quinta-feira, 21 de abril de 2011

DÊ UM CLOSE NELES

 Fábio Brito


Vivemos em um mundo dominado pela imagem. Não há dúvidas quanto a isso, não é mesmo? Só para ilustrar, há uma historinha que revela bem o que chamam de “hipertrofia da imagem” no mundo contemporâneo: respondendo a amigas que visitam seu filho recém-nascido e tecem elogios à beleza da criança, a mãe é categórica: “Vocês só dizem que o bebê é bonito porque ainda não viram o vídeo (ou as fotos) ‘dele’”.
Não faz muito tempo, assistindo a um programa de TV, uma cena ficou difícil de ser apagada de minhas “retinas cansadas”: em um aeroporto, desde o momento do desembarque do marido, a esposa, portando uma câmera fotográfica, não parou de fotografá-lo um minuto sequer. O marido, que voltava de outro país onde ficou trabalhando durante meses, teve uma recepção digna de um astro do ‘rock’. A “sessão” de fotos, que teve início no momento em que o rapaz desceu do avião, só cessou quando o casal estava praticamente “cara a cara”, colado. Sem querer ser maledicente, desconfio de que ela deve ter iniciado sua “sessão” de fotos antes mesmo de os passageiros desembarcarem. Ou seja, começou fotografando só o avião. Observei com muito vagar essa cena, que, até hoje, continua muito nítida para mim. Para essa esposa, fotografar o marido parecia ser mais importante que lhe dar um abraço ou um beijo.
Em festas e eventos a que, vez ou outra, compareço, a situação é praticamente a mesma. Ou seja, o culto às fotografias e às filmagens também impera. Dias atrás, em uma cerimônia de colação de grau, não pude deixar de constatar que muitos não puderam “curtir” a formatura das pessoas queridas porque ‘perderam’ (em minha visão, é lógico!) muito tempo com fotos, fotos e mais fotos. Desnecessário dizer que os “fotógrafos”, ávidos pelo registro de todos os gestos de seus “fotografados”, sequer ouviram uma linha de quaisquer discursos. Mais: se lhes perguntarem que músicas fizeram parte do cerimonial, dificilmente saberão dizer. A função de fotógrafos amadores tomou-lhes muito tempo, que não poderia ser desperdiçado com bobagens como ouvir textos que citavam, por exemplo, fragmentos de obras de Fernando Pessoa. Uma pena...
Na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, há uns dois anos, tive de parar para observar pessoas que insistiam em fazer “caras e bocas” perto de vários estandes montados nos pavilhões. Faziam questão de que o nome da editora fosse focalizado. E os livros? Não vi quaisquer sacolas nas mãos de quem fotografava ou de quem era fotografado. Talvez seja desnecessário perguntar se essas pessoas chegaram a participar de algum debate com escritores que lá estiveram. Mais adiante, um grupo disputava a tapas o momento de tirar fotos com artistas - atores, principalmente - que passavam pelo local. Às vezes, “sobrava” um tempinho para uma foto com um escritor... bem popular, como os “reis” da literatura (?) de autoajuda. É bom que fique bem claro: para essas pessoas, a foto só valeria a pena” se o escritor fosse bem famoso. Nas mãos, nada de livros! Que pena! Comparecer a uma Bienal é uma oportunidade ímpar... para mim, pelo menos.  
Pois é, e o que mais me assusta é que esse culto sem limites da imagem, principalmente entre os jovens, só cresce... e assustadoramente. O que fica evidente é que, sem as fotografias, as filmagens e os espelhos (sempre os espelhos!), muitos não suportam a vida. Com isso, não estou dizendo que não se deve gostar do belo. Não é nada disso! O problema é quando, em detrimento do essencial, a aparência passa a ser o mais importante na vida das pessoas. É... sempre vale lembrar Clarice Lispector: “Minha aparência me engana”. Muita gente não sabe disso.  Muita gente continua acreditando e investindo apenas na aparência.


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