quarta-feira, 4 de maio de 2011

POP E ATEMPORAL



Confesso que ‘demorei um tempo’ para descobrir Marina. Ou Marina Lima. A irmã do poeta Antonio Cícero, que tem muitos de seus versos consagrados na voz da irmã, chegou de mansinho e não saiu de meu “som”. A voz ‘rouquinha’ e sensual é apaixonante. Marina e sua guitarra: uma imagem transgressora para mim. Quando ouvi Virgem, uma das muitas parcerias Marina-Cícero, entreguei os pontos: “As coisas não precisam de você / Quem disse que eu / Tinha que precisar?(...)”. Podemos precisar desses versos a qualquer hora, não podemos? Com certeza, deles lançaremos mão na hora exata. Outra que me pegou de imediato foi Preciso dizer que te amo, de Cazuza, Dé e Bebel Gilberto: “(...) E até o tempo passa arrastado / Só pra eu ficar ao teu lado / Você me chora as dores de outro amor / Se abre e acaba comigo (...)”. E Marina acaba comigo cantando isso. Ninguém entoa essas palavras melhor que ela. E a gravação de Marina que mais me emociona é Não sei dançar, de Alvin L., em que só há voz e teclados: “Às vezes eu quero chorar / Mas o dia nasce e eu esqueço / Meus olhos se escondem / Onde explodem paixões / E tudo que eu posso te dar / É solidão com vista ‘pro’ mar (...)”. Sempre considerei maravilhosos esses versos. E a voz está carregada da emoção exata que a música pede. Marina soube encontrar o sentimento preciso para a interpretação. A voz está mais do que envolvente. Ela entendeu tudo. Ficou perfeita a gravação. Do mesmo disco de Não sei dançar, outro tiro certeiro foi Não estou bem certa..., versão de Pedro Pimentel e da própria Marina para Sign your name, de T. Trent D’Arby: “Tudo que eu pensei ser pra sempre / Eu já não sei se é mais / Penso na menina e fico atenta aos braços do rapaz / Vai que eu quero alguém diferente (...) Será que você será a dama que me completa? / Será que você será o homem que me desperta? (...)”. Excelente. Em tempos de questionamento dos absolutos, a canção é perfeita, tem a leveza exata, precisa e encontra ressonância em Na minha mão, de Marina e Alvin L.: “O fato é que eu já comecei / A olhar em outra direção / Se todo mundo é mesmo gay / O mundo está na minha mão (...)”. Ponto para Marina. Carente profissional, de Frejat / Cazuza, encontrou em Marina a intérprete adequada: “Tudo azul / No céu desbotado / E alma lavada / Sem ter onde secar / Eu corro, eu berro / Nem dopante me dopa / A vida me endoida (...)”. Eis os sempre fantásticos versos de Cazuza. Marina é pop, dizem. Para mim, Marina é atemporal. 

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