terça-feira, 10 de maio de 2011

VASCULHANDO DORES E SAUDADES



Selma Reis passou a ser conhecida do grande público quando foi ao ar a minissérie ‘Riacho Doce’. Eu também a conheci nessa época. Ninguém esquece sua gravação visceral de O que é o amor: “O que é o amor / Onde vai dar / Parece não ter fim / Uma canção / Cheirando a mar (...)”. Que letra! Que melodia! Que voz! Tempos depois, descobri “Só dói quando eu rio” (1991), em vinil, que guardo com muito zelo. Ouvi-o muito. Sombra em nosso olhar (Smoke gets in your eyes), um clássico, ficou mais clássico ainda. A gravação ficou exuberante. De papo pro ar (Joubert de Carvalho / Olegário Mariano), outro clássico que também está nesse disco, também ficou excelente: “Não quero outra vida / Pescando no rio de gereré / Tem peixe bom / tem siri-patola / De dá com o pé (...)”. É a própria imagem da tranquilidade, da ausência total de sofrimento. É o nirvana mesmo. E a voz de Selma Reis reforça bem isso. É ela que nos conduz a esse paraíso. Em 1996, fiquei estupefato com “Selma Reis canta Gonzaguinha – Achados e perdidos”, uma obra-prima. De cara, a segunda faixa é um medley que reúne Simples saudade (“A saudade que eu sinto / Não é a saudade da dor de chorar / Não é a saudade da cor do passado (...)” e Sangrando (“Quando eu soltar a minha voz / Por favor entenda / Que palavra por palavra / Eis aqui uma pessoa / Se entregando (..)”. Arrepiante é pouco para descrever essa faixa. E a voz nos faz chorar literalmente. Ela ajuda a vasculhar dores e saudades guardadas há tempos, mas que só vêm à tona porque a voz é de Selma Reis. Em sua homenagem a Paulo César Pinheiro, “Selma Reis, a minha homenagem ao poeta da voz”, nossa diva passeia pelo repertório de outras divas, como Clara e Elis. E brilha alto também. Fecha o CD com Minha missão (João Nogueira / Paulo César Pinheiro), gravada pela Clara em 1981 e, recentemente, redescoberta por Mariana Aydar: “Quando eu canto / É para aliviar meu pranto / E o pranto de quem já tanto sofreu  (...)”. A voz  espetacular de Selma Reis alivia qualquer pranto.  Em seu Sagrado (2007), nossa poderosa Selma passeia por Mozart, Schubert, Handel, Gounod, entre outros. Da primeira à última faixa, pura emoção. É uma oração esse CD... e das mais nobres. Sem marcas de pieguice. Nobre é o canto de Selma Reis e ponto.

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