quinta-feira, 21 de abril de 2011

HÁ ALGO DETERIORADO NO REINO DA EDUCAÇÃO

            Fábio Brito
Em 1982, para ser preciso, Ney Matogrosso, com participação de Rita Lee, gravou UAI, UAI, parceria da própria Rita com Roberto de Carvalho. Em seus versos, a canção nos diz: “Professor que não sabe o bê-a-bá, shhh / Faz de conta que ninguém viu nada, oi / Faz de conta que ninguém viu nada”.
Pois é, são esses versos que servirão de mote para esta historinha, que é bem simples (ou não!): manhã de um outono convidativo. Um grupo de professores e “professores” de disciplinas “que abrem horizontes”, como muitas pessoas apregoam, sai de sua cidade (pense, leitor, em uma cidade fictícia) em direção à capital. Logo de saída, já ocorre o primeiro pecado: o velho e conhecido atraso. Tudo bem. O problema é dos chatos e certinhos que gostam de tudo “direitinho”.
O objetivo da viagem é a visita a uma exposição cultural. No grupo, infelizmente, há os que não demonstram qualquer interesse pela exposição e passam rapidamente pelo local. Querem mesmo é o shopping, sonho de nove entre dez estrelas das salas de aula. Daí a pressa no espaço da exposição. Exagero? Não sei.
E o grupo não só vai ao shopping, como sai de lá feliz que só vendo. A felicidade é tanta que houve gente que, literalmente, ficou perdida naquele “país das maravilhas”. Sacolas e mais sacolas! Muitos, nessa hora, devem ter desejado, em vez de braços, tentáculos. Só dois braços?! Sem querer ser pessimista, desconfio de que em nenhuma das sacolas havia livros. Para quê? Livros as pessoas “pegam emprestado”, não é? Depois, nem os devolvem, o que tem sua coerência: por que devolver o que não é importante? Ah, e só leem quando “rola” uma obrigação.   
Cabe, aqui, pensar nas crianças educadas por esses “professores”. Desnecessário dizer que, em meu elenco de bons professores (é provável que essa expressão, “bons professores”, tenha sido pleonasmo algum dia), de fora estão os ratinhos de shopping. Você, leitor, que deve estar pensando em minha provável caturrice, em minha rabugice, perguntará: “Quer dizer, então, que professor não pode ir a shopping?” Pode! O problema não é o shopping, mas o valor que se dá à aparência e às futilidades, ao consumismo desenfreado. E o pior é que esse consumismo não tem nada a ver com o que chamamos de “bens culturais”. Consomem-se as futilidades mesmo. As pessoas continuam valendo pela aparência, pelo carro que têm, pelo cargo que ocupam. Até pelo último modelo de celular, ou pelo iPad 2, que acabaram de comprar. Que pena! E os professores não estão fora dessa “roda”.   
Professor tem de ter embasamento cultural. Professor tem de consumir livros, revistas, jornais. Tem de ir a teatro. Tem de assistir a bons filmes e a bons programas de TV. Tem de ouvir boa música. Professor tem de estar “antenado”. Professor, antes de tudo, tem de ser professor-leitor.  
Voltemos aos versos de UAI, UAI: “Professor que não sabe o be-a-bá shhh / Faz de conta que ninguém viu nada, oi / Faz de conta que ninguém viu nada”. Até quando? Até quando teremos de tapar o nariz sempre que o cheiro não for muito agradável? Outros versos da mesma canção dizem o seguinte: “Burro que não gosta de capim / Tá com ‘arguma’ coisa errada, oi”. Pois é, professor que não gosta do que faz “tá” com “arguma” coisa errada. Talvez a vocação seja outra.  

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