quinta-feira, 21 de abril de 2011

CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO ESPÍRITO

Fábio Brito

Todos nós, indistintamente, já ouvimos, pelo menos uma vez na vida, esta ‘sentença’: “Tenho tantos anos, mas meu espírito é muito jovem”. Sempre detestei ouvir isso, mas nunca soube como reagir, ou o que responder às pessoas que diziam tamanha bobagem.
Ao ler “Perdas & Ganhos”*, porém, encontrei a resposta que eu gostaria de ter dado a todas as pessoas que, um dia, disseram-me, digamos assim, essa idiotice. Porque é nos bons livros que busco – e sempre busquei – respostas a muitas indagações, mais uma (resposta) chegou a mim em ótima hora e em tempo preciso. Lya Luft foi categórica ao afirmar que, para muitos, a velhice é semelhante a uma sentença de que muita gente deve fugir, custe o que custar. Muitos, talvez sem o saber, agem como se pedissem desculpas. Ou seja, estão velhos, sim, mas... o espírito é jovem. Esse “mas” diz tudo. É como se, após pronunciá-lo, as pessoas dissessem: “Desculpem-me de eu ser velho(a). Não tenho culpa de,  mesmo velho(a), ainda existir. Relevem, por favor. Considerem, pelo amor de Deus, meu espírito, que é jovem. Permitam-me existir mais um tempo. Só um tempinho. Por favor, eu imploro”.     
Acredito ‘que’, em decorrência, principalmente, da fragilidade física, envelhecer é, para muitos, uma etapa difícil da vida (quiçá a mais difícil). Mas, voltando ao que nos diz Luft, também não consigo enxergar que vantagens um espírito jovem pode ter sobre um  ‘espírito’ velho ou maduro. Sabedoria, ‘calma’ e elegância, por exemplo, são inerentes a espíritos, digamos, maduros. Só o tempo as traz. Por que, então, tanta ojeriza à velhice? Por que, então, querer retardá-la – se é que isso é possível – a qualquer custo? Muitos parecem dizer: “Corram! A velhice vem aí!”. Correr ‘pra’ onde, meu Deus? Para o mundo dos filhos, lógico! E aí, nesse refúgio, mora um perigo gigantesco.
Já repararam em grandes crianças que nunca cresceram? Ih! Elas existem aos montes, em todos os lugares, em todas as classes sociais. É pai com o bermudão do filho adolescente; é mãe com barriga de fora, calça baixa e minissaia da filha; é avó que, à festa, vai com todos os apetrechos da filha, ou até da neta. Tudo parece uma grande continuação. Está difícil assumir que o tempo passou. Pior: está difícil perceber que o tempo passou. Não é difícil adivinhar o motivo. Medo do envelhecimento, é claro!
O que parece haver é uma dupla e, às vezes, tripla infantilização: de pais e filhos; de avós, pais e filhos. Não seria exagero lembrar o texto bíblico e dizer que para tudo há um tempo nesta vida. A natureza é sábia mesmo. Entretanto, é preciso sabedoria para enxergar as linhas – sutis, às vezes – que delineiam as várias fases por que todos – se chegarmos à velhice - teremos de passar. Muita gente em quem esbarramos por aí parece ignorar que a vida existe em etapas... e sai queimando “adoidado” algumas dessas etapas. Pode parecer que não, mas ‘se’ martirizam por isso. Que sofrimento! Não seria muito mais fácil e prazeroso encarar as tais mudanças? O jeito é enfrentar.
  Nossas escolhas são construídas – e isso não é filosofia de banca de jornal – por meio dos muitos testes que a vida nos aplica. Se desprezarmos algumas questões, nossa provinha vai ficar inconclusa. Assim, a reprovação será inevitável. Talvez o tempo seja curto à beça para uma reavaliação. Talvez não nos deem outra chance. Então, caprichemos na prova. Só há um detalhe: não há tempo para rascunho.
Amadurecer é fundamental. Apesar de, para muitos, haver ‘idosos com pouca idade’, existem qualidades (e defeitos, é lógico) que só o passar do tempo traz. Se, hoje, por exemplo, eu tivesse vinte e poucos anos, talvez este texto não pudesse ser escrito. Faltaria maturidade a este moço aqui. Estou procurando respeitar a vida. Estou respeitando a idade e procurando compreender – e aceitar – os limites que vão, aos poucos, surgindo. E vamos seguindo!

*
LUFT, Lya. Perdas & ganhos. 10 ed., Rio de Janeiro: Record, 2003.

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