terça-feira, 3 de maio de 2011

RASGANDO A GARGANTA



Rosa Maria, há uns anos, adotou Rosa Marya Colin. A maioria das pessoas ficou conhecendo essa moça quando, em 1988, ouviu, aqui no Brasil, California Dreamin, sucesso do grupo The mamas and the papas, em um comercial de TV. A voz, para surpresa de muitos, não era de uma negra americana, mas de uma brasileira. Conheci-a antes disso, em 1985, quando saiu pela "Pointer" um disco chamado Entre amigos, que trazia canções conhecidas, porém com intérpretes diferentes dos que as consagraram. Coube a Rosa Meu amigo, meu herói, do Gil: “A força do universo não te deixará / O lume das estrelas te alumiará / Na casa do meu coração pequeno / No quarto do meu coração menino / No canto do meu coração espero / Agasalhar-te à ilusão (...)”. A gravação ficou deslumbrante. Ouvi-a inúmeras vezes. É, com certeza, minha preferida na voz dessa diva. Que voz! Perguntei-me logo: onde estava essa cantora? Por que não a trouxeram há mais tempo? Por que não a conheci antes? Por que não fui à caça dessa preciosidade antes? Que caminhos tortos são esses que o mercado trilha para ‘excluir’ uma cantora da envergadura de Rosa Maria? Que mercado é esse que nos impede (por um tempo, é claro!) de ver uma cantora como Rosa Maria?  Não há quem não ouça Rosa e não fique apaixonado à primeira “ouvida”. Dona de uma segurança fantástica, ela arrasa em tudo o que grava. Ouvi-la interpretando Bridge Over Troubled Water, de Paul Simon, por exemplo, é momento de puro encantamento. A pérola está em Cores, disco que ela gravou em 1997. De lá ‘pra’ cá, não soube de outro disco que ela tenha gravado. Tudo bem. Sua voz é puro jazz. E do melhor. Dizem que ela aprendeu a cantar ouvindo os discos de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Que escola! E essa garganta privilegiada, assim como tantas outras, também não tem, ainda, o reconhecimento (ou o sucesso) merecido. Rosa é a prova contundente da inversão de valores que, há tempos, prevalece no mundo das artes: o que vende e faz sucesso é o trabalho de péssima qualidade. As massas consomem vorazmente o que é ruim. Falta educação para o consumo da qualidade. A despeito de tudo isso, Rosa, como toda transgressora, não enverga. Quando a ouço, imagino a altivez em pessoa. Rosa Maria é extraordinária.

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