quinta-feira, 21 de abril de 2011

ANTES NUNCA DO QUE CEDO


            Fábio Brito

Em seu “Brasa sob cinzas: estórias do anti-cotidiano”, Leonardo Boff nos diz que, na China, é comum as pessoas, principalmente idosos, abraçarem árvores. Buscam, assim, a revitalização dos centros de energia da vida humana. Confesso que, por causa da beleza, do porte elegante e da altivez, já estive tentado a abraçar muitas árvores. Os ipês, principalmente os amarelos, são deslumbrantes. Dá vontade não só de abraçar, mas de beijar também. Mas, por enquanto, contento-me em fotografá-las.
Pois é, mas essa história de abraçar árvores é apenas o mote para um assunto deveras importante. Outro dia, em minhas frequentes caminhadas, julguei ‘deparar-me com’ pessoas abraçando árvores. Ledo engano. Estavam ‘fazendo alongamentos’. Provavelmente, sem quaisquer orientações. No momento, até brinquei com um amigo: devem estar abraçando as árvores... ou tentando arrancá-las.
E por falar em alongamentos, muitos não me deixarão mentir: todo início de ano é marcado pela chegada dos ‘atletas de janeiro’. Quem tem o hábito de fazer caminhadas acaba acostumando-se com as pessoas que, nos mesmos dias e horários, também caminham. Formamos um grupo de ‘amigos’, mas sem que troquemos quaisquer palavras. No máximo, um cumprimento, um balançar de cabeças. Assim, quando a esse grupo são incorporados novos ‘amigos’, imediatamente notamos as carinhas diferentes: há novos adeptos da caminhada no ‘pedaço’. Oba! E janeiro é o mês em que essas novas carinhas chegam ‘aos montes’. São gordinhas, magrinhas, altas, baixas, novas, idosas...
Entretanto, essas novas carinhas só aparecem mesmo em janeiro. São pontuais. Se alguém quiser, é só verificar in loco. Mal começou o ano, elas estão lá: correm, suam, mostram-se esbaforidas. Passam por nós, os “caminhantes” de janeiro a dezembro, várias vezes: vão e vêm incessantemente. Enquanto estamos na metade da primeira volta, elas deram várias. Desconfio (ou tenho certeza?) de que excedem todos os dias. Não se contentam com meia (ou uma) hora por dia de caminhada (ou corrida). São várias horas. Adivinhe, então, qual o principal objetivo da maioria dessas pessoas? Uma bandeja de brigadeiro para quem acertar. Aprovado com louvor quem disse “praia”. É... o foco é a praia. P-R-A-I-A!
A aparência falou mais alto. Esses ‘atletas de janeiro’ caminham até, no máximo, sexta de manhã. À tarde (ou à noitinha), é hora de pegar o caminho da praia e mostrar o corpo ‘malhado’ durante a semana. É claro que ninguém, exceto o próprio ‘atleta’, viu quaisquer resultados dessa malhação de última hora. Tudo bem. A autoestima lá em cima é o que conta, não é mesmo? O que importa é como cada um se vê no espelho.
Mesmo que o principal objetivo dessas pessoas fosse o cuidado, a preocupação com a saúde, ainda assim muita ‘coisa’ estaria torta. Não se passa a ter um bom condicionamento físico ‘num’ passe de mágica. Exercícios (físicos) são imprescindíveis. Ninguém nunca me disse o contrário disso. No entanto, eles não podem ser praticados de maneira irresponsável. Antes, porém, recomenda-se uma avaliação médica rigorosa. Estou mentindo?
Longe de mim qualquer tom ‘professoral’, mas tenho em mente que devemos cuidar da saúde sempre. Portanto, a prática de exercícios físicos deve ser regular. Não é “botando os bofes para fora” durante apenas um mês que estaremos cuidando da saúde ou até mesmo da aparência. Poderemos, ao contrário, prejudicá-las. E alguns danos podem ser irreversíveis. Parece-me que, mais uma vez, a cultura da última hora se impõe. Para muitos, o “antes tarde do que nunca” continua valendo. Ou o “antes nunca do que cedo”. Pensar na saúde bem cedo, antes que tenham início alguns problemas, é primordial. Caso contrário, algumas pessoas terão de rebolar para cuidar dessa bendita saúde.

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