quarta-feira, 4 de maio de 2011

CANTO MAIÚSCULO



Foi por meio da revista Caros amigos, em nota de Leo Gílson Ribeiro, se minha memória ainda estiver ajudando, que ‘conheci’ Rita Ribeiro. Assim como Zeca Baleiro e Alcione, essa moça também é do Maranhão. O texto da revista tecia comentários sobre seu primeiro disco, de 1997, que, entre outras pérolas, trazia Lenha, do conterrâneo Baleiro: “Eu não sei dizer / O que quer dizer / O que vou dizer / Eu amo você / Mas não sei o que / Isso quer dizer (...)”. Mas só voltei a ouvir Rita Ribeiro um tempo depois, em casa de um amigo. O disco era o Pérolas aos povos, de 1999. ‘De cara’, já fiquei impressionado com a faixa Há mulheres, de Vânia Borges: “Há mulheres que se pintam de caulim / Na Costa do Marfim / Para um deus louvar / Eu também me pinto para o luar, em mim / A prata derramar (...)”. Considerei lindas a letra e a gravação. Em Comigo, Rita foi ao baú e trouxe de volta Moça bonita, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, do repertório de Angela Maria: “(...) No canto da rua / Zombando, zombando, zombando está / Ela é moça bonita / Girando, girando, girando lá (...)”. Além de uma linda voz, Rita é a versatilidade em pessoa: grava ‘de tudo’, como dizem, e sempre com competência e dignidade. É transgressora. Quando regrava, não faz ‘cover’. É a mesma música e é outra música. Só os grandes intérpretes conseguem isso. Sempre digo que seu timbre é ‘solar’. Há vozes que são ‘noturnas’, que têm tudo a ver com boates enfumaçadas e copos de uísque. E são lindas exatamente por isso. A de Rita não. É para ser ouvida com muita luz. Rita é luminosa. Rita é iluminada. Prova cabal de sua versatilidade é o CD Tecnomacumba, de 2006. Cavaleiro de Aruanda, de Tony Osanah, por exemplo, é ‘outra’ canção em sua voz: “Quem é o cavaleiro / Que vem de Aruanda / É Oxossi em seu cavalo / Com seu chapéu de banda (...)”. A deusa dos orixás, de Romildo e Toninho, sucesso da eterna Clara Nunes, também ficou linda com Rita: “Iansã, cadê Ogum? / Foi pro mar / Mas Iansã, cadê Ogum? / Foi pro mar / Iansã penteia os seus cabelos macios / Quando a luz da lua cheia / Clareia as águas dos rios (...)”. Junto com Teresa Cristina e Jussara Silveira, ela gravou o sofisticadíssimo Três meninas do Brasil, ao vivo no Teatro Municipal de Niterói. Maiúsculo, do cachoeirense Sérgio Sampaio, ficou estonteante: “Como é maiúsculo / O artista e a sua canção / Relação entre Deus e o músculo / Que faz poderosa a sua criação (...)”. Rita arrasou. Como são maiúsculos o canto e a arte de Rita Ribeiro!

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