quinta-feira, 5 de maio de 2011

SENHA PARA O BOM GOSTO



Foi em um exemplar da revista Afinal, que saiu de circulação há um tempo, que fiquei sabendo de uma moça do Rio Grande do Sul chamada Adriana Calcanhotto. A matéria era sobre novas cantoras da MPB. Apostas e mais apostas. Muitas das citadas não decolaram. Mas Calcanhotto simplesmente arrasou. Dizem que a atriz Maria Lúcia Dahl trouxe para o Rio uma fita com gravações de Adriana. Quem ouviu ficou encantado. Não tardou para que a moça “desse o que falar”. Seu primeiro sucesso, Naquela estação, foi, de cara, uma parceria das mais chiques: Caetano e João Donato: “Você entrou no trem / E eu na estação (...)”. Corri para comprar. A voz é inebriante. Acalma, dá colo, aconchego. Quando ela gravou Senhas, não resisti. Deu vontade de ajoelhar.  A canção que dá título ao disco é simplesmente linda. Daquelas cuja letra deve ser emoldurada ou pintada nos muros: “Eu não gosto do bom gosto / Eu não gosto do bom senso (...) Eu não tenho pena dos traídos / Eu hospedo infratores e banidos (...)”. É minha preferida, lógico. Esquadros também é um luxo: “Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores / Cores de Almodóvar / Cores de Frida Khalo (...)”. O disco não saía, e nem sai, de meu carro. Além de uma voz com personalidade, Calcanhotto é uma senhora compositora. Transgrediu: é cantora e compositora de primeira linha. Não raro, as pessoas não aceitam que alguém possa ter talento para as duas áreas e posicionam-se assim: cantora OU compositora. Maniqueísmo é pouco. E Adriana junta as duas com muita força. Sua melodia é rica e seus versos são raríssimos, de uma qualidade poética indiscutível, tanto que Bethânia não perdeu tempo: Âmbar, canção que dá nome a seu disco de 1996, é de Calcanhotto. Quer mais? Entrevistada por Marília Gabriela, que lhe pediu para citar novos compositores, a Abelha Rainha não perdeu tempo: Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes. Aprovada com louvor essa conterrânea de Elis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário