quinta-feira, 21 de abril de 2011

FLOR DE ESTUFA

Fábio Brito

Em 2010, dois adolescentes - em um texto avaliativo - disseram-me que Dilma Rousseff e José Serra eram candidatos ao governo de São Paulo. Uh! Em meio a espanto e irritação, perguntei a outros jovens se eles têm lido, da forma tradicional ou via INTERNET, jornais (mesmo que só as manchetes) ou revistas. Silêncio total.
Pois é, a falta de leitura, esse mal que tem cura, não acomete somente adolescentes. Há outras espécies doentes também, como professores adultos. Parece inadmissível, mas há professores (e não são poucos!) que não leem. Como devem ser as aulas?! Com pouco esforço, consigo imaginá-las. Cuidado, professor! Sem leitura, fica instituído o império da repetição. E organismo que se repete costuma morrer. Entretanto, mesmo morrendo, pode haver ressurreição, viu?! Talvez seja a hora de aquelas folhinhas amarelecidas pelo tempo – e que você guarda com tanto zelo – irem para o lixo. Comprar livros, jornais e revistas não dói. Ler também não. Que tal investir nisso?
Pois é, e olhe que as leituras do dia a dia, como as que dizem respeito às eleições deste ano, não exigem de nós muito esforço. Elas vêm ao nosso encontro: batem à nossa porta ou entram janela adentro. Não precisamos correr atrás “delas”. Por que, então, o pouco caso de alunos e professores acerca de assuntos que nos deixam “minimamente” informados? Se a nem esse tipo de leitura muita gente (não só os jovens!) quer ter acesso, não é tarefa difícil imaginar como deve estar a situação da literatura. Nada menos que desesperadora. Espantoso? Não!
Literatura, hoje em dia, virou “flor de estufa”. Se, porventura, dissermos que estamos lendo um livro, muita gente nos olhará com espanto, como se tivéssemos sido abduzidos por um extraterrestre. A literatura ausentou-se há tempos da realidade contemporânea de muitos, o que é triste e frustrante. Sem literatura, a vida fica bem acinzentada, fria, prática, utilitarista. O tipo de experiência que a literatura nos dá é único, insubstituível. Muitos não sabem disso. Que pena!
E, quando digo “literatura”, não me refiro a esses manuais - vendidos em aeroportos e rodoviárias - que “ensinam” alguém a ser feliz (ou a atingir o orgasmo) em dez lições. A ler isso, é preferível catar coquinho. Isso que dizem ser literatura e é vendido “a rodo” por aí não causa nada além de “adiposidades cerebrais” (expressão de Mário de Andrade em seu poema “Ode ao burguês”). É... Schopenhauer deve ter razão: “(...) Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos (...)”. É preciso saber escolher.
Literatura (da boa!) é o que tira o encardido da alma, o que nos torna pessoas melhores, o que muda nossa vida. Ao lidar com a imaginação, a literatura nos faz enxergar outras formas (possíveis!) de vida e que estão muito além de nosso dia a dia apequenado e mesquinho. A literatura, e muitas pessoas não me deixam mentir, cria outras realidades. Os conteúdos da ficção literária, por exemplo, compõem-se de imagens vindas do mundo real. Não é maravilhoso isso? Pena que muita gente desconhece...
Pois é, a literatura nos faz sentir que não estamos sozinhos, isolados no mundo. Em nossa miséria, em nossa alegria, em nossa dor, em nosso desconsolo, em nosso prazer, em nossa solidão, não estamos sós. Existe a literatura, que ‘expõe nossos problemas a uma nova luz e oferece diferentes possibilidades e experiências’.
Por que, então, ainda persiste a idéia de que a literatura tem de ser para poucos? Somos um país imenso, é bem verdade. No entanto, temos pouquíssimos leitores. Triste constatação. Até quando?

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