quinta-feira, 21 de abril de 2011

FANATISMO É REPUGNANTE

            Por Fábio Brito

Na campanha à Presidência da República de 2010, vi despontar algo que me dá ojeriza: fanatismo religioso. Engraçado, não? O que tem a ver fanatismo religioso com eleições? Teve tudo a ver, principalmente nas últimas eleições, quando certa “milícia antiaborto” foi às ruas atrás das bruxas. Foi algo semelhante a uma nova Inquisição.
O dedo podre do fanatismo age sempre – e somente – pelo viés da emoção, porque a fé da maioria das pessoas é simplesmente emocional. Tenho horror a qualquer tipo de fanatismo. Qualquer um já é, por si só, repugnante. O religioso, então, é de matar, tanto que o escolhi como o pior de todos, porque é mais virulento, é mais peçonhento. Contamina mais. As pessoas, ensandecidas, nem querem saber. Saem por aí prendendo, arrebentando e matando todo aquele que for contra suas tão maniqueístas opiniões. Sabe como é o mundo dessas pessoas? De um lado, os bonzinhos, os que encontrarão Deus; de outro, os ‘mauzinhos’, os desgarrados e perdidos, que nunca encontrarão Deus. Que Deus? O meu é diferente. Não é esse “deus” (com inicial minúscula mesmo!) crudelíssimo e, dizem, eleito para salvar a humanidade. O meu Deus talvez tenha um rosto menos duro, mais maternal. Talvez um “rosto materno”, como bem ensinou Leonardo Boff.  
Para muitos (e muitos mesmo!), fé e credo valem mais que qualquer discurso político. Sabe por quê? Porque o discurso religioso, que, não raro, surge de forma fundamentalista, é mais acessível que o político, lógico. Os chamados líderes religiosos, simples e categoricamente, dizem a seu rebanho: “O certo é isso e está acabado. Não se discute mais esse assunto. Devemos ser contra (ou a favor) e ‘fim de papo’”. Desviar? Quem há de! Se alguém o fizer, algum castigo bem pesado, com certeza, virá. É o império do medo, do temor, da paúra mesmo. Bem disseram que o fundamentalismo é o pai do terrorismo... 
Hoje, em pleno séc. XXI, assistimos, no Brasil, à desmontagem de todo um ideário dos anos 80: somos mais fundamentalistas hoje do que há trinta, quarenta anos. Que horror! Em fins de 2010, assistindo, via TV, a manifestações – pelas ruas mesmo – do povo “em defesa da vida”, fiquei assustado. José Simão foi preciso quando disse em sua coluna que isto aqui estava parecendo um Irã. É... os aiatolás devem mesmo ter morrido de inveja de nós. E o pior de tudo é a incapacidade de muita gente para compreender que, se alguém diz que é a favor da descriminalização, mas contra o aborto, essa pessoa não é a favor do aborto. Ser a favor da descriminalização e contra o aborto são coisas distintas. Será que é tão difícil entender isso?
Pois é, toda essa “milícia antiaborto” teve, entre seus defensores, muita gente que já o fez ou o defendeu em algum momento. É... hipocrisia pouca é bobagem. Pois é, o ser humano tem uma tendência incrível à maledicência e à hipocrisia. Fala mal à beça de tudo e de todos. Depois, vai à igreja dizer que é bonzinho e sai às ruas empunhando cartazes. Tenha paciência! Maledicência? Chicote nela!
Fanatismo cega: “Fé cega, faca amolada”. Os fanáticos dizem conhecer a Verdade (com inicial maiúscula mesmo!). Só eles têm acesso a ela. Todos os fanáticos, sem exceção, sentem-se os escolhidos, os “ungidos do Senhor”. A eles, coube a tarefa de arautos de Deus aqui na terra. Assim, sentem-se com o direito de guiar a vida e a liberdade do outro. São os enviados de Deus. Já observaram as entrevistas que muitos têm concedido “a torto e a direito” por aí? É batata: não há um que não diga não ter ouvido o chamado de Deus. Só eles ouviram esse tal “chamado”, “né”? E as outras pessoas do rebanho? Pobres coitadas! Terão de ouvir apenas as mensagens requentadas. Em primeiríssima mão, só os eleitos. E deles será o reino dos céus. Amém! Melhor: amem! Como disse Ângela RoRo, “troco até os acentos  / Digo amem em vez de amém”. E amem muito mesmo. Sejam mais religiosos e menos hipócritas; mais irmãos e menos “marketeiros”. Assim, o mundo respirará melhor.


Um comentário:

  1. Fábio,
    Muitos cliques e muitos seguidores para o seu "doncovimeproncovô".
    Sucesso!
    meu beijo,
    Graça

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