quinta-feira, 21 de abril de 2011

ACENDAM OS 'FARÓIS DE MILHA'


Por Fábio Brito

Já faz um tempo considerável que venho ouvindo pais dizerem que os filhos não largam o computador. Simples: tire-o da tomada! Ou melhor: “tire-os” (computador e filho) da tomada. É simples mesmo. Não compliquem ainda mais aquilo que vocês não tiveram coragem de resolver no tempo regulamentar, pais. Ah! Tiveram de ir à prorrogação? Paciência! Tentem, agora, marcar um gol. Pelo menos um. Livrem-se do vexame de uma derrota assim... para as crianças.
Pois é, esse assunto, o “uso do computador”, em casa ou fora ‘dela’, é uma questão mais do que delicada. É nevrálgica mesmo. Estamos em pleno século XXI e não há como fugir a isso. No entanto, o que obervo por aí é o mau uso dessa maquininha, que não é, como pensam muitos, a salvação de tudo. O computador não veio para salvar o mundo.  
Pois é, antes, porém, de puxar a tomada (é bom que a situação não chegue a esse ponto), que tal os pais fazerem combinados com as crianças? Os velhos e bons combinados significam, acima de tudo, respeito, organização e disciplina. Combinando antes, não há como mudar as regras do jogo depois que “a bola estiver rolando”. O problema é que, quando há os tais combinados, não só as crianças não os cumprem. Os pais também “furam”. Aí, meu caro leitor, não há como acertar. Instala-se o caos. Se a bagunça impera, a tirania fica por conta dos pequenos. Pais apáticos e passivos de um lado; crianças tiranas do outro.
Nas escolas, a bagunça não parece tão distante da que se vê em casa. Há muita gente perdida (muito perdida!). Muitos educadores não sabem o que fazer ou como agir. Para se ter uma ideia, muitas escolas já se acham capazes de abandonar o livro didático. Ih! Perigo à vista! Eu sempre soube que, em se tratando do computador, ele é – e continuará sendo - uma ferramenta. Simplesmente isso. É preciso que se tire “dele” o que de bom ele tem a oferecer. As escolas ainda precisam da presença das pessoas (dos professores). Precisam do elemento humano. Precisam, acima de tudo, de bons professores. Bons mesmo!
Só para ilustrar esse assunto: presenciei, dias atrás, a aflição de uma mãe cuja filha teve de ficar sem INTERNET durante uns dias: “Como ela fará os trabalhos de escola?” Como?! Respondi sem pestanejar: “Fazendo! Recorrendo aos livros!” Para essa mãe, não há escola sem NET. Não há trabalho fora da escola sem NET. Para ela, nem vida sem NET deve haver.
Pois é, para mim, para você, leitor, e para outras pessoas (raras, é claro!), a INTERNET não é fonte de pesquisa, mas um simples “veículo de transporte”, como eu já disse em outros textos. Entretanto, não posso “medir o mundo com minha régua”. Constato, então, que, para a maioria das pessoas, infelizmente, a NET é, sim, fonte de pesquisa... e das mais valiosas. Pura enganação? Iludem-se com isso? Alunos pesquisam e estudam mais com a NET? Pensemos sobre isso.
Em texto publicado no jornal “Folha de S.Paulo” em 27-09-10 (“O casal Macbeth”), Luiz Felipe Pondé chama a atenção, com “autoridade na palavra”, para o papo furado acerca da “evolução” dos jovens, os “nativos digitais”, que “olham pra telas de computador e falam amenidades no celular o tempo todo”. Concordo plenamente com Pondé. Bela “evolução” a desses jovens! E complementa: “(...) eu, como cético que sou, prefiro fazer os jovens lerem Shakespeare”. Eu também. Impossível? Nada! Sensibilizá-los primeiro, por mais que pareça difícil, é o caminho. Posso dizer... com certeza: sensibilizo – e sempre sensibilizei - alunos. Conheço muitos que, por meu intermédio, apaixonaram-se por Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Adélia Prado, Drummond, Manuel Bandeira, Cecília Meireles...
Hoje, mais do que nunca, jovens e crianças precisam ser apresentados a outras formas de lazer e de prazer. Precisam ser apresentados, por exemplo, ao velho e bom livro. Precisam ser apresentados aos bons escritores: - Muito prazer, Guimarães Rosa! Se as crianças não “largam” o computador, é porque elas não conhecem outros prazeres.  Pois é, acendam os “faróis de milha”, pais e educadores! Tentem enxergar um pouco mais adiante. Ainda há tempo... Espero.



3 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog. estarei sempre pro aqui.

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  2. O senhor deu propriedade as palavras de Pondé - na verdade ele adquiriu por méritos, o senhor concordou - e eu vejo propriedade nas suas palavras. Afinal, eu sou, ao menos considero-me, um dos alunos que apaixonou-se por Clarice, Manuel, Cecília, Adélia...
    ...por intermédio do senhor.

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