sábado, 24 de setembro de 2011

FURACÃO




Cássia Eller é “a” transgressão. Em seu Ao vivo MTV, visitou, com perfeição, o repertório de Piaf, a primeira dama da canção francesa. Gravou lindamente Non, je ne regrette rien, de Michel Vaucaire e Charles Dumont: “Non, rien de rien / Non, je ne regrette rien (...)”. Francês perfeito. E não conhecia a língua, como ela mesma declarou. Coisa de gênio. Em seu primeiro disco, está uma de minhas preferidas: Que o Deus venha, de Cazuza e Frejat sobre texto de Clarice Lispector: “Sou inquieta, áspera / E desesperançada / Embora amor dentro de mim eu tenha / Só que eu não sei usar amor / Às vezes, arranha / Feito farpa (...). O texto está em Água viva, um dos meus livros preferidos e do Cazuza também. Lembro-me de ter visto/ouvido Cássia pela primeira vez cantando em dueto com Edson Cordeiro. A faixa une duas canções: A rainha da noite, da ópera A flauta mágica, com os agudos - que partem cristal – do Edson, e I can’t get no (Satisfaction), do repertório dos Stones, com os graves rascantes da Cássia. É um duelo de titãs, que está no disco do Edson. No som do carro, aumento bem o volume. Dá vontade de gritar para todo o mundo que tenho essa canção. Que preciosidade. Para algumas pessoas, deve ser difícil saber quem é ‘o homem’ e quem é ‘a mulher’ que cantam nessa faixa. Muita gente não deve ter entendido nada. As pessoas gostam dos papéis bem definidos, dos rótulos. Problemas de uma sociedade que não pensa além, que é bem limitadinha, que se acostumou a pôr as pessoas em caixinhas bem certinhas, em compartimentos estanques. Uh! Viva, Cássia Eller! Cássia Eller é sem fronteiras. Cássia é, acima de tudo, uma transgressora.





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