quarta-feira, 4 de maio de 2011

A VOZ DE 'NO TEMPO DOS QUINTAIS'



Quando ouvi Simone Guimarães pela primeira vez, pensei: parece a voz do Beto Guedes. É uma voz diferente, especial. Os graves e os agudos se misturam com muita naturalidade. Foi atração à primeira “ouvida”. Aguapé, de 1998, foi a primeira raridade dessa moça que me caiu no colo. Quanta beleza num disco só, pensei. Para início de conversa, nesse ‘Aguapé’, ela regravou No tempo dos quintais, de Paulinho Tapajós e Sivuca, uma das canções mais lindas que já ouvi: “Era uma vez / um tempo de pardais / de verde nos quintais / faz muito tempo atrás / quando ainda havia fadas / no bonde havia um anjo pra guiar / outro pra dar lugar / pra quem chegar sentar (...)”. Parece-me que toda a beleza do mundo está nessa letra. E a interpretação da Simone é mais que bonita: é pungente. Simone encontra a verdade da canção e, de fato, interpreta-a. Eis aí a diferença entre simplesmente cantar e interpretar. Simone é intérprete por excelência. Esse mesmo disco traz outra faixa soberba, Outras mulheres, de Joyce e Paulo César Pinheiro, já registrada pela própria Joyce: “Meu corpo é pedra em que nascem / corais, sargaços e líquen / que os homens todos me abracem / só quero aqueles que passem / não quero aqueles que fiquem (...)”. Logo depois, quando foi lançado o sogbook de Chico Buarque, entre 1997 e 1999, eis que, no vol. 8, surge Simone Guimarães, soberana, em Desencontro: “A sua lembrança me dói tanto / Eu canto pra ver / Se espanto esse mal / Mas só sei dizer / Um verso banal / Fala em você / Canta você / É sempre igual (...)”. É a faixa mais bonita do CD. E nem precisa dizer que Simone arrasou. Toda a discografia de Simone Guimarães é sofisticadíssima. Flor de pão, por exemplo, de 2007, traz, entre outras preciosidades, Ave Maria, ‘música de Thiago Amud sobre o texto tradicional em latim’. Em Casa de oceano, de 2003, há a presença luxuosa de Bethânia em Fogueteira, da própria Simone: “Rosa vermelha e generosa / quando foi que escolheste que um dia serias a rosa / toda sangrando no meu canteiro / e desvirginando meus olhos pra que fossem / seus companheiros”.  Nesse mesmo CD, trouxe de volta Retrato em branco e preto, uma das canções mais lindas da safra Buarque / Jobim: “Já conheço os passos dessa estrada (...)”. Linda a gravação. E olhe que passear por Jobim não é para qualquer um. Ah! Mais luxo: Milagre dos peixes, da dupla Milton / Brant, já registrada por Milton, ganhou uma gravação à altura de Simone Guimarães. Competente à beça essa moça!

6 comentários:

  1. Amigo Fábio, mande-me o seu endereço que eu mando-lhe um CD DE FADOS:
    Jose.douradinha@netvisao.pt

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  2. Obrigado, meu amigo. Adoro fados! Adoro Amália!
    Encaminhei o endereço via 'e-mail'.
    Abração,

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  3. queria agradecer a dedicação para este espaço virtual espontaneo. muito obrigada
    Simone Guimaraes

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    1. Simone Guimarães, é um luxo "tê-la" por aqui. Muitíssimo obrigado pelo comentário. Sou seu fã há muito tempo.
      Abração. Fábio Brito

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  4. Respostas
    1. Querida Simone, que bom reencontrá-la aqui. Continuo ouvindo-a bastante. "Clarice", por exemplo, não sai do carro. Bjs. e obrigado pela visita.

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