quarta-feira, 4 de maio de 2011

LEVE, LEVE



Em 2004, no Rio, Roger, meu querido amigo, pediu que eu me sentasse para ouvir um CD: “Poeira leve”, de uma cantora que, até então, eu não conhecia: Adriana Maciel. Só saí do lugar para, daí a algumas horas, procurar o tal CD para comprar. Eu não poderia ficar sem ele. O título, “Poeira leve”, foi extraído da canção (Tom Zé), uma das maravilhas desse baiano-cidadão-do-mundo e de Irará: “Solidão / Que poeira leve / Solidão / Olha a casa é sua / Na vida quem perde o telhado / Em troca recebe as estrelas (...)”. Quanta beleza! Para completar, a voz é de uma suavidade de pluma. Delicada ao extremo. Sabe aquelas vozes que não cansam? É a da Adriana. A participação de Zeca Baleiro em traz ainda mais requinte. Todas as canções desse CD, sem exceção, são excelentes. Que escolha precisa! Moska participa de (Tom Zé / Elton Medeiros), um achado: “Tô bem de baixo / Pra poder subir / Tô bem de cima / Pra poder cair / (...) / Tô ficando cego / Pra poder guiar (...)”.  Mora na filosofia (Monsueto / Arnaldo Passos) ficou diferente de todas as gravações que já ouvi dessa canção: “Eu vou lhe dar a decisão / Botei na balança / Você não pesou / Botei na peneira / E você não passou / Mora na filosofia / Pra que rimar amor e dor (...)”. Acabou chorare (Moraes / Galvão) abre o CD em grande estilo: “Acabou chorare / Ficou tudo lindo / De manhã cedinho / Tudo cá, cá, cá, na fé, fé, fé (...)”. Bons tempos os dos Novos Baianos, que voltam emoldurados pela voz cálida de Adriana Maciel. Adorei! Mais tarde, descobri “Dez canções” (2008), que traz uma das canções mais bonitas e emblemáticas do Gil, Copo vazio: “É sempre bom lembrar / Que um copo vazio / Está cheio de ar / É sempre bom lembrar / Que o ar sombrio de um rosto / Está cheio de um ar vazio (...)”. Sempre vou gostar dessa canção, que encontrou na voz de Adriana o tom exato. Em 2000, essa moça lançou Sozinha minha.  Uma das faixas, Amargo (Zeca Baleiro), tem versos que não me saíram mais da cabeça: “Tenho a memória de tudo o que existe / Tudo o que é triste, alegre ou não / Eu guardo as flores mortas na sala / Eu faço sala pro tempo (...)”. Adriana está impecável. Depois de ouvir essa canção, não parei mais de usar a expressão “fazer sala ‘pro’ tempo”. Ela tem o “delicado essencial”, como bem disse Clarice Lispector.



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