quinta-feira, 5 de maio de 2011

ROBERTA É UM NOVO AMOR



Em comparação com outros “frutos”, é difícil acreditar que Roberta Sá tenha saído do “Fama”, programa exibido pela Rede Globo entre 2002 e 2005, cujo objetivo era revelar e lançar novos cantores no mercado musical do Brasil. Em se tratando de Sá, o objetivo foi alcançado. Ela é uma senhora cantora. Uma das melhores da novíssima safra. Em sua estreia em CD (Braseiro, 2004), a moça simplesmente arrebentou. Prova disso é a canção No braseiro, de Pedro Luís: “Mas tá um trem de doido / Eta confusão / Parece natural andar na contramão / Tão vendendo ingresso / Pra ver nego morrer no osso / Vou fechar as janelas / Pra ver se não vejo as mazelas dos outros (...)”. A letra e a interpretação de Roberta mostram exatamente o tempo em que estamos vivendo, o do circo dos horrores, que está aí, à nossa frente.  Desse mesmo CD, impossível ficar indiferente à sua gravação de Valsa da solidão (Paulinho da Viola /Hermínio Bello de Carvalho), já gravada por Elizeth Cardoso, a “Divina”: “Onde estava tanta estrela que eu não via / Onde estavam os meus olhos que não te encontravam (...)”. Tarefa dificílima essa de enveredar pelo caminho da “Enluarada”, mas Roberta a cumpriu com talento acima de qualquer suspeita. Tenho de confessar: emocionei-me ao ouvi-la em Novo amor, de Edu Krieger: “A luz apaga porque já raiou o dia / E a fantasia vai voltar pro barracão / Outra ilusão desaparece quarta-feira / Queira ou não queira terminou / O carnaval (...)”. A canção está em seu segundo CD, Que belo estranho dia pra se ter alegria. A voz melodiosa de Roberta e o bandolim - do céu - de Hamilton de Holanda me derrubaram. A gravação ficou magistral. Só ouvindo. Há vários outros registros magistrais dessa moça. O ‘ao vivo’ “Pra se ter alegria” também mostra a desenvoltura da intérprete fora do estúdio. Tarefa desafiadora. E o que dizer do tributo a Roque Ferreira? Mais uma vez, Roberta Sá prima por um repertório de primeira linha. De altíssima qualidade. O talentoso compositor baiano, merecidamente incensado por Bethânia, recebe de Sá e do Trio Madeira Brasil uma homenagem nobre, requintada e elegante. À altura da de Bethânia. Está tudo irretocável no CD: voz, arranjos... Depois do sucesso inicial, nossa intérprete poderia, se assim o quisesse, simplesmente enveredar por um caminho de canções banais, passageiras, fugazes. No entanto, ela foi atrás do que há de melhor na atual MPB. Roberta, novata, transgrediu. Conseguiu escapar da pecha de “cantora revelada pelo Fama”. Que beleza!

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