quinta-feira, 21 de abril de 2011

O COCO, O PALITO E A GARRAFINHA

             Por Fábio Brito

‘As praias desertas’, aquelas que ‘continuam esperando por nós dois’, como as da canção do maestro Jobim, são, com certeza, as mais desejadas pelas pessoas que primam pelo respeito, principalmente à natureza. O que se vê, de fato, em muitas praias, durante os três (!) meses de um verão sempre anunciado com muito estardalhaço, é um grande ‘lixão’. É falta de respeito total.
Quando se fala em bagunça, barulho, desordem e sujeira na praia, muitos pensam – imediatamente - nos ‘farofeiros’, o que chega a ser explícita manifestação de preconceito. ‘Farofeiro’ não é sinônimo disso tudo, embora alguns, assim como tantas outras pessoas, não estejam ‘nem aí’ para a limpeza. Falta de cuidado e de respeito em relação à praia (e, por extensão, a toda a natureza) dispensa classe social, etnia, religião, sexo ou idade.
Até Ipanema, por exemplo, cujo calçadão é o eterno palco para desfile de ‘famosos’, é o caos ao fim de um dia em ‘que deu praia’, como dizem. Talvez tenha dado mais lixo do que praia. Engana-se quem ‘acha’ que, em praias consideradas nobres, porque frequentadas por pessoas de classes mais abastadas, a falta de educação (e de respeito) não se faz presente. Muito lixo pode ser visto em toda a areia da tão decantada Ipanema depois de um dia de sol. Depois de aplaudirem o momento em que o “astro rei” se põe, o que é um gesto comovente dos frequentadores dessa praia, os banhistas deveriam vaiar o lixo (ou melhor, quem jogou o lixo) que se estende até onde os olhos alcançam. É sujeira à beça. Só vendo.
Não há lugar mais democrático do que praia, não é mesmo? ‘Farofeiros’, ‘mauricinhos’, ‘patricinhas’, gordinhos e magrinhos. O espaço é de todos. E todos, sem exceção, devem (ou deveriam) cuidar, assim como cuidam de suas casas, desse espaço. Infelizmente, não é o que presenciamos. Garrafas plásticas (e plástico leva uma ‘encarnação’ para desaparecer), palitos de picolé, coco, fraldas descartáveis (que abuso!), ‘filtros’ de cigarros, sabugo de milho, latas de refrigerantes... Impossível listar tudo. Se alguém quiser, aventure-se pelas praias e faça sua lista. Segure o queixo, ‘hein’!  Para usar uma expressão de Clarice Lispector, parece que “uma horda de seres vivos” passou por ali, tamanho é o rastro de destruição. Devoraram tudo que encontraram pelo caminho. E o pior é que sobrou algo para contar a história. Melhor ‘que’ não tivesse sobrado.
Saindo da areia e tentando caminhar pelas calçadas, o desespero não é menor. Lixeiras, quando há, não são usadas. Simplesmente, muitas pessoas não devem saber para que serve o recipiente em que esbarram vez ou outra. As ruas assemelham-se a grandes “latas de lixo”. Ainda assustado e indignado (e espero que o espanto e a indignação não cessem nunca!), vejo pessoas atirando ‘tudo’ das janelas dos carros. Será que é tão difícil deixar uma ‘sacola’ dentro do ‘automóvel’? Por essas e outras, é constrangedor ter de andar pelas ruas driblando uma latinha aqui, um coco ali e uma caixa de papelão acolá.
 Ainda sobre o ‘quesito’ calçada, desnecessário comentar sobre “o” que os cachorros vão deixando pelo caminho. Seria tão bom se as pessoas saíssem com suas sacolinhas e recolhessem as sujeitas que seus “bebês” produzem, não seria? Pois é, mas não é isso que vemos. Não raro, pisamos cocôs de cores e consistências diversas e, embasbacados, não sabemos o que fazer. Limpar no meio-fio ou com um pedaço de madeira? Tirar os sapatos (ou as sandálias)?  Poupem-me disso! Sejamos minimamente educados. Viver em sociedade não é fácil. Pior ainda quando temos de viver educando, sem sucesso, outras pessoas. Que cansaço!


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