quinta-feira, 21 de abril de 2011

QUE UNIFICAÇÃO?

          Fábio Brito
         
         Já faz algum tempo que vimos recebendo notícias, que não cessam, acerca do Novo Acordo Ortográfico. Não raro, muitas pessoas, leigas ou não, envolvem-se ‘em’ julgamentos, avaliações acerca desse tratado. Antes, porém, é necessário que saibamos o que é, afinal, esse Acordo?
         O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é, grosso modo, um tratado internacional cujo propósito é criar uma “ortografia unificada da língua portuguesa”, que será usada por todos os países que a têm como língua oficial.
          Entre as principais mudanças instituídas, podemos elencar estas:
          I) O alfabeto passa a ter 26 letras. Houve a incorporação de k, w e y.
          II) Cai o acento circunflexo:
          a) De palavras terminadas em hiato oo: voo, enjoo...;
         b) Nas terceiras pessoas do plural do Pres. do Ind. dos verbos crer, ler e ver (Eles creem, veem e leem) ou do Pres. do Subj. do verbo dar (Que eles deem);
          III) Cai o agudo:
          a) Dos ditongos tônicos EI e OI das paroxítonas: heroico, ideia...
          Dicas importantes:
        1) Se, mesmo incluída nesse caso, a palavra enquadrar-se em regra de            acentuação, ela continuará a ser acentuada: destróier (paroxítona terminada em R);
         2) Cai o acento dos ditongos tônicos EI e OI das paroxítonas. As oxítonas continuarão a ser acentuadas. Heroico, por exemplo, perde o acento. Herói não.
        b) Do I ou U tônicos de um hiato (sozinhos em uma sílaba ou seguidos de S), quando precedidos de ditongo: feiura, baiuca...
       Dicas importantes:
       Mesmo apresentando essas condições, as palavras continuarão recebendo acento se:
1)     Forem proparoxítonas: maiúsculo...;
2)     Não forem precedidos de ditongo: saúde, saída...;
3)     Forem oxítonas e o I ou o U estiverem em posição final, sozinhos na sílaba ou seguidos de s: Piauí, tuiuiú...;
    IV) Cai, “de direito”, o trema, representado pelos dois “pinguinhos” que marcavam a pronúncia do U nos grupos GUE, GUI, QUE, QUI. De fato, muitas pessoas já haviam abolido esse sinal.
      Dica importante:
      Não haverá mudança na pronúncia das palavras.
      V) As formas verbais pôr e pôde continuarão acentuadas.     
      VI) Ficam também mantidos os acentos de têm (verbo ter) e vêm (verbo vir).
     VII) Quanto ao hífen, o assunto parece inesgotável. No entanto, focaremos alguns casos envolvendo prefixos. Deve-se:
      a) Eliminar o hífen:
     Se a última letra do prefixo e a primeira da segunda palavra forem vogais diferentes: plurianual, autoescola, infraestrutura, socioeconômico, pseudoalucinação, autoestrada.
      b) Usar o hífen se:
       1) A última letra do prefixo e a primeira da segunda palavra forem vogais iguais: micro-ondas, anti-inflacionário, arqui-inimigo, auto-observação;
       2) A última letra do prefixo e a primeira da palavra seguinte forem consoantes iguais: inter-racial, sub-base, super-revista, ad-digitalizar;
     3) O prefixo terminar ‘com’ acento gráfico: pré-datado, pré-escola, pré-requisito, pós-graduação.
     4) O prefixo terminar por b ou d e a primeira letra da segunda palavra for r: ab-rupto, sub-reitor, ab-rogar.
     5) A última letra do prefixo for vogal, r ou b e a primeira da segunda palavra for h: sobre-humano, super-homem, sub-humano.
     Sobre as mudanças ‘em si’, é importante ressaltarmos muitas “iscas para polêmica”. Uma delas é, por exemplo, a subjetividade empregada na redação. Observem: “Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.” Não há como negar que a expressão “em certa medida” é vaga. Como saber quais são os compostos “em relação aos quais, em certa medida”, ficou perdida - “em algum lugar do passado” - a “noção de composição”? Querem mais? Por que, em lugar de “etc.”, que, em bom latim, significa “e outras coisas”, não listam todos os compostos que perderam a noção de composição? Em “etc.”, cabe o mundo. 
   Ampliando um pouco a discussão acerca de pontos polêmicos do Acordo, podemos “apimentar” um pouco mais o debate. Querem ver? Para muitos defensores, a língua portuguesa, por meio da instituição de uma ortografia oficial única, ganhará mais prestígio internacional, ficará mais forte. Será? Basta pensarmos no inglês, cuja projeção está associada a fatores entre os quais não figura, obviamente, a unificação ortográfica.
   Querem mais pimenta? Dizem que, em se tratando das “variantes escritas da língua portuguesa”, o tratado tenta resolver um problema que não existe, uma vez tais variantes não afetam a inteligibilidade da língua. As obras do escritor português José Saramago, por exemplo, são publicadas aqui no Brasil na grafia lusitana. E não há necessidade de “tradução”.
    Outro argumento contra diz respeito à padronização gráfica, que é uma utopia, uma vez que, na fala corrente, ela nunca se concretizará. Será que as línguas “são o que são” em decorrência de acordos ou decretos governamentais? Em toda essa discussão, que peso tem o uso que os falantes fazem da língua? Pois é, muitas discussões ainda serão travadas sobre esse Acordo. Esperemos...


9 comentários:

  1. A língua não nasce nem se altera em acordos, mas nas culturas e suas "combinações". O assunto é apimentado mesmo.
    O blog está ótimo, Fábio!

    ResponderExcluir
  2. Bacana a tua explicação, para lá de clara e objetiva. Vou consultar sempre que necessário :)
    Abraços!
    Samira
    www.myhistories.com.br

    ResponderExcluir
  3. Minhas notas de R$50,00 com trema ainda valem????

    ResponderExcluir
  4. Sinceramente, eu detestei essa coisa da "reforma ortográfica"... e concordo que a língua é algo subjetivo, nosso! Uma pena!!
    Vou passar aqui sempre pra "catar" um livro em tua estante!! Bjos!!

    ResponderExcluir
  5. Nesse link tb postei algo acerca dessa "reforma": http://copo-de-letras.blogspot.com/2011/03/nao-mexe-com-que-ta-quieto.html

    ResponderExcluir
  6. Esse texto nos ajuda muito a aprender o novo português, eu ainda não gravei nada! kkkk
    Adorei!

    ResponderExcluir
  7. Particularmente não gostei do acordo, mas que adianta esbravejar? Aqui no Brasil ele é uma realidade, e, na condição de recém-egressa no Pedro II, assisti inclusive uma palestra com Evanildo Bechara, o "dono" do acordo, digamos assim. Palestra esclarecedora, mas na prática os problemas são muitos.

    Em Portugal não pegou, pelo jeito não vai pegar. Não sei nos outros países do universo lusófono. Caso isso se confirme, o acordo em si, em seus princípios, fica invalidado, pois não haverá a unificação, apenas mudança de algumas normas ortográficas no Brasil.

    E, convenhamos, à parte o trema, que já vinha acusando sinais de desuso, o restante me pareceu gratuito. Como escrever jóia sem acento, fazendo-a tangenciar perigosamente com o joio? Algumas coisas soam estranhas, quando esritas. E, no terreno do hífen, eu, que já lutava bravamente, agora desisti, pois me parece que mexeram em terreno problemático, a etimologia.

    Não sei, não sei... Eu, que não sou muito fã de Mário de Andrade, me pergunto no entanto o que ele diria disso tudo. Acho que estamos muito mansos, precisando de um novo Modernismo.

    ResponderExcluir
  8. Meus amigos queridos, esse assunto "reforma" ainda vai dar muito o que falar.
    Obrigado pelas visitas.
    Beijão,

    ResponderExcluir