terça-feira, 10 de maio de 2011

ELA SEMPRE FOI MULTIMÍDIA



Marlene é uma das mais amadas cantoras brasileiras. Seu fã-clube tem uma força descomunal. A diva está cantando até hoje. Que força! Que dignidade! Na época da tão decantada “rivalidade” com Emilinha Borba, a “Favorita da Marinha”, Marlene, a “Favorita da Aeronáutica”, já se mostrava petulante. Entre as duas, sempre gostei mais de Marlene. E não cheguei a alcançar o auge dessas cantoras, claro. Soube delas bem depois. Entre as duas, Emilinha sempre me pareceu uma boa menina, que, certamente, vai (foi) para o céu; Marlene, por sua vez, nunca teve cara de “boa menina” e, como tal, vai (sempre foi) à luta e sempre brigou pela transgressão. Nunca lhe caiu bem o rótulo de “queridinha”, tanto que rompeu com o moralismo conservador da época do rádio. Impôs outros padrões: de repertório e imagem, por exemplo. Marlene tem mais personalidade. Canta mais. A versatilidade sempre foi uma de suas marcas. Multimídia a toda prova, atuou no cinema, no teatro e fez radioteatro, como o “Marlene, meu bem”. A voz pequena (sempre fizeram questão de frisar que sua voz é “pequena”, como ela mesma diz) tem um carisma incomparável. O que grava fica sendo seu: é “da Marlene”. Participou da Ópera do malandro e fez um trabalho sensacional. Adoro ouvi-la cantando Viver do amor, de Chico Buarque, minha preferida em sua voz: “Pra se viver do amor / Há que esquecer o amor / Há que se amar / Sem amar / Sem prazer / E com despertador / - Como um funcionário (...)”. Linda a gravação! Nos versos “Ai, o amor / Jamais foi um sonho” e “Que o amor não é um ócio”, a voz está extremamente melodiosa. Observe com atenção redobrada: quando ela canta a palavra “ócio”, principalmente, dá vontade de voltar, de repetir a faixa várias vezes. Emocionante. O arranhar dos “erres” também é outro momento de puro prazer. Confira! E ela é chique à beça! A convite de Edith Piaf, o maior patrimônio da França, cantou no Olympia de Paris. Foi a primeira cantora brasileira, se não me engano, a se apresentar por lá. Luxo para poucos. Dedicou boa parte de seu repertório ao carnaval e reinou durante muitos anos. Acaso alguém pode esquecer Lata d’água, Apito no samba, Zé Marmita e tantas outras? Ela também foi crooner do Copacabana Palace até ir “para” a Rádio Nacional. Outra transgressão. Está na vida de todos nós. Marlene é um patrimônio da Música Popular Brasileira.


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