Na década de 50, surge Doris Monteiro. Que petulância! Suas contemporâneas tinham muita voz e cantavam, como dizem, ‘pra’ fora. E eram excelentes por isso, é bom que se diga. Doris cantava suavemente. Que atrevimento surgir em uma época assim. Cantar de um jeito suave em meio a tantas vozes potentes era uma atitude muito corajosa. Seu estilo cool marcou época. Ela não só surgiu nesse tempo, como permaneceu e fez sucesso. As canções que Doris gravava tinham a leveza de seu canto. Eram perfeitamente adequadas à sua voz. De todas as suas interpretações, a de que mais gosto é Memórias do Café Nice, de Artúlio Reis e Monalisa, que traz de volta um Rio deliciosamente ingênuo: “Ah! Que saudade me dá/ Do bate papo / Do disse-me-disse / Lá do Café Nice / Ah! Que saudade me dá (...)”. Quem não se lembra dessa canção? Pois é, Doris é uma das responsáveis por sua perpetuação. Não há uma só pessoa que a ouça e não saia cantarolando-a imediatamente. Mudando de conversa, de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho, é mais um de seus sucessos: “(...) Mudando de conversa / Onde foi que ficou / Aquela velha amizade / Aquele papo furado todo fim de noite / Num bar do Leblon (...)”. Essa canção não poderia ter outra voz. A voz de Doris, para mim, traz uma saudade bem pueril. Como se fosse uma volta ao “paraíso perdido”. Ao centro do Rio, por exemplo. A voz de Doris me lembra tudo que é descrito na letra de Rio antigo, de Chico Anísio e Nonato Buzar: o carnaval com serpentinas; Oscarito e Grande Otelo no cinema; o bate-papo na esquina; crianças na calçada; Cinelândia; velho samba do Ataulfo; som de fossa da Dolores; valsa do Orestes; lampiões e violões. É nostalgia mesmo. É Confeitaria Colombo e as mais que famosas ruas do centro do Rio. Quando ouço Doris, lembro-me de muitos camafeus. A voz de Doris é um perfume suave depois de um banho tépido. É perfume na fronha dobrada. É aconchego ao pé da lareira. A voz de Doris é perfume de talco. É deliciosa a voz de Doris Monteiro, uma transgressora, antes de tudo.
ai, minha Doris querida.
ResponderExcluiruma das primeiras a regravar Sérgio Sampaio, a música "coco verde" numa versão samba-canção deliciosa.
to adorando esse blog. só pérolas lindas.
um beijo de gratidão
Que luxo sua visita, Caetano!
ResponderExcluirQue luxo seu aval! Admiro-o muito, meu querido.
Beijão,
Fábio
Ah! Também adoro "Coco Verde".
ResponderExcluirRecentemente, foram relançados em CD muitos discos da Doris. Consegui vários. Adoro!
Bjs,
Fábio