encontro em contraluz

E a garganta acende

Um verso embriagador

O corpo se agita

E chove pelos olhos

E um aplauso escorre

Em cada refletor

 

Pisando esta ribalta

Cantando pra vocês

De nada sinto falta

Sou eu mais uma vez

As rosas vão murchar

Mas outras nascerão

Cigarras sempre cantam

Seja ou não verão

  [“Camarim”, Cartola e Hermínio Bello de Carvalho]




6 comentários:

  1. Excepcional e gloriosa postagem. A DIVINA merece e amaria.
    "A verve musical já estava aí, na menina.", assim como na semente "Elizethinha" já "existia" a fruta "ELIZETÍSSIMA" que viria, suculenta e canora , a sabiá laranjeira, ave símbolo do Brasil com seu canto divinal.
    Na verdade, A ARTE É QUEM ESCOLHE OS ARTISTAS. ou seja, os verdadeiros artistas de um modo geral, os raros que recebem o beijo dos deuses da arte, são "cavalos".
    Recebem a "entidade" que neles incorpora para manifestação da DIVINA ARTE.
    Na música " O poder da criação" do João Nogueira, está clara a questão.

    (...) "A inspiração é uma luz que chega de repente
    Com a rapidez de uma estrela cadente
    Que acende a mente e o coração
    É faz pensar que existe uma força
    Maior que nos guia, que está no ar
    Bem no meio da noite ou no claro do dia
    Chega a nos angustiar (...)
    "A Enluarada foi a maior de sua geração (e das futuras, se não estou enganado)
    Era dotada de inteligência musical".

    UMA DAS grandes emoções da minha vida foi assistir a alguns "shows" emblemáticos da maior e melhor de todas: A "SUPERDIVADIVINA". No primeiro, com vinte e pouquíssimos anos, fiquei tão fascinado , impactado e hipnotizado que cheguei a pensar que se fosse a NOSSA SENHORA , eu não ficaria assim...Tão transmudado, tão extasiado, tão transfigurado ou tão transcendido "elizetheanamente".
    Na ocasião - priscas eras! rs - , um exímio pianista/concertista e fã ardoroso dela, deu-me este presente memorável, o melhor que recebi até hoje. Dá para acreditar - não existe mais este espaço - que era num salão sofisticado no aeroporto GALEÃO, agora Tom Jobim ? Só gente muito velha conheceu este endereço inusitado rs, Foi uma epifania , um marco cultural e/ou civilizatório na minha vida de iniciante nas grandes efemérides musicais. O Rio e o Patropi já foram chiques

    " Foi nesse disco- LUZ E ESPLENDOR - quando Elizeth estava com 66 anos, que percebi o veludo que cobriu sua voz, tornando-a mais bonita." Exatamente!
    O depoimento do poetinha é de chorar de felicidade, de tão lindo e assertivo. Nesta frase definitiva ": E assim foi que a Divina impôs-se para uma noite de serenata", abusado como sou rs...eu acrescentaria ou colocaria uma luz a mais e assim ficaria: "E assim foi que a Divina impôs-se - COMO RESPLANDECENTE LUA CHEIA - para uma noite de serenata".
    Que o poeta perdoe minha tolice rs.
    Também o Theo Lima foi preciso: "Sua voz é: na "medida exata" em todos os sentidos. É veludo e arrebatamento. É enfática com elegância, delicadeza. Visualizada lembraria uma orquídea. A voz da Elizeth tem o dom de ser a voz mais agradável de ser ouvida" Como poderia eu, simples mortal, discordar de uma palavra sequer...Sou adicto da Magnífica há décadas.

    Vi, atônito, o Rafael e a "enluarada", em "show" antológico, no teatro João Caetano. Vastas, profundas , quase "desalinhadas " e inesquecíveis emoções. Foi um transe.

    O Hermínio foi categórico: "quando ela canta tudo fica diferente. Seu registro de contralto passa para a região mezzo e alcança voos incríveis"

    Fiquei tão comovido ouvindo "DEMAIS" nesta belíssima interpretação MAIS QUE PERFEITA, que quase tive uma comoção. Nenhuma outra cantora poderia , pode ou poderá conseguir melhor performance na execução desta música emblemática do que a " Divina". Em sua poderosa garganta ou no seu estupendo gogó de ouro "se alternam as imensas arcadas de um poderoso cello e as misteriosas vozes de uma viola d'amore". Ela é , de fato, LUZ E ESPLENDOR.

    Elis disse que se Deus cantasse, cantaria com a voz do Milton. Abusado que sou, afirmo, categoricamente, que se Nossa Senhora cantasse, seria com a voz daquela já era, em vida, e para sempre, A DIVINA.

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  2. Amigo, mais uma vez, estou aqui "bebendo" seu comentário. Que lindo! Não falei que seus comentários são, em verdade, outro texto do blogue? O que devo fazer? Só agradecer. Meu Deus, você chegou a ver "shows" da Divina? Não digo que você é um "ungido do Senhor, que assistiu à cerimônia da Sagração"? Lembrar O PODER DA CRIAÇÃO, do mestre Nogueira, é um achado. Sempre gostei à beça dessa canção. Lembrei-me, neste instante, de MINHA MISSÃO (J. Nogueira e Paulo César Pinheiro), gravada pela Clara, uma cantora que a Divina adorava, tanto que, numa entrevista ao Jornal Hoje, ela, a Divina, disse que Clara seria sua sucessora:
    Do poder da criação
    Sou continuação
    E quero agradecer
    Foi ouvida minha súplica
    Mensageiro sou da música
    O meu canto é uma missão
    Tem força de oração
    E eu cumpro o meu dever
    Aos que vivem a chorar
    Eu vivo pra cantar
    E canto pra viver
    Elizeth e Clara tinham essa MISSÃO...
    Opa! Acrescentar COMO RESPLANDECENTE LUA CHEIA ao texto do Poetinha foi maravilhoso. Só você, meu amigo. Ai, como amo a Elizeth cantando DEMAIS. Só ela! E, como digo no texto, cantar "a capella" não é para qualquer um. É tarefa para a DIVINA. Sim, se Nossa Senhora cantasse, seria com a voz da Enluarada... Mais uma vez, muitíssimo obrigado. Um beijo imenso.

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  3. Desculpe a desatenção: "seria com a voz daquela QUE já era, em vida, e será, para sempre, A DIVINA. Outros erros ou desatenções, desculpe.

    Agradeço muito sua enorme generosidade neste comentário afetuoso.
    Exagerou, mas é melhor pecar pelo excesso do que pela falta.

    AMEI SUAS CALOROSAS PALAVRAS. Elogios vindos dos super elogiáveis têm mais relevância, evidentemente.

    Não fique incentivando...Depois terá de aturar novas "tonterias" rs.

    Sim, eu conhecia e adoooooro a letra de "Minha missão"...e a Clara "too".

    Beijo maracanânico.

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    1. Querido Marcos, generosidade nada! Gosto muito de sua escrita, sempre lúcida e apaixonada. Você é sempre bem-vindo! Um beijo enorme. Mais uma vez, muito obrigado. Salve, Divina!

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    2. Olá amigo Fábio! Há quanto tempo não nos falamos, hein? Sou o teu amigo Rafael de BH, que trabalhava com pesquisa musical, se lembra ainda de mim? Pois é, os tempos mudaram (e eu também) e agora sou radialista... Tenho a minha própria rádio chamada Rádio Alta Frequência no radioaltafrequencia.com

      Necessito muito falar contigo sobre o último disco lançado pela nossa diva maravilhosa, a Ithamara Koorax, e seu álbum 60 Years Of Bossa Nova. Infelizmente não estou conseguindo achar esse disco para comprar, e gostaria de que você me vendesse uma cópia dele... Você faria isso por mim? Por favor, entra em contato comigo no meu e-mail novo rafaelmolive@gmail.com ou pelo meu Whatsapp no (31) 99205-6627. Fique tranquilo, irei comprar esse disco dela contigo, ok? Entrei em contato com a cantora e ela não mais tem o disco para me vender... Snif!!! Aguardo seu contato!!!

      Grande abraço e dê uma conferida na Rádio Alta Frequência, há também um aplicativo disponível dela na Google Play Store e está cadastrada nos principais portais de rádio online do Brasil e do mundo.

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    3. Rafael, entrarei em contato com você. Abraços.

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