segunda-feira, 2 de maio de 2011

CANTO 'LUMINOSO'


           
Quando ouvi Virgínia Rosa pela primeira vez, na casa de um amigo, não tive dúvidas: surgia mais uma de minhas paixões. O CD era “A voz do coração”, lançado em 2001. Para meu deleite, uma das faixas era nada mais, nada menos que o belíssimo samba “Pressentimento”, de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho: “Ai, ardido peito! / quem irá entender o teu segredo / Quem irá pousar em teu destino / e depois morrer de teu amor (...)”. Depois desse CD, fui à caça (lógico!) de outras maravilhas da moça. Encontrei “Batuque”, seu primeiro disco, de 1997, também de repertório irretocável. Entre as jóias, “Miragem do porto”, de Lenine e Bráulio Tavares: “Eu sou aquele navio / No mar sem rumo e sem dono / Tenho a miragem do porto / Pra reconfortar meu sono / E flutuar sobre as águas / Da maré do abandono (...)”. Depois, eis que descubro uma nova edição de “Samba a dois”, que traz “Chuva”, de Jorge Fernando, entre as faixas bônus: “As coisas vulgares que há na vida / não deixam saudades / Só as lembranças que doem / ou fazem sorrir / Há gente que fica na história / da história da gente / E outras de quem nem o nome / lembramos ouvir (...)”. Ouvi “ene” vezes essa canção e ainda ouço-a. Depois, outra preciosidade chega a mim: um CD em homenagem à obra do extraordinário Monsueto: “Baita negão”. Muitas das maravilhas desse compositor estão aí: “Me deixa em paz”, “A fonte secou”, “Mora na filosofia” “Lamento da lavadeira”... Só “classicões” da MPB! E, para minha surpresa, duas canções - também clássicas – mas menos lembradas: “Despejo da saudade”, também gravada por Angela Maria em 1962, e “Faz escuro, mas eu canto”, inspirada no poema “Madrugada camponesa”, de Thiago de Mello, e título de um de seus livros. Que parceria! As letras desses dois clássicos, e dos demais, são impecáveis. Em “Despejo...”, vamos encontrar: “Eu dei à saudade apenas pousada / Ela pensou que fosse moradia / Ah! coitada, ficou tão desapontada / Clareou o dia, foi despejada (...)”. E “Faz escuro...” também dispensa comentários: “Faz escuro, mas eu canto, / porque a manhã vai chegar. / Vem ver comigo, companheiro, / vai ser lindo / a cor do mundo mudar. / Vale a pena não dormir / para esperar / a madrugada cantar (...)”. Quanta beleza! Mesmo não havendo semelhanças em relação a timbre ou repertório, não sei o porquê de eu ter me lembrado da Clara Nunes. Já sei! Ambas pertencem à estirpe das que “cantam ‘pra’ fora”. O canto de Virgínia, assim com o de Clara, tem a ver com a luz do dia. É luminoso. É iluminado.

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