sexta-feira, 29 de abril de 2011

O PARAÍSO É AQUI

                                                                        Fotos: Fábio Brito


Fábio Brito             
                                      
“O paraíso é aqui”, ou “The paradise is here”, cantou Tina Turner. Ouso dizer que o paraíso é mais perto do que imaginamos. Em um cantinho próximo ao “Camping do Jubarte” e depois da “Praia dos Cações”, em Marataízes/ES, fui apresentado a um local agradabilíssimo, um pedacinho de praia esquecido – ainda bem - pelo que chamam de progresso.
Foi nesse cantinho que Glauber Benincá Coelho construiu sua “casa de vidro”, batizada assim por sua mãe, Cecília, e seu pai, Jairo. Cercada de casuarinas, a casa se destaca na paisagem. Do segundo piso, onde fica um espaçoso e arejado quarto, é possível assistir ao nascer do sol todos os dias. Depois que um alaranjado imenso se forma ao fim do horizonte, eis que, imponente, surge a “hóstia incendiada”*. É Cecília quem nos conta do prazer quase inenarrável que é assistir a esse espetáculo todos os dias: “Lá, não é a gente que vê o sol nascer. É o sol que nos acorda”. Ela também nos conta da beleza que é o surgimento da lua. É indescritível seu brilho prateado refletido no mar, tanto que, dias atrás, dois “perdidos” apareceram por lá. Foram conferir o esplendor da lua, ainda mais bonita nesse cenário. Não deve mesmo bater a mínima vontade de sair desse mundo paradisíaco, tamanho é o encanto do lugar e de sua já famosa “casa de vidro”.
Em meio a galinhas com pintinhos e a poucas casas de outras pessoas que também buscam a tão sonhada paz, Glauber deixa Frederico, seu filho de 7 anos, mais do que à vontade. Assim como o pai, o garoto também parece dar muito valor ao prazer, que nasce – e se perpetua – quando se faz aquilo de que se gosta. Não há dinheiro que pague isso. Nos fins de semana, o roteiro da família já está definido: a “casa de vidro”. É também nesse espaço que Glauber dá aulas a quem quer aprender a velejar e, em breve, vai inaugurar uma pousada em que tudo é rústico: da pia, uma panela de barro estilizada, aos lustres, todos em corda. Nos feriados, a lotação está sempre esgotada. 
Ao visitar esse paraíso e conhecer sua “casa de vidro”, foi inevitável não lembrar alguns versos do poema “Fluência”, de Adélia Prado: “O relógio bateu sem assustar os farelos sobre a mesa / Como antes, graças a Deus”. Pois é, o silêncio, a calmaria e a paz parecem ter parado o tempo ‘pra’ gente descansar, como dizem por aí. Ali, o tempo não segue seu curso frenético e neurotizante. Ele é parceiro de quem quer manter alma e coração tranquilos, longe do estresse da cidade e seu dia a dia atrás de dinheiro. É Cecília quem nos relata ainda que, na virada do ano, as pessoas que lá estiveram não deixaram por menos no momento de fazer o grande pedido: “Esperamos que o progresso nunca chegue por aqui”. Tomara!   

P.S.: Gláuber é meu primo.        
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Expressão extraída da letra da canção “Iluminada” (Frederic Chopin - adaptação de Ary Sperling e Aldir Blanc, gravada por Ithamara Koorax em seu álbum “Serenade in blue – my favorite songs, de 2000)




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