terça-feira, 3 de maio de 2011

A VOZ DE NOSSA BELA ALMA



Eliete Negreiros tem um público sofisticado. Ela é altamente sofisticada. É cult. Conheci-a em 1992. O disco (um luxo!) era Canção brasileira – a nossa bela alma. Para arrepiar, a primeira faixa é Súplica, sucesso de Orlando Silva, regravado por Bethânia em 1981: “Aço frio de um punhal / Foi teu adeus pra mim / Não crendo na verdade / Implorei, pedi / As súplicas morreram / Sem eco, em vão (...)”. E Eliete fez sua gravação à altura das de Orlando e Bethânia. Desse mesmo disco, é arrepiante ouvi-la interpretando Verde (Eduardo Gudim / Costa Neto), sucesso de Leila Pinheiro no Festival de 1985, e dando à canção um toque muito pessoal: “Quem pergunta por mim / Já deve saber / Do riso no fim / Eu que sempre apostei / Na minha paixão / Guardei um país no meu coração (....)”. Esse mesmo disco só tem obras-primas: Lua branca, Valsa brasileira, Meu mundo é hoje, Dindi, Peito vazio, É doce morrer no mar, Orgulho e por aí vai... E a participação do Quarteto Sarambeque só enriquece o trabalho, que já é precioso. Mais tarde, em 1995/1996, ela surge, agora com Quinteto, com 16 Canções de tamanha ingenuidade. Que achado! Essa obra rara traz, entre outras preciosidades, A casinha pequenina (domínio público). Quem não lembra? Pois é, foi nessa casinha, que está no inconsciente de todos, que nasceram, como disse Fernando Portela (em texto do encarte) “os amores do Brasil mais querido”. Nesse CD, a voz de Eliete estimula saudades infindas de interior, de pureza, ao interpretar, por exemplo, eternos clássicos como Guacyra, Luar do sertão, Maringá, Felicidade, Candeias. Em seu “Ângulos – Tudo está dito”, de 1986, muito requintado, encontramos versos raros da parceira Elton Medeiros / Eduardo Gudin em O melhor carinho: “Às vezes se guarda o melhor carinho / Se oculta o desejo pra não sofrer / Quando vê já passou, se perdeu / como um livro que só você leu (...)”. Nesse disco, ela também incluiu a sofisticada Pierrô sem coração, letra de Roberto Riberti sobre a canção Le manine di primavera, clássico de Nino Rota, tema de “Amarcord”, de Fellini: “(...) Nas telas do meu delírio / Há um pierrô sem coração / Que pro meu cruel martírio / ri dos meus rasgos de ilusão (...)”. Imperdíveis: a canção e Eliete Negreiros.  

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