quinta-feira, 21 de abril de 2011

'TECNEURÓTICOS'

Fábio Brito

Dias atrás, à tarde, recebi um telefonema bem comum para muita gente: perguntavam-me se eu AINDA não havia lido um 'e-mail' enviado de manhã. Calmamente, respondi: NÃO. Não fico o dia inteiro lendo mensagens, abrindo caixa postal. Entretanto, na cabeça de muita gente, devemos ter um “smartphone” grudado na palma da mão, ou um “iPad” (recém-chegado ao Brasil) sempre na bolsa, ou ostentar um “notebook” pendurado no pescoço o tempo todo. Triste constatar: muitos agem assim.
 Recentemente, em um programa de entrevistas, ouvi que o grande segredo da vida é fazer tudo com calma. E deve ser mesmo. “Devagar, devagarinho”, de Eraldo Divagar, sucesso de Martinho da Vila, confirma isso: “(...) Devagarinho / É que a gente chega lá (...)”.  Sem estresse, por favor.
  E o imediatismo não se restringe a ações do dia a dia. No campo amoroso, por exemplo, ele também é imperioso. Depois da INTERNET, então, há pessoas indo ao inferno atrás de encontros amorosos.  Se os lugares forem próximos, aí é que o clima esquenta mesmo. São encontros e mais encontros em progressão sem fim. Conheço algumas pessoas que são, literalmente, fissuradas por esse tipo de encontro. Meu Deus! Isso é patológico e, como tal, requer tratamento. E o pior de tudo: muitos andam “dando com os burros n’água”. Marcam encontros e ‘se’ metem em situações mais do que embaraçosas. Se saírem vivos... Que necessidade é essa? Deve ser alguma febre.
Voltando a falar do programa de entrevistas a que assisti, um dos entrevistados disse que não atende ao celular. “Taí” o aparelhinho da pressa, do agora, do imediato, do “para anteontem”. Segundo esse mesmo entrevistado, quem telefona do celular quer, geralmente, “pegar” a outra pessoa. E é mesmo! Nunca alguém me ligou para me oferecer um pudim, por exemplo. Não raro, é para pedir algo, cobrar ou reclamar. Devo frisar que tiro os amigos desse “rolo”, bem como os assuntos sérios, é claro. Ainda na entrevista, a pessoa nos lembra que os que ligam e não são enjoados deixam recado. Quem não deixa recado quer, invariavelmente, surpreender o outro, evitar que ele escape.
 Posso confessar sem susto: a cada dia, aumenta minha ojeriza a telefone, seja celular ou fixo. Costumo brincar que “telefone não é coisa de Deus”. E não deve ser mesmo. Se alguém quiser me encontrar, ligue para o fixo. Se eu atender ‘ao chamado’ é porque, naquele momento, com certeza, estou disponível. Ô aparelhinho invasivo! Quer um exemplo clássico da inconveniência do telefone? Pessoas que trabalham atendendo clientes em uma fila. Se elas param para atender ao telefone, o que acontece? Deixam de atender uma, duas pessoas que estão à sua frente há algum tempo. E quando o telefonema é para tentar resolver algum problema que deve (ou deveria) ser resolvido pessoalmente? Aí, é óbvio, o telefone “fura a fila”.
É bom reforçar: depois que surgiu o celular, parece que as pessoas deixaram de planejar suas atividades, seus compromissos. Ligam para avisar sobre alguma mudança que deveria ter sido comunicada com bastante antecedência, mas não houve tempo. Não agendaram. Se podem ligar para o celular e, no improviso, solucionar algum problema (ou encontrar a pessoa procurada), por que vão pensar em planejar? Antecedência é palavra que já sumiu do dicionário de muitos.
Esse imediatismo é algo neurotizante! Quero essa vida não! Quero, como já disse inúmeras vezes, um lugar bem tranquilo e, de preferência, afastado do tumulto das cidades e seus insuportáveis telefones. Quero muita água de cachoeira, muito verde e muita paz para o espírito, que tem andado meio agitado. Tenho medo de enlouquecer por pouca coisa. As novidades tecnológicas, que deveriam “facilitar” (no melhor sentido) a vida das pessoas, chegaram, em verdade, para causar doenças e mais doenças. E há muitos “tecneuróticos” superlotando consultórios por aí...  





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