quinta-feira, 5 de maio de 2011

O FRESCOR DO CANTO



Carmem Costa é uma diva da chamada “era do rádio”. Dona de voz cálida e encantadora, foi casada com Henricão, aquele de “Marambaia” [“Eu tenho uma casinha lá na Marambaia / Fica na beira da praia / Só vendo que beleza (...)]”, um clássico da MPB. Em 1971, Carmem gravou um disco antológico, a meu ver: “Ziriguidum no sambão”, que tem, por exemplo, “Marcha do cordão do Bola Preta”, de Vicente Paiva / Nelson Barbosa: [“Quem não chora não mama / Segura, meu bem, a chupeta / Lugar quente é na cama / Ou então no Bola Preta (...)]” e “Está chegando a hora” [“Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai... está chegando a hora / O dia já vem raiando meu bem / Eu tenho que ir embora (...)”], que virou ‘hino’ em muitos estádios brasileiros.  Outro de seus grandes sucessos é "Quase", de Mirabeau e Jorge Gonaçalves, de que Clara Nunes gostava muito e que também mereceu registro de Bethânia em 1990 ("Maria Bethânia 25 anos"). Em 1974, quatro anos antes, portanto, do sucesso estrondoso de Bethânia, “Ronda” (Paulo Vanzolini) ganhou uma gravação não menos primorosa de Carmem Costa. É só conferir. Está no disco “A música de Paulo Vanzolini”, que ela divide com Paulo Marquez. Nesse disco, há outras obras indispensáveis do mestre Vanzolini, um dos grandes compositores paulistas. “Inveja” (P. Vanzolini), por exemplo, também registrada por Virgínia Rosa em um dos CDs que integram a caixa “Acerto de contas de Paulo Vanzolini”, tem uma letra excelente: “A inveja é a moeda que o mundo tem pra pagar o bem (...)”. Bela definição de inveja, não? Com a interpretação precisa de Carmem Costa, então, temos a certeza de que a inveja é isso mesmo. Não há dúvidas. “Falta de mim” (P. Vanzolini) também merece ser ouvida muitas vezes, tamanha é a beleza que emana do canto de nossa Carmem: “Vendo-te assim, com os puros sinais da falta de mim, / Em pleno apogeu, morrendo de tédio, / E o remédio sou eu (..)”. Que maravilha! Em 1980, nossa diva volta aos estúdios e registra, entre outras pérolas, a melhor gravação, segundo Aldir Blanc, responsável pelo texto do encarte, de “Sob medida”, de Chico Buarque: “Se você crê em Deus / Erga as mãos para os céu / E agradeça / Quando me cobiçou / Sem querer acertou / Na cabeça / Eu sou sua alma gêmea (...)”. Ficou linda mesmo. A voz está límpida, a dicção perfeita. Para esse mesmo disco, ela vai ao baú e resgata “Dama do Cabaret” (de 1936), do grande Noel Rosa: (“Foi num  cabaret da Lapa / Que eu conheci você (...)”. Carmem Costa deve figurar em qualquer lista - que se preze - de grandes intérpretes brasileiras. Seu canto tem um frescor incomparável.


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