terça-feira, 10 de maio de 2011

ESSÊNCIA FEMININA



De sua geração, Joyce é uma das melhores quando o assunto é o trato do feminino. Detalhe: esse trato - esmerado - não diz respeito somente à compositora de altíssimo nível. A intérprete Joyce também é excelente, porque capta muito bem essa essência feminina, que é diferente mesmo. Quem não se lembra, por exemplo, da canção “Feminina” (Joyce), sucesso do Quarteto em Cy na trilha do seriado Malu Mulher? “Não é no cabelo ou no dengo / ou no olhar, ô mãe / É ser feminina por todo lugar, ô mãe / Me explica, me ensina, me diz / O que é feminina (...)”. Em nova versão (de “Revendo amigos”, lançado em 1993), a canção ganhou um “swing” especialíssimo: a voz de Joyce está muito sensual. “Mulheres do Brasil” (Joyce) também é outra canção muito emblemática: “No tempo em que a maçã foi inventada / Antes da pólvora, da roda e do jornal / A mulher passou a ser culpada / Pelos deslizes do pecado original (...)”. Bethânia registrou-a em seu “Maria”, de 1988. Com participação de Beth Carvalho, Joyce regravou-a no “Revendo amigos”. E por falar em mulher, em 1998, Joyce, de forma espetacular, homenageou Elis: gravou “Astronauta: canções de Elis”. Numa tirada inteligente, mesclou canções conhecidas do repertório da “Pimentinha” com outras pouco lembradas. Está tudo aí. Só biscoitos finos: “Morro velho”, “Querelas do Brasil”, “Essa mulher”, “Na batucada da vida”, “Astronauta”... E tudo com a “marca Joyce” de interpretar. Em 1977, lançou por estas terras “Passarinho urbano”, disco impecável, porque carregadinho de clássicos. Entre eles, “Pelo telefone” (Donga), considerado o primeiro samba (há controvérsias quanto ao gênero) gravado. Nesse mesmo disco, Joyce impressiona pela força interpretativa de “Pesadelo” (Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro), um tiro no pé da ditadura militar e seus anos de chumbo: “Quando um muro separa / Uma ponte une / Se a vingança encara / O remorso pune (...)”. Ah! Ainda para esse disco, Joyce musicou Quintana, nosso grande poeta de Alegrete (RS) e do mundo: “Todos esses que aí estão / Atravancando o meu caminho / Eles passarão... / Eu passarinho!”. Gosto à beça desse poema e ouvi-lo na voz de Joyce é luxo dos luxos! Sensibilidade a toda prova dessa moça. Em 2007, junto com Toninho Horta, ela presta outra homenagem: agora, ao maestro soberano. Onipresentes: Tom, Joyce e Toninho Horta.

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