segunda-feira, 2 de maio de 2011

EM CARNE VIVA NO PALCO E NA VIDA


Falemos, pois, em Maysa. Maysa Monjardim, que também foi Matarazzo, como todos sabemos. Que cantora! Taí outra intérprete cuja voz vem das entranhas. Uma das mais cultas cantoras brasileiras. Educada nos melhores colégios, era perfeita quando cantava em outras línguas: francês impecável e inglês idem. Até canção do folclore turco ela gravou. Basta ouvir Usca dara. Jacques Brel, o compositor de Ne me quittes pas, declarou que, de todas as gravações dessa canção, a de Maysa é a melhor. Uh! É minha preferida. Está tudo impecável na canção: emoção à flor da pele, francês perfeito, arranjo luxuoso: “Ne me quitte pas / Il faut oublier / Tout peut s’oublier / Qui s’enfuit déjà / Oblier le temps / Des malentendus / Et le temps perdu (...)”. Foi o sofisticado tema de abertura da minissérie Presença de Anita. Ouvi pessoas dizerem que não conheciam, até então, a canção, que, como disse Lira Neto, é “quase um prefixo de Maysa”. Quando ela a cantou no Olympia, a casa “irrompeu em aplausos” e pediu bis. Nessa hora, dá um orgulho danado de ser brasileiro. Em seu último disco, ela resgatou Rasguei a minha fantasia, de Lamartine Babo: “Rasguei a minha fantasia / O meu palhaço / Cheio de laço e balão / Rasguei a minha fantasia / Guardei os guisos no meu / Coração (...)”. Mudou o andamento e tomou para si esse clássico do cancioneiro popular. Só os grandes intérpretes fazem isso. Ficou linda! Também desse disco, há uma regravação preciosa: Bloco da solidão, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, sucesso de Jair Rodrigues: “Angústia, solidão / Um triste adeus / Em cada mão / Lá vai meu bloco vai / Só deste jeito é que ele sai (...). Ficou altamente doída na voz de Maysa, que percebeu a intenção exata da canção. Nesse mesmo disco, encontramos outra pérola: Não sei, adap. de Aloysio de Oliveira para No other love, de Bob Russel e Paul Weston: “Hoje eu estou / Entre onde andei / Eu sou meio o que fui / E o que serei / E se perguntarem o que sei de mim / Eu não sei (...)”. Linda à beça! Assim como RoRo, Maysa também pertence à estirpe das genuinamente transgressoras: deixou para trás os salamaleques da tradicional família Matarazzo e se atirou no que sabia fazer melhor: cantar, cantar, cantar e cantar. E cantou como poucas. Da “família” de Dalva de Oliveira, também se entregava totalmente no palco. Emoção à flor da pele.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Thiago, pela visita ao 'blog'. Também amo Maysa. Esse texto é parte de um 'projeto' que pretendo concluir: em poucas palavras, comentar sobre intérpretes transgressoras da MPB e mostrar as interpretações que mais 'me' tocam, emocionam. Valeu!

      Excluir