quarta-feira, 4 de maio de 2011

DIAMANTÍFERA



Áurea Martins, em 1969, venceu a quarta edição do programa A grande chance com nota máxima de todos os jurados, entre os quais estavam Maysa, o maestro Guerra Peixe e muitos outros nomes de peso. Depois, chegou a gravar alguns discos, que, hoje, são raridades de colecionadores. Também é outra transgressora. Assim como Alaíde Costa, seguiu cantando só o crème de la crème. Não aceitou rótulos ou imposições. Há uns anos, vendo-a na Modern Sound, em Copacabana, não resisti: fui conversar com ela. Disse-lhe que eu a conhecia desde 1969 e que seu CD Até sangrar é um dos mais lindos que já ouvi. Alcione tem razão quando diz, no texto do encarte que acompanha esse CD, que ele é “de giletar os pulsos”. Atrás da porta, por exemplo, que ela registrou no songbook do Chico, é de arrepiar. “Taí” mais uma gravação genial dessa canção: “Quando olhaste bem nos olhos meus / E o teu olhar era de adeus / Juro que não acreditei / Eu te estranhei / me debrucei / Sobre teu corpo / E duvidei (...)”. A voz extraordinária de Áurea Martins está a serviço do bom gosto, do requinte, da sofisticação. Ainda de seu Até sangrar, não dá para resistir a Sem mais adeus, de Francis e Vinicius, uma de minhas preferidas: “Nem a poesia, amor / Na sua ausência quis me receber (...)”. Tudo lindo: a dor na voz da Áurea, a letra do Vinicius e a melodia do Francis. Do mesmo Até sangrar, outra canção fundamental é Até quem sabe, de João Donato e Lysias Ênio, também gravada por Gal, Maysa e Nana: “Até um dia, até talvez, até quem sabe / Até você, sem fantasia, sem mais saudade (...)”. Quanta beleza! Migalhas, por exemplo, de Lupicínio Rodrigues, fiquei conhecendo nesse Até sangrar, embora Elizeth também a tenha registrado: “(...) A solidão quase me leva à loucura / De ir procurar a fartura / Que eu deixei no teu lar / Mas a chorar vejo na minha tristeza / Que eu não mereço as migalhas / Que caem da tua mesa”. Maravilha! Adoro! E por falar em Elizeth, há uma história de que a Divina, disfarçada de “mortal”, costumava sair de casa para ver Áurea Martins cantar. Que prestígio! Que luxo! Pois é, se a Divina era apaixonada por essa moça, quem há de dizer que ela não é, no mínimo, extraordinária? Essa intérprete maravilhosa não pode ficar sem gravar. Jamais! O canto de Áurea é imprescindível. Não dá para não ouvir todas as faixas repetidas vezes de seu depontacabeça (2010), outra obra-prima. As letras são todas de Hermínio Bello de Carvalho, outro craque. Áurea é, como diz Aldir Blanc, diamantífera. É isso aí: Áurea é um diamante. Deveria gravar todos os dias. 

2 comentários:

  1. Sou testemunha... do grande encontro com Áurea Martins... Fábio não mencionou, mas... ele foi até a mesa dela... conversou por uns instantes... logo depois... ela veio ao nosso encontro... e ficou conversando conosco à mesa que ocupávamos... que simplicidade!!! Cantora singular mesmo!!!

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    1. Fê, a Áurea Martins é um exemplo de simplicidade, assim como a Ithamara.
      Obrigado pela visita.

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