segunda-feira, 2 de maio de 2011

NÃO EXISTIMOS SEM VOCÊ



No início da carreira, Vânia Bastos fez parte da banda de Arrigo Barnabé. Depois, juntou-se a Itamar Assumpção. Esses dois gênios não deixariam essa moça de fora de seus ‘times’. A voz, afinada à beça, tem um timbre belíssimo. O primeiro disco dessa intérprete rara que chegou a mim foi “Vânia Bastos canta Caetano”, que é extraordinário. Ela pegou canções menos ‘batidas’ de Caetano e recriou-as com extrema competência e de forma muito peculiar. Love, love, love, por exemplo, ganhou uma leveza de pluma: “(...) Se o mundo é um lixo / eu não sou / Sou até bonitinho (...)”. Peter Gast é outra maravilha. Eu só conhecia a gravação do próprio Caetano, que está em ‘Uns’, de 1983: “Sou um homem comum / E ninguém é comum (...) Hei de viver e morrer como um homem comum (...) Hóspede do profeta sem morada (...)”. Sempre achei essa canção um primor. A gravação da Vânia chegou a um ponto preciso: técnica e emoção na medida exata. Vânia é assim: atrevida. Ousa não ficar no lugar-comum das canções bem conhecidas. Ela recria, ou reinventa, as canções. Ou seja, transgride. Em Lenda (Eduardo Gudin / Arrigo Barnabé / Roberto Riberti / Hermelino Nader), ela arrasa nos agudos: “Onde mora o sonho e a lua é o lustre de cristal / Tem um rei risonho que aboliu o bem e o mal / Pôs em seu lugar mil pássaros de cor / Que num gorjear secam qualquer lágrima de dor (...)”. Puro deleite. Em “Vânia Bastos & cordas – canções de Tom Jobim”, tudo rebrilha. As eternas canções do maestro Jobim (em parceria com Vinicius, Buarque, Aloysio de Oliveira e Luiz Bonfá) ganham cor e textura ímpares na voz magistral de Vânia Bastos. Derradeira primavera (Jobim / Moraes), por exemplo, ilustra um momento supremo: “Põe a mão na minha mão / Só nos resta uma canção / Vamos, volta, o mais é dor / Ouve só uma vez mais (...)’. Olha Maria (Jobim / Buarque / Moraes), uma das canções mais lindas da safra jobiniana, só confirma, com a gravação de Vânia, o lugar único que toda canção extraordinária ocupa. É de chorar: “Olha Maria / Eu bem te queria fazer uma presa / Da minha poesia / Mas hoje, Maria / Pra minha surpresa / Pra minha tristeza / Precisas partir (...)”. Impossível também não comentar Eu não existo sem você (Jobim / Moraes). Acho que não existimos sem você, Vânia Bastos.

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