segunda-feira, 2 de maio de 2011

VINHO DE EXCELENTE PIPA


Ceumar me foi apresentada por um amigo que a ouviu nas rádios de Florianópolis. Daí em diante, não parei mais de ouvir essa moça. Em “Dindinha”, por exemplo, o repertório é cem por cento primoroso. Impossível não ouvir todo o CD seguidas vezes. A canção-título é uma das muitas obras-primas de Zeca Baleiro: “(...) a mentira é uma princesa / cuja beleza não gasta / e a verdade vive presa / no espelho da madrasta (...)”. Mais Baleiro: “Boi de Haxixe”: “(...) Meu bem, meu bem-me-quer / Te dou meu pé, meu não / Um céu cheio de estrelas / Feitas com caneta bic num papel de pão”. Ficou extraordinária a gravação. A voz de Ceumar é leve, leve e afinadíssima. “Olha pro céu”, de Gonzagão e José Fernandes, também é outra de minhas preferidas do mesmo CD: “Olha pro céu, meu amor / Vê como ele está lindo / Olha pra aquele balão multicor / Como no céu vai subindo (...)”. Com muita competência, ela conseguiu recriar o clássico de Luiz Gonzaga. Tarefa nada fácil para muitas intérpretes que, não raro, tropeçam nos clássicos. “Vira lixo”, parceira de Chico César e Suely Mesquita, que está em “Sempreviva!”, de 2002, é excelente: “Tudo vira lixo / Tudo pode virar lixo / Carta de amor vira lixo / Conta pra pagar vira lixo / Seja como for, tudo pode virar lixo (...)”. Adorei! Fiquei pensando, ao ouvir Ceumar, no tanto de “cantores fabricados” que há por aí e que, daqui a um tempo, também virarão lixo. Só os talentosos sobreviverão. Não adianta vender “horrores” se a qualidade for duvidosa. Ceumar transgride porque não faz concessões ao mau gosto. Não se vende a ele. Com “Achou!”, de Dante Ozzetti e Luiz Tatit, ela participou de um festival e arrasou: “Investir / É cultivar o amor / Se despir / É ativar / Resistir / É aturar o amor / insistir / É saturar (...)”. “Alguém total”, da mesma dupla Ozzetti/Tatit, também é genial: “(...) Quem quer um pedaço / Um pouco de alguém / Abraçando tem (...)”. Depois de ouvir Ceumar, dá vontade de sair por aí abraçando todas as pessoas queridas. Dá vontade de abraçar fortemente Ceumar e agradecer-lhe por tanto prazer que ela nos dá. Agradecer pelo talento, pela competência, pela sensibilidade ao interpretar e ao escolher repertório. Ceumar é rara. Raríssima. É vinho de excelente pipa.

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