quinta-feira, 5 de maio de 2011

O BELO CANTO



Olivia Byington tem voz trabalhada. O canto lírico perdeu uma diva. Basta conferir sua interpretação para as Bachianas brasileiras n 5 – 1 parte da ária (cantilena), do Villa-Lobos. Arrepia tanto que dói. Adoro seu Melodia sentimental, que ela gravou com João Carlos Assis Brasil. Que disco chique, meu Deus! Villa-Lobos, Jobim, Cartola, Nino Rota, Kurt Weil, Gershwin, Cole Porter. Só o supra-sumo. Sem dúvida alguma, está entre meus discos favoritos. Esse tipo de voz, com um “pé” no canto lírico, já é, por si só, uma transgressão. Olívia tem “projetos” impecáveis: em 1997, gravou A dama do Encantado, um tributo a Aracy de Almeida; em 2003, “refez” o Canção do amor demais, que Elizeth havia gravado em 1958. Deste, extraio minha favorita em sua voz: Estrada branca, da dupla Tom & Vinicius, numa gravação pungente: “Estrada branca / lua branca / Noite alta / Tua falta caminhando / Caminhando / Caminhando / Ao lado meu / Uma saudade / Uma vontade / Tão doída / De uma vida / Vida que morreu (...)”. É de arrepiar. Letra, melodia e interpretação belíssimas, comoventes. Em Melodia sentimental, de 1987, há um belíssimo registro de Estrela, o poema de Bandeira musicado pelo sofisticado músico Edgard Duvivier: “Vi uma estrela tão alta! / Vi uma estrela tão fria! / Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia (...)”. Mais requinte impossível. Olívia é daquelas cantoras que não deixam dúvidas: sabe cantar! Não há quem não exclame isso. Ela dispõe de todos os recursos de que só dispõem as grandes vozes. Até canções bem simples ganham sofisticação em sua voz. Parece que ela já nasceu chique. A nobreza e o requinte acompanham-na desde sempre. Com essa voz todo-poderosa, ela pode, se quiser, gravar discos e fazer shows com muitos recursos. No entanto, recentemente, ela optou pelo despojamento. Luxo dos luxos. Fiquei mais fã ainda. 




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