quarta-feira, 4 de maio de 2011

GENUÍNA TRANSGRESSÃO



Ângela RoRo  é uma das mais inteligentes cantoras e compositoras da MPB de todos os tempos, ouso dizer. Ângela é uma revolução. Causa estardalhaço essa moça. Presença avassaladora, é atrevida e irreverente. É transgressora no sentido mais genuíno da palavra. Não a algemem, por favor! Afastem dela os grilhões! Como ela mesma declarou, seus discos são poucos, mas de nenhum deles ela se arrepende, ou tem vergonha. Que cutucada! São todos – sem exceção – impecáveis. Com sua voz bluesy, RoRo arrepiou e arrepia. Lembro-me de ouvi-la, pela primeira vez, cantando Só nos resta viver na trilha de Coração alado, em 1980: “Dói em mim saber / Que a solidão existe e insiste no teu coração / Dói em mim sentir / Que a luz que guia o meu dia / Não te guia não (...)”. Fiquei encantado não só com os versos, mas também com o vozeirão grave (até então, Bethânia era uma das poucas referências de cantora com voz grave que eu tinha). Vânia Bastos regravou essa canção em Belas e feras. Em Prova de amor, um dos discos menos conhecidos de RoRo, há, por exemplo, Viciado em regras, que é uma pérola: “Não, eu não sirvo / De exemplo pra ninguém/ Eu troco até os acentos / Digo amem ao invés de amém”. O texto que ela diz como ‘introdução’ de Quero mais, de seu “ao vivo” de 1993, é impagável: “’Mais’ foi a primeira palavra que eu repeti intensamente na minha infância: ‘Maisi’, mamãe; ‘maisi’, mamãe. Fosse guaraná, fosse coca-cola, fosse coca, fosse cola, fosse amor ou desamor ou qualquer outra espécie de dor. Eu quero mais ser imortal. Quero ser o meu futuro ancestral. Quero mais tabacaria, mais pessoa, mais maria, mais vinho, mais poesia"(...)”. Impagável também é sua versão para Cambalache, de E. S. Discepolo, sucesso de Gardel, também gravado por Caetano: “El mundo fue y será uma porqueria, (...) Que falta de respeto / Que atropello a la razón: / Qualquiera es um señor / Qualquiera es um ladro (...)”. Está fantástica a interpretação desse tango debochado. No mesmo disco de Cambalache, Simples carinho, encontro outra pérola, Camisa-de-força: “(...) Quero ver a grande fila no final do mundo / Toda a gente se empurrando desse jeito imundo / Quero ver a sua cara olhar o viramundo / E Deus me atender primeiro, porque / sou vagabundo / Mas não faz mal, é dos loucos todo o céu (...)”. Merecemos Ângela RoRo, não merecemos? Ângela, já bem disseram, é “filha” de Maysa. Concordo plenamente.

5 comentários:

  1. Que confuso... Do jeito que você tenta explicar, me parece que a frase “Não, eu não sirvo / De exemplo pra ninguém/ Eu troco até os acentos / Digo amem ao invés de amém” pertence à canção "Viciado em regras", mas essa música nem se quer cita uma parte dessa frase...

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    1. Amigo(a), os versos aos quais você se refere são da canção "Viciado em regras", de Aleph D. Clic e Angela Ro Ro. Tais informações estão contidas no encarte do CD "Prova de amor" 935049 (P 1997 - C 1988), da gravadora Eldorado. Abraços.

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  2. Os versos pertencem, de fato, à letra de "Viciado em regras". Cito o título da canção e, depois, uso dois-pontos antes de transcrever os versos. Não vejo confusão aí. Trata-se de um texto despretesioso. Assim como outros, meu objetivo é fazer um pequeno comentário - em apenas um parágrafo - ressaltando cantoras que me comovem porque são, de aguma forma, transgressoras. Nesses comentários, cito versos de algumas canções que considero bonitas, inteligentes. Mais nada. No mais, abraços e obrigado pela visita ao 'blog'.

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  3. Acho que o anônimo não se apresentou... pq ele não tem certeza do que disse... não quer demonstrar falta de conhecimento... aliás, nem dê ouvidos Fábio... quem prefere ficar no anonimato sempre se espreita nas sombras (dos outros, é caro)... Até eu que sou mais bobinho conheço a letra da música!!!

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  4. Pois é, Fernando, não vejo nada de confuso no texto. Obrigado.

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