quinta-feira, 5 de maio de 2011

ETERNA LENY



Outra intérprete que sempre figurou entre as minhas preferidas é Leny Andrade, que é puro jazz.  Assim como Ithamara Koorax e Rosa Passos, é mais conhecida fora daqui. Aliás, é conhecidíssima em casas de jazz dos Estados Unidos. Desconfio de que ela vive mais lá do que aqui. Transgride quando, às vezes, briga e “dá de ombros” para um país que desvaloriza seus filhos mais ilustres. Já gravou dois discos impecáveis com o violonista Romero Lubambo e arrasou. Quando a ouvi cantando Acontece, do Cartola, segurei a respiração: “Esquece o nosso amor / Vê se esquece / Porque tudo no mundo / Acontece / E acontece que eu já não sei mais amar / Vai chorar, vai sofrer e você não merece / Mas isso acontece (...)”. De onde vem esse grave? Que lindo! É impossível não ouvir todo o disco em homenagem ao Cartola. Des-lum-bran-te! As rosas não falam, O mundo é um moinho (minha preferida do mestre), Alvorada... está tudo ali. Em Luz negra, homenagem a Nelson Cavaquinho, é impossível não ficar apaixonado com a gravação da própria Luz negra, de Nelson Cavaquinho e Amancio Cardoso: “Sempre só / Eu vivo procurando alguém / Que sofra como eu também / Mas não consigo achar ninguém (...)”. É beleza em excesso, não é? E outra de minhas gravações preferidas de Leny, Nem cais, nem barco, não está em um de seus discos, mas no Simples e absurdo, de Guinga e Aldir Blanc: “A chuva dessa tarde / Trouxe o Tito Madi / E apenas eu ouvia / Ah, o amor é estar no inferno ao som da Ave Maria”. Nossa, que pancada! Leny é rara. Tem uma técnica maravilhosa. Em seu disco com Cristovão Bastos, produzido por Almir Chediak e que faz parte do projeto Letra & Música, ela não deixou para mais ninguém ao interpretar canções do mestre Jobim. Quando ouvi Esquecendo você, foi impossível conter a emoção: “Eu vou ter que passar minha vida / Cantando uma só canção / Eu vou ter que aprender a viver sozinho / Na solidão (...)”. Quem ainda não ouviu A ilha, do Djavan, com ela, corra e ouça urgentemente! Há duas gravações, ambas com o César Camargo: uma em estúdio e outra ao vivo (esta no teatro Guaíra, em Curitiba). Só ouvindo. Emoção à flor da pele: “Um facho de luz / Que a tudo seduz por aqui / Estrela cadente reluzentemente / Sem fim (...)”. Adoro Leny Andrade... e faz muito tempo. 

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