quinta-feira, 21 de abril de 2011

A DESELEGÂNCIA NOSSA DE CADA DIA

Fábio Brito

Segundo o ‘Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa’, o adjetivo “elegante”, em uma de suas acepções, diz respeito a “boas maneiras”, “boa educação”. Eis, então, um bom mote para este texto: elegância (ou a falta de).
Tenho notado que boas maneiras e boa educação ausentaram-se há tempos do mercado. Destarte, a elegância também sumiu. É algo raríssimo. Um dos sinalizadores disso é a necessidade exacerbada de exposição da imagem. Todo o mundo quer aparecer. Todo o mundo quer fama, “custe o que custar”. Os “reality shows” são um ótimo exemplo disso. Assim que determinada ‘edição’ do programa chega ao fim (ou até antes do término), vários de seus participantes têm cachê garantido em ‘revistas de nu’. Diversos artistas também ‘andam posando por aí’. Dizem as más (?!) línguas que muitos, após a publicação, deveriam pedir desculpas. Nem o “photoshop” deu jeito. No entanto, expuseram-se. É o que importa. Foram vistos e ‘invejados’. Tornaram-se o “centro das atenções”, a “última bolacha do pacote”, o grande motivo da inveja alheia. É o império da mediocridade.
 Continuemos com o quesito aparência: todos, sem exceção, escolhem as melhores fotos (“photoshopadas”, é claro!) para o “Facebook”. Todas as meninas e todos os meninos têm um “book”. De uns tempos para cá, as meninas (crianças ainda) são levadas (é uma necessidade) a um fotógrafo renomado que preparará o “book”. Fotos e mais fotos produzidíssimas. Artificiais ao extremo, mas que agradam a toda a família: do avô ao priminho distante. No computador, difícil encontrar alguém que não tenha um respeitável arquivo de fotos. As gestantes também ganharam seus “books”. Parece que o mundo virou um grande álbum. É o reinado da aparência. Tanta exposição é muito deselegante. Ponto para a falta de elegância.
O celular, aparelhinho sobre o qual não me canso de tecer alguns comentários, também é outro vilão da elegância. Para muita gente (muita mesmo!) é mais do que chique ter um de última geração. Quanto mais recursos ele tiver, melhor. Mais respeitada a pessoa será. Pois é, mas é preciso saber usá-lo... com elegância. Até quando terei de ouvir as pessoas, ao celular, gritarem suas intimidades em ruas, repartições públicas, restaurantes, escolas...? É deselegância ao extremo, não é? Até quando terei de ouvir os mais esdrúxulos ‘toques de campainha’? Latidos, zurros, balidos, buzinas e gritos são alguns dos sons a que sou submetido constantemente. ‘Modo silencioso’? Nem pensar! Se ele for acionado, o dono do celular não será visto. Mais deselegância impossível. Está pensando que acabou? Resta algum fôlego, leitor? Prepare-se! Deselegância é algo que parece não ter fim. É sangria desatada mesmo.
Ainda sobre o celular, mais situações explícitas de deselegância podem ser observadas a todo o instante. Muitos motoristas não se cansam de usar o inseparável aparelhinho enquanto dirigem. Desconcentram-se, é lógico. E podem perder o controle do veículo. Será que é tão difícil parar o carro durante alguns segundos enquanto fala ao celular? Não! Lógico que não! Entretanto, para muitos, essa simples atitude deve ser uma tarefa hercúlea. De onde vem tanta pressa? De onde vem tanto estresse? É deselegância total que acaba estressando outras pessoas. 
Deselegância, atrevo-me a dizer, é uma droga pesadíssima e vicia mesmo. Muitas pessoas não sabem viver sem ela. Por isso, tomam (na veia!) doses homéricas diariamente. Muitos andam ‘traficando’ deselegância por aí. E os traficantes, como sabemos, têm um poder de persuasão incrível. Há salvação? Não sei. Saia dessa quem puder.















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