terça-feira, 3 de maio de 2011

NA VEIA



Rita Lee é roqueira no país do samba, o que já é uma ‘senhora’ transgressão. Rita sempre foi muito inteligente. Suas letras são simplesmente geniais. Minha preferida, Jardim de Allah, é pouco conhecida e está em um disco também pouco conhecido, Santa Rita de Sampa: “Dízimo com quem andas / E eu te direi quem és / Em terra de bom ladrão / Vão-se os dedos, ficam os anéis (...)”. Rita está no DNA do povo brasileiro. Quem nunca ouviu, e cantarolou, Mania de você (Rita Lee / Roberto de Carvalho), por exemplo? “Meu bem, você me dá / Água na boca / Vestindo fantasias / Tirando a roupa / Molhada de suor / De tanto a gente / Se beijar / De tanto imaginar / Loucura (...)”. Rita não perde o pique, não sai do tom. A cada disco, a qualidade e a genialidade são mantidas. Gosto da “sapequice” de Rita, do deboche, da ironia. Impossível não gostar de Xuxuzinho (Rita Lee e Roberto de Carvalho), por exemplo: “Procuro um gato, nesse mundo cão / Um candidato à vaga do meu coração! / Não precisa ser rico, basta me amar / Mas se tiver alguns dólares, não vou chorar / Papai do Céu, me dá um namorado / Lindo, fiel, gentil e tarado (...)”. Gosto muito também das letras de temática feminina, como Cor de rosa-choque, Todas as mulheres do mundo e Pagu, esta uma homenagem a Patrícia Galvão e que ela gravou em dueto com Zélia Duncan: “(...) Nem toda feiticeira é corcunda / Nem toda brasileira é bunda / Meu peito não é de silicone / Sou mais macho que muito ‘homi’ (...)”. Lembro que a primeira canção que ouvi com ela foi Coisas da vida, que fez parte da trilha da novela O casarão, de Lauro César Muniz, em 1976. Eu era pequeno, mas percebi poesia ali: “(...) Depois que eu envelhecer / Ninguém precisa mais me dizer / Como é estranho ser humano nessas / Horas de partida (...)”. Os “desejos”, ou os “quereres”, que há na letra de Baila comigo, da própria Rita, são o sonho de consumo de muita gente, meu principalmente: “Se Deus quiser / Um dia eu quero ser índio / Viver pelado pintado de verde / Num eterno domingo / Ser um bicho preguiça / Espantar turista / E tomar banho de sol (...)”. Que delícia! De uns tempos ‘pra’ cá, quando algo me irrita, não penso duas vezes para recorrer a Eu quero ser sedado, versão de Rita para I Wanna be sedated, de Joey Ramone, Dee Dee Ramone e J. Ramone: “Me leva pro aeroporto / Me bota no avião / Vamo, vamo, vamo, eu hoje tô o cão (...) Eu quero ser sedado (...)”. Adoro! É para a gente pôr para fora todos os demônios. Quero Rita Lee sempre, mesmo se eu estiver sedado. Quero Rita Lee na veia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário