quinta-feira, 21 de abril de 2011

MUITO CACIQUE

Fábio Brito

Dias atrás, li um texto que começava assim: “O gerente ‘fulano de tal’ diz que...”. Li mais um pouco e, outra vez, a palavra ‘gerente’ surge ao lado do nome do rapaz. Li todo o texto... e nada de eu saber a profissão do tal moço. Para o redator, e também para o rapaz, a profissão era... ‘gerente’. Com uma boa caneta vermelha, escrevi ao lado: “Gerente de quê?” Qual a profissão dessa pessoa?
Devo confessar que não foi a primeira vez que constatei esse tipo de “dificuldade” (vamos chamar assim) que muita gente tem para distinguir profissão de função. Claro que não se trata de qualquer função! Quem não é chefe, ou seja, quem não manda (em nada e em ninguém) não confunde. Sabe direitinho a diferença entre uma e outra. Ao preencher alguma ficha, não vacila: profissão e função são “coisas” distintas. Fui claro?
Pois é, essa suposta confusão entre cargo/função e profissão traz à tona uma questão deveras preocupante e que, faz um bom tempo, ‘causa-me’ certa inquietação (para usar um termo ameno). Trata-se da necessidade de chefiar. Todos querem ser chefes! E várias empresas, é bom que se ressalte, fomentam, estimulam – do seu jeito, é claro – essa necessidade.  Alegam que isso é o sonho de todos. Pronto! Lá vem o tal do sonho. Acenderam o pavio. Quem não quer sonhar? Quem não quer ascender profissionalmente? Quem não quer ter o que chamam de “uma vida melhor”? Claro que estão pensando somente no aspecto financeiro. Quando dizem “vida melhor”, é bom que se entenda assim: “mais dinheiro”. Só! E agora?
Agora... salve-se quem puder! Quem não quiser ser chefe será – é óbvio! – discriminado em muitas instituições. Será visto como o que não quer crescer, o acomodado, o alienado, o descansado. E o pior: o  que não “veste a camisa da empresa”. É... para “vestir a tal camisa”, é condição “sine qua non” (“sem a qual não”) querer ser chefe. Diante desse quadro, é claro que não faltarão candidatos a chefe. Nessa corrida, os “ungidos do Senhor” surgem, quase por combustão espontânea. Vestiram a bendita camisa. Começam, então, as sessões de tortura para os subordinados aos “novos” chefes.
Por que tortura? Porque, certamente, o cargo tão desejado dará à pessoa que o conquistou (?) uma arrogância ímpar. Todo um sistema opressivo, explorador e autoritário usará essa pessoa como instrumento, como veículo. É como se esse sistema dissesse: “Mostre seu poder! Se você não se impuser, outros tomarão seu lugar”. E é exatamente aí que começam as tiranias. Imbuídos da ideia de que podem tudo, de que são poderosos, os tais chefes não se importam com o outro. Sem preparo algum, essas pessoas transformam-se em exemplos patéticos de pequenas autoridades.
Na década de 80, a extinta TV Manchete exibiu um seriado chamado “Joana”, com Regina Duarte. Um dos episódios, cuja história é ainda muito forte para mim, focava exatamente essas pequenas autoridades. Se minha memória ainda for confiável, a história é mais ou menos esta: coube a uma pessoa a tarefa de fechar a portão do local onde seria realizada a prova ‘para’ um concurso, se não me engano. Encerrado o tempo para a chegada dos candidatos, ninguém mais poderia entrar. Pois bem, no momento exato em que os portões ‘eram’ fechados, eis que ‘surge’ um candidato esbaforido, que, por um triz, não pôde entrar. O tal candidato chorou e implorou, mas o funcionário não o deixou entrar.  Ao assistir a esse episódio, passei a observar com mais atenção as pequenas autoridades que há por aí. Não apaguei da memória a expressão no rosto de quem, naquele momento, mandava.
Muitos que mandam “vencem” (é uma luta!) pela força, pela imposição. Se os subordinados são ignorantes, mais fácil ainda. Os ignorantes submetem-se. Não lutam ou questionam. Assim, tiranos e ditadores sem preparo reinam absolutos por aí. Dizem sempre (estou cansado de ler entrevistas!) que venceram pelo esforço, pela dedicação. Chavões, chavões e chavões. Contem outra. Venceram, sim, pela tirania e pelo despreparo. Incrível, não?! Ufa!


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