quinta-feira, 5 de maio de 2011

DORES, DOLORES



Dolores Duran é uma das grandes responsáveis pela delicadeza que ainda sobrevive, mesmo em meio ao holocausto imposto por pessoas que não ouvem mais música, mas algo que chamam de “som”. Foi ela quem compôs a inesquecível A noite do meu bem: “Hoje eu quero a rosa mais linda que houver / E a primeira estrela que vier / Para enfeitar a noite do meu bem (...)”. Assim como Carinhoso (Pixinguinha / João de Barro), A noite do meu bem é, para mim, uma das canções mais importantes de nosso cancioneiro, simplesmente porque não há uma só pessoa que não saiba cantarolar pelo menos seus primeiros versos. Ternura antiga (J. Ribamar / Dolores Duran) também figura entre minhas preferidas do repertório de Duran. Combinação perfeita de melodia e letra: ambas fora do comum e muito comoventes: “Ai, a rua escura, o vento frio / Esta saudade, este vazio / Esta vontade de chorar / Ai, tua distância tão amiga / Esta ternura tão antiga (...)”. Muita gente registrou essa canção, mas uma das gravações mais doídas é de Nana Caymmi (“A noite do meu bem – as canções de Dolores Duran, 1994”). Nossa Dolores não era somente uma compositora extraordinária. Era ótima intérprete também (de composições suas ou de terceiros), tanto que, em 1955, foi eleita a melhor crooner da noite do Rio de Janeiro. Era fina, requintada, elegante. Cantava bem em vários idiomas: inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Foi eclética bem antes de essa palavra virar modismo. Era muito moderna para a época: seu cantar era coloquial, assim como o de Carmen Miranda. Ponto para a transgressão. My funny valentine (Richard Rodgers / Lorenz hart) é uma mostra da grande intérprete que é Dolores. O “standard” da canção americana ganhou assinatura própria na voz de nossa diva: “Behold the way our fine feathered / friend / His virtue doth parade / Thou knowest not, my fim-witted friend (...)”. Dolores traz na voz e no nome dores de variados matizes.  

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